ODISSEIA - Ciclope Polifemo lançando pedregulhos ao navio de Ulisses, que consegue escapar |
Antes do referendo grego, comentadores, articulistas, analistas, jornalistas e quejandos, alardeavam aquilo que não sabiam. Após o referendo não alardearam nem deixaram de alardear. Comprometidos com as falácias das suas análises encomendadas e com os favores que prestam apresentam-se agora circunspectos e paternalistas, anunciando o fim do mundo.
Sejamos claros. O
referendo grego, pelo seu sentido simbólico e político foi admirável. Mas só
por isso, porque o actual governo grego não tem culpa alguma da situação
lamentável (de puro terror) pela qual o povo grego passa. O sentido simbólico
transporta-nos para aquilo que Shelley proclamou: somos “todos gregos”. Na
perseguição da verdade acima da sobrevivência pessoal, através da matemática e
do debate teórico especulativo. E esta perseguição da verdade que procede dessa
remota luz jónica iniciou a grande jornada do Ocidente (George Steiner).
O governo de Tsipras é
o antípoda daquilo que nós preconizamos para uma sociedade harmoniosa e justa,
mas é o governo que os gregos elegeram. Enquanto não descambar para situações
revolucionárias do tipo bolchevique, Guevara e outros, terá sempre o respeito
das pessoas decentes.
Contudo, aqueles que
agora deliram com os resultados do referendo que não tenham ilusões. A Grécia
sofre um momento de guerra há cinco anos e os próximos cinco vão ser iguais ou
piores. Porque a Europa tem regras e evolui com alguma lentidão. Só as
revoluções pretendem uma evolução rápida na sociedade. Coisa que não é
desejável. A natureza humana evolui, por natureza, lentamente. A pressa não
trás bem algum. E os gregos vão ter que reformar o Estado (que nunca tiveram), para
almejarem uma vida melhor, digna, humana.
Mas a Europa, por seu
lado, também perdeu as suas (ilusões), porque sabe que o resultado deste
referendo a arrastou para duas décadas (pelo menos) de “má vida”. É pois
urgente, que à dimensão económica (concretamente do dinheiro) seja acrescentada
a dimensão politica. Já foi dado o primeiro sinal quando a última assembleia
europeia reuniu os primeiros-ministros e só depois os ministros das finanças. A
Europa aprende depressa, mas evolui devagar. Fiat lux.
Armando Palavras
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