Barroso da Fonte |
Em
10/06/2005 a Jornalista Fernanda Ribeiro assinou no Público e, em
título: «Jorge Sampaio atribui 59 condecorações». Explicava-se, desta forma: «O que podem ter
em comum Catarina Furtado, o constitucionalista Gomes Canotilho, o
juiz-conselheiro Jaime Cardona Ferreira, o sindicalista João Proença, o
treinador de futebol José Mourinho e o ex-ministro da Agricultura Armando
Sevinate Pinto? Os pontos comuns podem até nem existir, mas todos eles
vão estar em Guimarães, onde decorrem as comemorações do Dia de Portugal, de
Camões e das Comunidades Portuguesas, para serem condecorados por Jorge
Sampaio. Entre os homenageados constam dois irmãos, médicos de Guimarães, José
Cotter e Jorge Cotter, primos do Presidente da República, que vão receber a
Ordem de Mérito, distinção que galardoa atos ou serviços meritórios praticados
no exercício de funções públicas ou privadas ou que revelem desinteresse e
abnegação em favor da coletividade. Com estas 59 medalhas, distribuídas por
várias áreas, elevam-se para 1484 o número de condecorações atribuídas pelo
atual Presidente da República, que está ainda longe de ser o que mais medalhas
distribuiu, área em que o ex-Presidente Mário Soares foi o mais generoso, com
um máximo de 2448. Ramalho Eanes atribuiu 1952».
Em 2015, voltou a ler-se: «Neste ano, Cavaco Silva vai homenagear, de um rol de mais de 47
personalidades. Não é defeito deste presidente, é um vício de forma transversal
aos titulares do cargo. Um bom chefe de Estado que se preze tem de condecorar
como se não houvesse amanhã. É quase impossível encontrar um português que
apareça amiúde na televisão que não tenha sido distinguido por Belém».
Consulto relatos anteriores. «O 10 de Junho, como outras datas com um
caráter marcadamente formalista, serve sobretudo para o Poder Político dar umas
palmadinhas nas costas da sociedade civil, massajar o ego aos nativos do
interior e passar recados para Lisboa, os quais, face à ausência de assuntos,
ganham inusitada eficácia mediática». Neste ano, Cavaco Silva condecorou 47
personalidades, só no dia 10 de Junho: ex-ministros, estilistas, músicos,
cientistas, empresários... «Não é defeito deste presidente, é um vício de forma
transversal aos titulares do cargo. Um bom chefe de Estado que se preze tem de
condecorar como se não houvesse amanhã». Ramalho Eanes quis ser generoso quando o país dava os
primeiros passos em liberdade. Mário Soares quebrou todos os recordes entre os
quatro Presidentes da República eleitos no pós-25 de abril. Mas foi Jorge
Sampaio quem ficou conhecido como “rei das medalhas”, epíteto que lhe chegou a
valer, em 2006, uma manchete no extinto jornal 24 Horas –“Sampaio está a acabar
com as medalhas a este homem. As condecorações encomendadas pela Presidência
estão a entupir a oficina de Francisco Barreiro”.
A Cavaco Silva só restava imitar Sampaio que condecorou o padeiro, o
porteiro, o ardina, o mandatário... Cavaco lembrou-se do Carlos Gil. Não aquele
que foi meu professor de xadrez mas o costureiro de Maria Cavaco. Nenhum Transmontano: nem o Padre
Fontes, das bruxas e das queimadas, nem o Amadeu Ferreira, da Língua Mirandesa,
nem sequer o imaculado livreiro, Nuno Canavez! Que mal lhe terão feito os
Transmontanos que sempre se vergaram à sua passagem, que nunca o barricaram nas
picadas do salazarento alcatrão que teima em prevalecer, nos ziguezagues da 103
e nos fundos comunitários para a agricultura que sempre foram desaparecendo nas
fábricas têxteis do Vale do Ave?
Tão fieis te foram e tão mal os
trataste, ao longo de tantos anos no poder que te entregaram, de olhos
fechados...
Barroso da Fonte
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