A teorização política
foi uma criação grega. Terá começado com os Sofistas, deixando sinais claros na
tragédia grega, tanto na Antígona de
Sófocles como n’As Suplicantes e n’As Fenícias de Eurípides. N’As Suplicantes (vv.405-408), o
dramaturgo resume a essência da polis
ateniense:
“ … a cidade é livre.
O povo é soberano,
através de magistrados
que em cada ano se
sucedem. Não se atribui privilégio
à riqueza; o pobre tem
os mesmos direitos”.
Embora se admita que
este género de debate tenha iniciado com Protágoras, o texto mais antigo que a
nós chegou de teorização política é de autoria de Heródoto que situa a
discussão em 522 a. C., na Pérsia, conhecida como “Diálogo dos Persas”, cujas
palavras aí proferidas deixou os próprios Gregos incrédulos, porque as acharam
inacreditáveis.
Contudo, os verdadeiros
teorizadores da matéria foram Platão e Aristóteles. O texto do primeiro, figura
nos Livros VIII e IX d’A Republica e
até mesmo n’O Politico. O texto do
segundo está expresso na Politica.
Mas é Péricles,
estratego ateniense, que eleva a alma grega à altura das estrelas e lhe dá
brilho quando profere o elogio fúnebre
aos ancestrais, rendendo-lhes homenagem. Nele resume tudo o que havia sido escrito
pelos teorizadores. Foi relatado por Tucídides, na História da Guerra do Peloponeso (Cap.VI, 37). Serviu de Preambulo à Constituição Europeia 2500 anos
depois, e de vez em quando, à míngua surge aqui e ali.
Numa feliz ideia dos
responsáveis do IAVE (Instituto de Avaliação educativa, IP), um trecho do mesmo
serviu para avaliar os conhecimentos dos alunos que prestaram prova de exame na
disciplina de História e Cultura das
Artes. Surgiu também na Prova de Equivalência à Frequência de História do
3º Ciclo do Ensino Básico, em determinadas escolas.
São óbvias as razões
porque damos esta importância ao caso, depois de anos seguidos a obscurecer o
conhecimento dos clássicos no ensino. Mas não basta promove-los. É preciso
fazê-lo com rigor e zelo. Porque para além das décimas e das centésimas, das
estatísticas, da pedagogia e das avaliações, o rigor na Educação está na visão
e postura humanistas, na transmissão de conhecimento, de uma ideia ou de um
argumento, o mais fiel à fonte.
Se compararmos os dois
trechos de exame, chegamos à conclusão que são duas versões. Os textos, embora
resumam a essência, na verdade são diferentes. Vejamos:
1 - Versão da prova de
exame da disciplina de História e Cultura
das Artes, retirada de http//funag.gov.br, pp. 109-111 (adaptado) –
consultado em novembro de 2014.
“ Vivemos sob uma forma
de governo que não se baseia nas instituições dos nossos vizinhos; ao
contrário, servimos de modelo a alguns, ao invés de imitarmos outros. O seu
nome, como tudo depende da vontade da maioria e não da vontade de poucos, é a
democracia. Nela, no que diz respeito às leis, todos são iguais […], não é o
facto de se pertencer a uma classe, mas o mérito, que dá acesso aos cargos mais
honrosos; inversamente, a pobreza não é razão para que alguém, sendo capaz de
prestar serviços à cidade, seja impedido de o fazer pela obscuridade da sua
condição […] Somos amantes da beleza sem extravagâncias e amantes da filosofia
sem indolência. […] Numa palavra, afirmo que a nossa cidade, no seu conjunto, é
a escola de toda a Hélade [Grécia] ”.
2 - Versão da prova de
Equivalência à Frequência de História do 3º Ciclo do Ensino Básico, retirada do
teste intermédio do GAVE – 2011.
“Temos um sistema político
que não é decalcado da legislação dos nossos vizinhos. Somos mais um exemplo
para alguns do que imitadores do que se faz noutros lugares. O seu nome? Como é
um regime concebido não para satisfazer uma minoria, mas da massa, chama-se
democracia. Pelas nossas leis, quando os interesses particulares são
divergentes, todos são considerados cidadãos iguais (…) A pobreza não conta: se
alguém pode prestar serviços à Cidade, não é a humildade da sua condição que
disso o impede. É como homens livres que nós administramos o Estado. Entre nós,
podem os mesmos homens ocupar-se simultaneamente dos interesses públicos e
privados; os que se dedicam às tarefas artesanais podem conhecer
suficientemente a política. Somos os únicos a considerar o individuo que não
toma parte nesta, não como um amante da tranquilidade, mas como um inútil (…)”.
Existe uma enormidade
de traduções deste trecho. Chamamos a atenção para as de Violane Vanoyeke e de
David Martelo. A primeira segue um texto francês, o segundo, um inglês.
Armando Palavras
Sem comentários:
Enviar um comentário