quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Fusão dos jornais locais: estaria de acordo se...


Por: Barroso da Fonte


Bento Monteiro pseudónimo que não consigo identificar, mas que vem clarificando muita coisa errada que por cá se passa e se exerce, descaradamente, sem que haja consequências para  os seus autores, escreveu no quinzenário Notícias de Barroso de 17 de Agosto, mais de meia página, com verdades como punhos. Os pecadilhos que aborda já vêm de longe e resumem-se a fundamentalismos bacocos que seria fácil ultrapassar se não vingasse o ditado popular: «quem está com o poder come, quem não está nem come nem cheira». Esta prática já vem do Estado Novo. Mas extremou-se com os excessos democráticos ao longo dos quarenta anos de regime que levamos, cada vez mais corrompido e generalizado.
 Na minha longa carreira de jornalista (a caminho de 63 anos) de militância ativa, combati muito atrevimento, incomodei muito político (antes e depois da revolução de Abril), denunciei muita pulhice. Já fiz alguns desses registos no livro 60 anos de jornalismo de causas e casos (2013). Mas  nunca é excessivo repisar. Porque  uma das maiores  virtudes deveria ser a equidade social. E cada vez ela ganha mais terreno.
Algumas dessas arbitrariedades políticas tiveram consequências imediatas. Cito a denúncia que fiz no Jornal Notícias de Chaves, de 9 de Maio de 1970,  quando assinei o artigo: «Procuram-se 100 contos». A República transcreveu esse artigo que acusava a Câmara de Chaves de pagar 170 contos por um carro do lixo, quando esse carro, fora reconstruido há sete anos. E não valeria, agora, mais de 70. O carro recolheu ao armazém, o negócio foi desfeito e a Câmara recuperou os 100 contos. Estávamos no auge do chamado «fascismo».
Um segundo caso passou-se com a Universidade do Minho. Foi criada por Veiga Simão, em 1973. O ministério encomendou o projeto da sua localização à Profabril que apontou o Campus universitário das Taipas, no concelho de Guimarães. Distava a 17 km da cidade de Braga. Na  altura Braga era o dormitório de Guimarães e usufruía da influência dos seus gestores políticos. A verdade é que quando tudo estava a postos para iniciar as obras, de acordo com o parecer técnico, eis que as obras começam com o restauro de um velho edifício no Largo do Paço, na Rua do Souto, em Braga. Acabara eu de chegar a Guimarães, já na altura como correspondente do JN, funções que ai prossegui até 1982. Passei a escrever semanalmente no Notícias de Guimarães «os temas ao acaso». Nesses e noutros jornais fui aflorando «o assalto» que as politiquices fizeram à cidade, onde vivo e da qual vim a ser Vereador, a tempo inteiro e deputado Municipal. Durante doze anos, quer na CM quer na AM, sempre lutei contra esse tipo de arbitrariedades. A UM moveu-me um processo judicial que levou 6 anos a organizar. Quando já tinha julgamento marcado, tive conhecimento de que o Presidente da Comissão Instaladora da UM, tinha (ele) 2 processos, no TIC de Braga, tão melindrosos que se encontravam em segredo de Justiça. Nessa altura e, por esse motivo, o meu julgamento foi adiado sine die, isto é, até que fossem julgados aqueles dois. Como nunca foram julgados, aquele que era contra mim foi arquivado e o julgamento nunca se fez. Tive pena porque muitos catedráticos que vieram a ser, nunca lá teriam chegado. O tal arguido que me mandou processar, foi transferido para o Algarve. E lá morreu.
 Já na Câmara de Guimarães e como responsável dos Serviços Administrativos e do pessoal descobri uma fraude que durava desde 1974 e que já tinha custado 25 mil contos, atribuídos a 2 guardas campestres, fictícios, que eram promovidos, tinham férias, assistência médica etc.  Descobriu a fraude em 1986. Três anos depois, dois guardas florestais que haviam sido aliciados, foram condenados a 18meses de cadeia, com pena suspensa. Com denunciante e representando da Câmara lesada, fui ouvido em julgamento. Nesse local, onde nunca havia estado e nunca mais estive, pude depor: Senhores Juízes: estes guardas florestais não têm culpa dos milhares de contos deitados fora. Eu gostava de ver aqui, nos seus lugares, os responsáveis que, como chefes e decisores políticos, criaram e mantiveram tal situação durante 13 anos.
Um desses autarcas ainda  recentemente recebeu uma comenda das mãos do Presidente da República.
 Se tiver saúde e vida escreverei tudo isto, em próximos tempos, para memória futura.
Retomo as afirmações de Bento Monteiro exaradas  na página 5 da última edição de Notícias de Barroso.
Tenho moral para o afirmar publicamente, mesmo que continue a figurar na lista negra pela qual passei muitos anos. De resto não me dei bem com o exercício partidário. E, em 2011, desfiliei-me por razões culturais, do partido pelo qual fui eleito. Entre 1984 e 2009 assisti a muita injustiça, muita subjetividade e muita hipocrisia. Nunca esse partido tinha ganho ou voltou a ganhar as eleições em Guimarães.
A experiência que fiz nessa câmara, com 11 vereadores, com 14 milhões de contos de orçamento anual e com uma oposição verrinosa que apenas moderou os ímpetos quando lhe foram distribuídos pelouros, fez-me  ver que a política usa truques que serve muitos, mas desagrada a muitos mais. Percebendo que a impunidade democrática, em política de nível rastejante, vale mais do que todas as boas intenções, decidi produzir  despachos que vigoraram quatro anos. Dois deles tiveram a ver com o apoio a autores e artistas e também com os critérios de distribuição de publicidade a jornais, a associações concelhias e a obras de raiz. Ninguém contestou. Se  fossem aplicadas pela Câmara de Montalegre, Bento Monteiro, não teria razões para escrever o justo reparo que fez e que tem a máxima oportunidade. Nesse artigo, transcreve Bento Monteiro uma afirmação de Orlando Alves na última AM: «não espero nada da imprensa local, uma vez que os 3 são todos demasiadamente politizados. Deveriam fundir-se num só, onde todas as forças tivessem a oportunidade de se expressar».  O Presidente da Câmara reconheceu que os três  jornais do concelho de Montalegre são todos iguais, dando voz à opinião partidária que cada um proclama. O que não disse é que dois são pagos por aqueles que os escrevem, os pagam e têm que os fazer chegar aos seus leitores. Mas só um e, por sinal, o mais politizado e o pior dos três, recebe toda a publicidade institucional da Câmara, subsídios em horas de crise e colaboração técnica de funcionários municipais. É essa a réplica de Bento Monteiro, o que corresponde àquilo que sempre se passou com esse órgão oficioso do partido que gere a Câmara desde que Carvalho de Moura perdeu a presidência. «O que nos deve preocupar a todos – afirma Bento Monteiro – é a forma como os dinheiros públicos são aplicados e que muitas vezes favorecem «apenas os nossos». 

Como autarca com essa responsabilidade, deparei-me, em 1986, com o mesmo tipo de tratamento na Câmara de Guimarães, (urbana de 1ª classe e com dimensão  15 vezes maior). Em 21 de Abril de 1986 redigi e ordenei a aplicação imediata: «no fim de cada ano todos os cinco jornais do concelho terão que beneficiar de montantes aproximados de publicidade distribuída pela Câmara». Durante 4 anos, essa matéria foi cumprida rigorosamente e não houve quaisquer reclamações. Foi a igualdade de tratamento que falou mais alto, fossem de direita, de esquerda ou de centro. Proceda Montalegre (e todas as autarquias e governo) do mesmo modo e acabará com essa falsa maneira de aplicar a democracia a todos os cidadãos, sejam de esquerda, de centro ou de direita. Em política séria não vale tudo. Barroso da Fonte

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