Por: Helena Sousa Melo
hmelo@uac.pt
Professora Auxiliar
CMATI / Departamento de Matemática
Universidade dos Açores
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A parábola, em qualquer um dos seus dois
conceitos, existe há centenas de anos. Têm pelo menos 2000 anos. A palavra “parábola”
deriva da palavra grega parabole e pode ter como significado: “discurso
figurativo, palavra, comparação, aproximação”.
Por isso, o termo parábola é tanto
utilizado na literatura como na matemática.
Do ponto de vista literário, o termo
parábola significa “narrativa curta”. Assim, a parábola é uma narrativa
figurativa que utiliza situações e pessoas para comparar a ficção com a realidade,
e através dessa comparação transmitir uma lição de moral. Desse modo a parábola
transmite uma lição ética através de uma prosa figurada e de uma linguagem
simbólica. É um tipo de escrita muito comum na Bíblia.
Por utilizar uma narrativa figurativa, a
parábola é por vezes confundida com a fábula e o apólogo. Esses três tipos de
figuras de estilo são frequentemente confundidos entre si devido às grandes
semelhanças que possuem. Dois dos pontos em comum são a transmissão de uma
lição de moral e o intento de promover um melhor a humano. A parábola
diferencia-se da fábula e do apólogo por ser protagonizada por seres
humanos.
A palavra “fábula” deriva do verbo latino
fari, que significa “vozes do povo, boato, contar histórias, narrar”, assim,
fabula significa literalmente “o que é dito”. A fábula é um texto muito comum
na literatura infantil cujas personagens, geralmente animais, forças da
natureza ou objetos, apresentam características humanas, tais como a fala, oscostume,
entre outras, e a narrativa é algo de fantastático ou inusitado.
Por sua vez, a palavra “apólogo” tem sua
origem na palavra grega apologos e significa “narrativa pormenorizada”. O
apólogo pretende ilustrar um ensinamento de vida através de situações parecidas
com as reais, envolvendo quer pessoas, quer objetos ou animais. Assim, o
apólogo difere da fábula por se concentrar mais em situações reais, e não
fantásticas, e pelo facto de utilizar os animais como personagens. O apólogo
também difere da parábola porque trata de qualquer tipo de lição de vida, e não
só de questões religiosas e/ou lições éticas como a parábola.
Apresentamos um texto do escritor e
magistrado português José Francisco Trindade Coelho (18/6/1861 – 9/8/1908), que
consta da sua obra “Os Meus Amores” publicada em 1891, como um exemplo de
parábola.
“Parábola dos Sete Vimes
Era uma vez um pai que tinha sete filhos.
Quando estava para morrer, chamou-os todos sete e disse-lhes assim:
- Filhos, já sei que não posso durar
muito; mas antes de morrer, quero que cada um de vós me vá buscar um vime seco,
e mo traga aqui.
- Eu também? - perguntou o mais pequeno,
que tinha só 4
anos. O mais velho tinha 25, e era um
rapaz muito reforçado e o mais valente da freguesia.
- Tu também - respondeu o pai ao mais
pequeno.
Saíram os sete filhos; e daí a pouco
tornaram a voltar, trazendo cada um seu vime seco.
O pai pegou no vime que trouxe o filho
mais velho e entregou-o ao mais novinho, dizendo:
- Parte esse vime.
O pequeno partiu o vime, e não lhe custou
nada a partir.
Depois o pai entregou ao mesmo filho mais
novo, e disse-lhe:
- Agora parte também esse.
O pequeno partiu-o; e partiu, um a um,
todos os outros, que opai lhe foi entregando, e não lhe custou nada parti-los
todos.
Partido o último, o pai disse outra vez
aos filhos:
- Agora ide por outro vime e trazei-mo.
Os filhos tornaram a sair, e daí a pouco
estavam outra vez ao pé do pai, cada um com seu vime.
- Agora dai-mos cá - disse o pai.
E dos vimes todos fez um feixe, atando-os
com um vincelho.
E voltando-se para o filho mais velho,
disse-lhe assim:
- Toma este feixe! Parte-o!
O filho empregou quanta força tinha, mas
não foi capaz departir o feixe.
- Não podes? - perguntou ele ao filho.
- Não, meu pai, não posso.
- E algum de vós é capaz de o partir?
Experimentai.
- Não foi nenhum capaz de o partir?, nem
dois juntos, nem três nem todos juntos.
O pai disse-lhes então:
- Meus filhos, o mais pequenino de vós
partiu sem lhe custar nada os vimes, enquanto os partiu um por um; e o mais
velho de vós não pôde parti-los todos juntos: nem vós, todos juntos, fostes capazes
de partir o feixe. Pois bem, lembrai-vos disto e do que vos vou dizer: enquanto
vós todos estiverdes unidos, como irmãos que sois, ninguém zombará de vós, nem
vos fará mal, ou vencerá. Mas logo que vos separeis, ou reine entre vós a
desunião, facilmente sereis vencidos.
Acabou de dizer isto e morreu - e os
filhos foram muito felizes, porque viveram sempre em boa irmandade ajudando-se
sempre uns aos outros; e como não houve forças que os desunissem, também nunca
houve forças que os vencessem”.
Do ponto de vista da matemática referimos
que Pitágoras de Samos (cerca de 540 a.C.) e os seus discípulos, os
pitagóricos, utilizaram pela primeira vez o termo parábola, bem como os termos elipse
e hipérbole, para descrever uma relação no método da aplicação das áreas em
geometria, pois durante a resolução de um problema podia ocorrer que a base de
uma figura construída fosse menor, igual, ou maior, que a de um segmento dado.
Assim, usaramos termos elipse e hipérbole, para designar respectivamente, a
falta, ou o excesso, em relação ao segmento, e o termo parábola, quando não
havia falta ou excesso, indicando apenas uma comparação.
Observamos que os pitagóricos não
utilizavam esses termos com referência às secções cónicas, que só ocorre tempos
depois.
Na matemática, os conceitos são por vezes
mais importantes que a terminologia. Durante certa de 150 anos as curvas, em
geral, tinham descrições consoante o modo como foram descobertas. Segundo o
historiador Carl Boyer, Arquimedes de Siracusa (287 a.C.– 212 a.C.) continuou
usando as designações de elípse, hipérbole e parábola, mas foi o matemático
grego Apolónio de Perga (262a.C. – 194 a.C.), talvez seguindo a sugestão de
Arquimedes, quem introduziu esses termos para as secções cónicas. Como podemos notar,
os termos não foram inventados, mas sim, adaptados.
Em geometria, a parábola é uma curva plana
definida como o conjunto dos pontos que possuem a mesma distância a um ponto fixo
dado, denominado de foco, e a uma reta dada, que não contém o foco, denominada
de diretriz. A parábola possui um eixo de simetria e um vértice (figura 1). Ou,
por outras palavras, uma parábola é uma secção cónica gerada pela interseção de
um plano, estritamente paralelo à geratriz de um cone, com a superfície do cone (figura 2).
Considerando as coordenadas cartesianas em
um plano cartesiano, a equação geral tem a forma “a.x^2 + b.x.y + c.y^2 + d.x
+e.y + f = 0”, com determinadas condições para os valores reais a, b, c, d, e,
f, ou simplesmente, escrevermos a equação da respetiva função na sua forma
reduzida “f(x) = a.x^2 + b.x + c”, onde nessa forma o valor de a deve ser
diferente de zero, pois, caso contrário, teríamos uma função associada a uma
reta, e não uma função associada a uma parábola. De acordo com o valor de
coeficiente a ser positivo, ou negativo, a parábola será, respetivamente,
côncava ou convexa (figura 3).
Se consideramos uma parábola, com eixo de
simetria no eixo dos yy e vértice na origem do referencial cartesiano, g(x) =
a.x^2(figura 4) e uma parábola na forma f(x) = a.x^2 + b.x + c, podemos reescrever
f(x) tendo em atenção g(x), ou seja, obter “f(x) = g(x +k)^2 + m”. Desse modo,
podemos compará-las e saber quanto o gráfico relativo a f(x) se deslocou em
relação ao gráfico relativo ag(x). De acordo com o valor de k, f(x)
deslocar-se-á k unidades no
eixo dos xx (figura 5). Então, se k for
positivo, a parábola deslocar-se-á em sentido oposto ao sentido positivo do
eixo dos xx. E de acordo com o valor de m, f(x) deslocar-se-á m unidades no
eixo dos yy (figura 6). Logo, se m for positivo, a parábola deslocar-se-á no
mesmo sentido do sentido positivo do eixo dos yy.
Na parábola de equação f(x) = g(x + k)^2 +
m, o seu eixo de simetria possui equação x = - k e o seu vértice está no ponto
de coordenadas cartesianas V(-k, m) (figura 7).
Para as imagens nas figuras 5, 6 e 7 foi
considerada a parábola de equação f(x) = x^2 + 2.x – 1. Se consideramos g(x) =
x^2, então a parábola f(x) é reescrita como f(x) = (x + 1)^2 – 2, onde k admite
o valor de 1 e m adquire o valor de -2.
Há muitas aplicações práticas da parábola
e do parabolóide de revolução, decorrente, por exemplo, da rotação de uma
parábola em torno do eixo de simetria. Essas aplicações são encontradas sem
diversas áreas da física e da engenharia, como nas antenas parabólicas, em
espelhos, nos faróis dos carros – devido a sua propriedade refletora, nos
radares, entre outras. (figura 8).
Quem diria… algo tão antigo e tão útil nos
nossos dias.
in: Correio dos Açores, 17 de Dezembro de 2015
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