sábado, 13 de junho de 2015

SAMARCANDA de Amin Maalouf


 A qualidade de um livro está normalmente expressa nas suas primeiras três páginas. E em alguns, logo no primeiro parágrafo. “Samarcanda”, de Amin Maalouf, é um desses. Lido há cerca de vinte anos (por altura em que foi dado à estampa), marcou-nos profundamente. E a ele voltámos hoje pelas circunstâncias globais que atiram o ISIS (e as suas atrocidades) para as páginas da imprensa mundial.
Samarcanda é uma cidade encoberta pela lenda, pelo mito. E é por essas razões que Maalouf antes de iniciar a narrativa incrusta uma tirada de Edgar Allan Poe (1809-1849): “E agora passeia o teu olhar por sobre Samarcanda! Não é deveras rainha da Terra! Altiva, acima de todas as cidades, e nas mãos dela os seus destinos?”. Logo de seguida, a jeito de preâmbulo, diz-nos: “No fundo do Atlântico, há um livro. É a sua história que vou contar”. E conta-a, retirando-lhe um dos poemas de Omar Khayman:

“Que homem jamais transgrediu a Tua Lei, diz-me!
Uma vida sem pecado, que gosto tem ela, diz-me!
Se punes pelo mal o mal que eu fiz,
Qual é a diferença entre Ti e mim, diz-me!”.

O incidente inicial que Omar Khayman presencia, cujo protagonista Jaber, o Longo, discípulo de Avicena (Abu-Ali) é açoitado por uma turba de fanáticos num entardecer, junto das duas tabernas de Samarcanda, irá dar origem, no Verão de 1072, ao manuscrito dos robaiyat.
Armando Palavras

O autor
Amin Maalouf é jornalista e romancista libanês. Venceu o Prix des Maisons de la Press, o Prémio Goncourt e o Prémio Príncipe das Astúrias.
A maior parte dos seus livros têm um cenário histórico onde mistura os factos com a ficção.
Escritas com a habilidade de um poderoso contador de histórias, as obras de Maalouf exploram valores e comportamentos da diversidade cultural do Médio Oriente, de África e do mundo mediterrânico.


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