Shengen, a imigração descontrolada e o jihadismo europeu ...
José Loureiro dos Santos (Tenente-general) in: jornal Público |
1. Como se sabe,
no território Shengen (cidade onde foi aprovado pela União Europeia o acordo
que o estabeleceu) é permitido o livre-trânsito para todos os cidadãos
europeus, não sendo portanto submetidos a controlo nas fronteiras terrestres.
Poderá esta
situação provocar efeitos susceptíveis de gerar a entrada de imigrantes sem
controlo capazes de aumentar os problemas de desemprego que caracterizam alguns
dos países europeus, particularmente os do Sul do continente, multiplicando o
número de miseráveis e/ou fazendo subir as despesas desses Estados com medidas
de segurança social? E poderão existir jihadistas europeus em alguns países que
tenham a possibilidade de atravessar fronteiras com a finalidade de levar a
efeito “safaris” jihadistas noutros países da Europa?
Relativamente
aos imigrantes que buscam o território europeu para viver, na sua esmagadora
maioria são refugiados da África subsaariana que buscam o Mediterrâneo com a
finalidade de o atravessar, frequentemente em frágeis embarcações, repletos e
instáveis, com muitos deles a afogar-se, e ainda por cima pagando a traficantes
e contrabandistas quantias generosas para embarcarem.
Os milhares de
africanos que procuram o “paraíso” europeu enxameiam campos de refugiados na
Grécia e Itália, assim como em Malta e será difícil senão impossível recebê-los
e integrá-los nonos países do continente. Perante a proposta do Junhker,
Presidente da Comissão Europeia, para os dividir pelos diversos países, apesar
de buscarem principalmente a Alemanha e a Suécia, em função dos respectivos
PIB, nível de desemprego e habitantes, vários países discordaram. Para já,
ouviram-se declarações do Reino Unido, França e Hungria nesse sentido. E
desconhece-se se alguns (poucos ou muitos) não são jihadistas, por exemplo
combatentes do Estado Islâmico (EI) disfarçados de refugiados pacíficos.
Têm vindo a
lume várias soluções alternativas. Aquela que já se encontra em vigor consiste
em actuar atempadamente, na altura do seu embarque, utilizando meios aéreos e
navais, neutralizando os contrabandistas e traficantes e as próprias
embarcações e salvar os refugiados que consigam aventurar-se no mar,
colocando-os em campos de refugiados. A localização destes campos poderá ser em
países europeus ou então, como já foi avançado, nos países do Norte de África,
embora com a Europa a assumir os correspondentes custos.
Na minha
opinião, a solução mais eficiente, já que as outras não resolvem completamente
o problema, havendo sempre falhas a apontar, e com o inconveniente de serem
soluções aparentemente sem fim, seria fechar a “porta líbia”, que é de facto a
área por onde passa a esmagadora maioria. Enquanto a Líbia continuar como um
Estado falhado, portanto com um território sem controlo, dividido entre dois
governos (um em Tripoli outro em Tobruk) e pejado de grupos terroristas
diversos, entre os quais elementos afectos ao Estado Islâmico. Só uma operação
militar, também terrestre, que consiga transformar a Líbia num Estado viável e
capaz de controlar o seu território. Só assim será possível fechar
definitivamente a “porta” por onde vagas e vagas de pessoas passam das zonas
pobres e permanentemente em conflito do continente africano.
É o momento de
recordar a afirmação de Kadafi, segundo a qual, se fosse afastado, seria
substituído por terroristas. Palavras verdadeiramente premonitórias…
Até que ponto a
liberdade da circulação terrestre em todo o espaço da União Europeia, à luz do
Tratado Shengen, aumentará as probabilidades de todos estes imigrantes poderem
ter acesso aos países não marginais do Mediterrâneo? Uma vez que a resposta a
esta questão é necessariamente positiva, como se deduz de tudo o que foi dito,
terá este cenário algo ou mesmo muito a ver com o significativo reforço
ocorrido em recentes eleições dos partidos nacionalistas, antieuropeístas e
anti migração? Penso que terá acentuado estas tendências.
A resposta a
este tipo de ameaças não necessita não exige o fim do acordo Shengen, para já,
enquanto elas não forem mais frequentes e/ou alcançarem níveis de intensidade
mais elevados, desde que, em momentos inesperados, sejam feitos controlos
rigorosos a todas as movimentações pelas vias terrestres. Apesar de haver quem
advogue o seu controlo imediato, especialmente por pressão dos partidos
nacionalistas, anti-imigrantes e antieuropeístas.
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