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ALMEIDA HENRIQUES in: Correio da Manhã |
Cada vez mais atónitos, os portugueses
assistem à sequela pós- -eleitoral, em modo de ‘slow motion’. Assim, nem parece
que temos 40 anos de democracia e um regime que funciona, como sempre
funcionou, fossem as maiorias ‘absolutas’ ou ‘relativas’. Admito com facilidade
que muitos, depois de verem o que viram, se sintam já arrependidos ou com um
sentimento de traição. A maior parte está dececionada, com medo e à beira da
frustração. Esperávamos todos um pouco mais de respeito. Mais respeito pela
opção ganhadora da maioria – não será afinal isso que define a Democracia? Mais
respeito pelas instituições, incluindo pela figura do Chefe de Estado, que fez
legitimamente a única indigitação para primeiro- -ministro que poderia ter
feito. Mais respeito pelos sacrifícios que tivemos de fazer para regenerar as
contas do País e recuperar o crédito externo, e que agora vemos malbaratar com
ligeireza por interesses mesquinhos de assalto ao poder. E um pouco mais de
respeito pela linguagem que se pratica. É que, como disse uma célebre ativista
americana, "as palavras podem ser tão poderosas como napalm…" A
"construção da realidade" atinge por vezes o patamar da ficção. É
razoável conceber à partida uma outra solução de Governo que não passe pela
força maioritária, que representa 37 por cento dos eleitores? É aceitável que o
PS patrocine uma moção de rejeição ao Governo quando, em troca, o que tem a dar
ao País é uma fantasia inviável? Alguém de boa-fé acredita que a
governabilidade venha de uma "esquerda" reconfigurada à pressa, sem
identidade e sem convergência que se conheça? E pode o PSD abrir novamente a
porta do diálogo ao PS quando se usa de uma hipocrisia negocial, namorando de
manhã uns e à tarde outros? Independentemente da tradição ou de novéis
interpretações parlamentaristas, o "país real" merece coisa bem
diferente. E, no entretanto, perde-se tempo, liderança e credibilidade. Há
investidores a decidir, reformas a atrasar e oportunidades a escapar. E o
‘PORTUGAL 2020’ a marcar passo. O País não pode hoje dar-se ao luxo nem de uma
guerrilha divisionista, nem de um devaneio governativo ou de um impasse de
liderança. Já dizia o apóstolo dos gentios: "Tudo me é lícito, mas nem
tudo me convém."
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