sexta-feira, 10 de julho de 2015

Fiat lux (na Grécia)

ODISSEIA - Ciclope Polifemo lançando pedregulhos ao navio de Ulisses, que consegue escapar

Antes do referendo grego, comentadores, articulistas, analistas, jornalistas e quejandos, alardeavam aquilo que não sabiam. Após o referendo não alardearam nem deixaram de alardear. Comprometidos com as falácias das suas análises encomendadas e com os favores que prestam apresentam-se agora circunspectos e paternalistas, anunciando o fim do mundo.
Sejamos claros. O referendo grego, pelo seu sentido simbólico e político foi admirável. Mas só por isso, porque o actual governo grego não tem culpa alguma da situação lamentável (de puro terror) pela qual o povo grego passa. O sentido simbólico transporta-nos para aquilo que Shelley proclamou: somos “todos gregos”. Na perseguição da verdade acima da sobrevivência pessoal, através da matemática e do debate teórico especulativo. E esta perseguição da verdade que procede dessa remota luz jónica iniciou a grande jornada do Ocidente (George Steiner).
O governo de Tsipras é o antípoda daquilo que nós preconizamos para uma sociedade harmoniosa e justa, mas é o governo que os gregos elegeram. Enquanto não descambar para situações revolucionárias do tipo bolchevique, Guevara e outros, terá sempre o respeito das pessoas decentes.
Contudo, aqueles que agora deliram com os resultados do referendo que não tenham ilusões. A Grécia sofre um momento de guerra há cinco anos e os próximos cinco vão ser iguais ou piores. Porque a Europa tem regras e evolui com alguma lentidão. Só as revoluções pretendem uma evolução rápida na sociedade. Coisa que não é desejável. A natureza humana evolui, por natureza, lentamente. A pressa não trás bem algum. E os gregos vão ter que reformar o Estado (que nunca tiveram), para almejarem uma vida melhor, digna, humana.
Mas a Europa, por seu lado, também perdeu as suas (ilusões), porque sabe que o resultado deste referendo a arrastou para duas décadas (pelo menos) de “má vida”. É pois urgente, que à dimensão económica (concretamente do dinheiro) seja acrescentada a dimensão politica. Já foi dado o primeiro sinal quando a última assembleia europeia reuniu os primeiros-ministros e só depois os ministros das finanças. A Europa aprende depressa, mas evolui devagar. Fiat lux.
Armando Palavras

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