Caciques caiapós reunidos |
Vasco Pulido Valente - in Jornal Público
20/09/2015 - 11:12
O
dr. António Costa sabe que se perder em 4 de Outubro acabou politicamente.
Depois de ter assaltado o PS e corrido à má cara com Seguro para ganhar à
coligação, se não ganhar todo o azedume que contra ele se criou no partido virá
ao de cima e ele não se conseguirá aguentar uma hora como secretário-geral.
A
gente com que ele correu não esquecerá nem a brutalidade e a arrogância do
método, nem que ele foi eleito pelo voto dos “simpatizantes” socialistas (um
categoria indefinível) e não pelos “militantes” (uma categoria, pelos menos,
tradicional). Além disso, há Sócrates que, com razão ou sem ela, se sentiu
“posto ao lado” (José Lello) e traído e que só espera uma boa oportunidade para
o liquidar.
A
política não é um jogo pacífico e António Costa, que o sabe muito bem, não se
ilude com certeza sobre os perigos da sua situação. Uma única coisa o pode
salvar: conseguir a maioria absoluta para o PS. Mas presumivelmente, e apesar
da propaganda que se fez sobre o debate com Passos Coelho, não parece que
chegue lá. Não admira que perante o que, para ele, é a ingratidão e a cegueira
dos portugueses, Costa ameace agora arrastar o país consigo. Sem surpresa
nenhuma para mim, que estava à espera de um golpe destes, o admirável candidato
do PS anunciou anteontem solenemente no Seixal que não tencionava “viabilizar”
(ou sequer negociar) o orçamento de Estado da coligação. Ele não ignora as
consequências desastrosas para os portugueses desse acto suicida. Pelo
contrário. De qualquer maneira, prefere um desastre com ele do que um desastre
sem ele. Suceda o que suceder.
A
Constituição não permite ao Presidente Cavaco dissolver a Assembleia até ao fim
do seu mandato; ou que a Assembleia seja dissolvida nos primeiros seis meses do
dela. O que significa que Portugal será obrigado a viver sem orçamento (e por
duodécimos) no mínimo até Junho-Julho do ano que vem. O que lançaria as
finanças públicas num caos, sem falar nas reformas de qualquer tipo, que teriam
de ser metidas numa gaveta durante oito meses. Pior ainda, os mercados que hoje
nos sustentam a juros razoáveis não tornariam tão cedo a emprestar um tostão à
irresponsabilidade indígena.
Desde
a I República que não aparecia um cacique da envergadura do dr. Costa na cena
política portuguesa, pronto a meter o país no fundo por vaidade pessoal ou
conveniências partidárias. Apareceu anteontem. Pobres de nós.
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