A qualidade de um livro está
normalmente expressa nas suas primeiras três páginas. E em alguns, logo no
primeiro parágrafo. “Samarcanda”, de Amin Maalouf, é um desses. Lido há cerca
de vinte anos (por altura em que foi dado à estampa), marcou-nos profundamente.
E a ele voltámos hoje pelas circunstâncias globais que atiram o ISIS (e as suas
atrocidades) para as páginas da imprensa mundial.
Samarcanda é uma cidade encoberta
pela lenda, pelo mito. E é por essas razões que Maalouf antes de iniciar a narrativa
incrusta uma tirada de Edgar Allan Poe (1809-1849): “E agora passeia o teu
olhar por sobre Samarcanda! Não é deveras rainha da Terra! Altiva, acima de
todas as cidades, e nas mãos dela os seus destinos?”. Logo de seguida, a jeito
de preâmbulo, diz-nos: “No fundo do Atlântico, há um livro. É a sua história
que vou contar”. E conta-a, retirando-lhe um dos poemas de Omar Khayman:
“Que homem jamais transgrediu a
Tua Lei, diz-me!
Uma vida sem pecado, que gosto
tem ela, diz-me!
Se punes pelo mal o mal que eu
fiz,
Qual é a diferença entre Ti e
mim, diz-me!”.
O incidente inicial que Omar
Khayman presencia, cujo protagonista Jaber, o
Longo, discípulo de Avicena (Abu-Ali) é açoitado por uma turba de fanáticos
num entardecer, junto das duas tabernas de Samarcanda, irá dar origem, no Verão
de 1072, ao manuscrito dos robaiyat.
Armando Palavras
O autor
Amin Maalouf é jornalista e
romancista libanês. Venceu o Prix des Maisons de la Press, o Prémio Goncourt e
o Prémio Príncipe das Astúrias.
A maior parte dos seus livros têm
um cenário histórico onde mistura os factos com a ficção.
Escritas com a habilidade de um poderoso contador de histórias, as obras de Maalouf exploram valores e comportamentos da diversidade cultural do Médio Oriente, de África e do mundo mediterrânico.
Sem comentários:
Enviar um comentário