Barroso da Fonte |
Vou explicar isto bem para ver se
alguns leitores menos esclarecidos não baralham o simbolismo histórico de
Portugal e de quem fez dele um Império de quase 900 anos.
Portugal, como país independente,
resultou da vitória na Batalha de S. Mamede que teve lugar no dia 24 de Junho de
1128. Completou, portanto, 887 anos no dia 24 do mês findo.
Em Portugal foi feriado nalgumas
vilas e cidades, por ser dia de S. João. Só Guimarães o guardou por representar o Dia UM de Portugal. Que pena
trocar uma festinha popular pelos anos da Pátria!
Recentemente o governo mexeu nos
feriados e dias santos. E acabou com alguns, nomeadamente com o dia 1º de
Dezembro, alusivo à Restauração de Portugal, em 1640. Ora apenas se restaura
algo que já existiu, que nos foi útil, que fez ou faz parte da história de
povos, de instituições, de comunidades. Quando se deu a restauração, já
Portugal existia há 512 anos. Por isso é uma data sugestiva mas nunca para
celebrar o seu nascimento. Isto é tão óbvio que «branco é galinha o põe».
Nunca as cabeças pensantes deste país
tiveram força moral bastante para fixar as datas fundamentais de Portugal.
Heróis para umas coisas, bacocos para outras!
O deputado Ribeiro e Castro, do CDS/
PP, empenhou-se em «salvar» pelo menos, o dia 1 de Dezembro. E como essa
proposta pretendia honrar o legítimo nacionalismo, obteve os votos favoráveis
para ficar na História da cronologia Portuguesa. Associo-me a essa recuperação,
sem perder de vista que ambos os feriados se justificam. Mas, perante o dilema:
entre o 24 de Junho e o 1º de Dezembro, é evidente que opto pelo primeiro. Se
foi essa a «Primeira tarde Portuguesa» como a Academia consagrou, qual o motivo
por que há-de aceitar-se uma data secundária, de um país que tem 887 e não 375
anos? Chamar dia de Portugal ao dia 1 de Dezembro de 1640, é desprezar 512 anos
da existência de História, nomeadamente das muitas e decisivas batalhas: S.
Mamede, Ourique, Arcos de Valdevez,
Aljubarrota, Tomada de Ceuta, descoberta do Brasil, da Índia e da África.
Podem alegar alguns mercantilistas da
história que Portugal deveria contar apenas depois da consolidação e expansão da presença
portuguesa em terras brasileiras na centúria de Setecentos. «Nessa altura
levantou problemas a definição fronteiriça com a área de influência espanhola
no continente sul americano, uma vez que os limites impostos pelo velho Tratado
de Tordesilhas (linha meridiana situada a 370 léguas a oeste de Cabo Verde) já
não se adequavam às novas realidades de ocupação do território. Esta situação,
potencialmente perigosa e geradora de conflitos entre as potências ibéricas
conduziu à necessidade de negociações com Espanha, por forma a alterar esse
limite. O resultado dessas negociações viria a dar origem ao denominado Tratado
de Madrid, também conhecido por Tratado dos Limites, assinado em 1750. Do lado
português as negociações foram conduzidas por Alexandre de Gusmão que conseguiu
a alteração dos limites impostos em Tordesilhas em troca da cedência à Espanha
da colónia de Sacramento, na margem esquerda do rio da Prata, ficando assim
estabelecidas, nas suas linhas essenciais, as atuais fronteiras do Brasil.
Outros apelam à batalha de Aljubarrota».
Em
1990 ergueu-se em Viseu a voz de A. de Almeida Fernandes, de que o nosso I rei
nascera naquela cidade, em 5 de Agosto de 1109, para o que negou a existência
do segundo Condado Portucalense, heresia maior do que a Serra da Estrela e que
foi adotada pelo seu genro e seus alunos da
Universidade Nova de Lisboa. Desde 2009 empunhámos espadas que não foram
precisas para derrotar esses contágios que chegaram à Presidente da Academia de
História a ameaçar a troca de manuais escolares. Tanta leviandade, tanta
estultícia e tanta subserviência, em gentalha que muda de ideias como quem muda
de camisa.
É evidente que o segundo Condado Portucalense (1096-1128) existiu.
Foi com o casamento dos pais que esse Condado foi devolvido, tal como tinha
terminado na Batalha de Pedroso, em 1071, pelo pai de D. Teresa. E essa tontice
de nascer em 5, 6 ou 15 de Agosto, em Viseu «pátria distrital do autor da teoria»,
foi uma deplorável demonstração de que alguns «estoriadores» do tempo do PREC,
contaminaram a historiografia Portuguesa.
Ensinem os profissionais da educação, aquilo que aprenderam nas
escolas purificadas pela tradição e pela dedução das provas. Quando remendos
mal ajustados, pretendam viciar o que de mais transparente, mais intuitivo e
mais racional, impõe-se que se evitem esses remendos, na História de um Povo
com tão bela e grandiosa epopeia.
Fiquem os meus leitores descansados: Afonso Henriques nasceu em 25
de Julho, dia de Santiago, no preciso dia, mas do ano de 1139, em que ele
venceu os cinco reis mouros, na Batalha de Ourique. Esta é uma certeza sobre o
dia e o mês. Acerca do local e do ano as probabilidades são da ordem dos 99%: Guimarães: 1111.
Até hoje nenhuma prova, em contrário, foi descoberta. Mesmo que
novos doutores daquela instituição insistam em propalar teses e mais teses que
têm por base a famélica teoria, nada existe que possa contrariar a tradição.
É com
esse argumento que um punhado de cidadãos descomprometidos com a política, com
os malabarismos editoriais e nacionalismos saloios, desde o ano 2011, assinala
em Guimarães, de 24 para 25 de julho
esta efeméride.
Barroso da Fonte
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