Discurso do Presidente da República na Sessão Solene das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas
Lamego, 10 de
junho de 2015
Comemoramos
hoje o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Celebramos Portugal na nobre cidade de Lamego, cujas
raízes milenares são bem testemunho da nossa identidade coletiva, forjada durante
séculos.
Celebramos Portugal neste ponto de observação
privilegiado do que somos como nação europeia e como comunidade de destino
dispersa pelas sete partidas do Mundo.
Ao longo da sua História multissecular, Portugal viveu
tempos de abundância e de acalmia que alternaram com períodos de escassez e de
convulsões profundas.
Mas aqui estamos hoje, neste Dia de Portugal. Aqui
estamos, juntos, todos, para comemorar uma Pátria que existe devido a uma
razão: a vontade de vencer do nosso povo.
Somos um Estado soberano e independente porque, mesmo
nas alturas mais difíceis, em tempos de graves crises, não nos deixámos abater
pelo desânimo e pelo pessimismo.
Comemoramos o Dia de Portugal porque nunca perdemos a
confiança num futuro melhor.
Alguns têm a tendência para não acreditar no futuro,
para duvidar da capacidade e da força do nosso povo. Há mesmo quem faça da
crítica inconsequente um modo de vida, um triste modo de vida.
Aos que preferem dizer mal de tudo e de todos, aos que
optam pela crítica destrutiva sem apresentar soluções ou alternativas, devemos
mostrar o exemplo do nosso povo, que ao longo da História sempre conseguiu
vencer adversidades e encontrar caminhos de futuro.
Se os nossos antepassados se tivessem deixado abater
pelo pessimismo, teríamos baixado os braços, voltando as costas ao Atlântico e
aos mundos que demos ao Mundo.
Se nos tivéssemos resignado, não teríamos resistido
aos invasores estrangeiros nem teríamos conquistado a liberdade e a democracia.
Portugueses,
Portugal viveu recentemente tempos muito difíceis. A
crise que tivemos de enfrentar deixou sequelas profundas em muitos Portugueses,
algumas das quais ainda persistem. Os níveis de desemprego mantêm-se demasiado
elevados. Muitas famílias continuam privadas de um nível de vida digno.
Com o esforço e sacrifício de todos, ultrapassámos a
situação de quase bancarrota a que o País chegou no início de 2011 e, nos
últimos tempos, tem vindo a verificar-se uma recuperação gradual da nossa economia
e da criação de emprego.
Os Portugueses foram exemplares na atitude, na coragem
e no sentido de responsabilidade.
Portugal tem hoje motivos de esperança num futuro
melhor.
Se, para além da estabilidade política e da
governabilidade do País, forem asseguradas orientações de política económica
que permitam a realização de quatro grandes objetivos, estou certo de que
poderemos olhar o nosso futuro coletivo com confiança, independentemente de
quem governe. Esses quatro grandes objetivos são: em primeiro lugar, o
equilíbrio das contas do Estado e a sustentabilidade da dívida pública; em
segundo lugar, o equilíbrio das contas externas e o controlo do endividamento
para com o estrangeiro; como terceiro grande objetivo, a competitividade da
nossa economia face ao exterior; e finalmente, um nível de carga fiscal em
linha com os nossos principais concorrentes.
Só desta forma será possível assegurar o crescimento
económico e a criação de emprego.
Pelos meus contactos com os mais diversos sectores da
nossa sociedade, posso, neste Dia de Portugal, dar testemunho dos sinais de
confiança no futuro que tenho encontrado junto de empresários, trabalhadores e
parceiros sociais, jovens empreendedores, cientistas e académicos, autarcas,
instituições de solidariedade e comunidades portuguesas dispersas pelo Mundo.
De igual modo, podem colher-se sinais de confiança no
futuro do nosso País observando a nova atitude dos nossos parceiros europeus e
dos investidores e o comportamento dos mercados financeiros.
Os empresários e os agentes económicos não se
acomodaram nem se resignaram. Desde logo, importa sublinhar o aumento de 10
pontos percentuais do peso das exportações na produção nacional, entre 2010 e
2014. Um valor como este atinge-se com trabalho e coragem, e não com descrença
ou conformismo.
Nos encontros que frequentemente mantenho com os
nossos empresários, tenho constatado a sua firme determinação em aumentar a
produção de bens e serviços de qualidade, capazes de ombrear com os melhores do
Mundo e de conquistar novos mercados.
Destaco a aposta no conhecimento e na inovação que tem
sido realizada pelas empresas portuguesas, as quais, em alguns sectores, são
líderes europeias na produção de bens e de tecnologias. Registo o
extraordinário aumento do número de empresas que satisfazem os exigentes
critérios de seleção para integrar a rede PME Inovação da COTEC, associação a
cuja Assembleia Geral tenho a honra de presidir.
Através da iniciativa «Roteiros para uma Economia
Dinâmica», tenho tido contacto com múltiplas empresas industriais de dimensão
intermédia, empresas que souberam adaptar a sua produção às exigências dos
novos mercados, com um impacto muito positivo na criação de emprego local, na
capacidade exportadora do País e no crescimento económico.
Emergem também sinais de esperança da cultura de
responsabilidade que impera na generalidade dos parceiros sociais, um ativo da
maior relevância para a realização das reformas indispensáveis ao reforço da
coesão social e de competitividade das empresas portuguesas.
Aqui, junto ao Vale do Douro, onde se reúnem de forma
particularmente frutuosa alguns dos melhores vinhos do Mundo, uma gastronomia
de exceção e paisagens de ímpar beleza, não posso deixar de sublinhar o sucesso
dos operadores turísticos na melhoria e diversificação da oferta, que se tem
traduzido em múltiplas distinções internacionais atribuídas ao nosso País e,
sobretudo, no número recorde de visitantes que procuram Portugal como destino.
Os empresários e os trabalhadores, verdadeiros heróis
a quem Portugal tanto deve na ultrapassagem da recente crise, poderão agora
olhar o futuro com melhores perspetivas.
Aumentou significativamente o número de jovens
empreendedores que, nas mais diversas áreas, mostram a sua ambição e vontade de
vencer. São jovens de coragem que, desafiando o risco, abraçam uma ideia
inovadora e procuram transformá-la numa atividade rentável, criadora de
emprego. São o fermento de uma classe empresarial mais dinâmica, orientada para
o mercado global, que aposta na inovação e que sabe que o sucesso não pode
basear-se em subsídios ou privilégios concedidos pelo Estado.
Permitam-me que destaque os jovens agricultores que
assumem a gestão de empresas familiares e lhes dão novos rumos, aplicando
técnicas inovadoras e conseguindo melhorias significativas da produtividade.
Devemos saudar e incentivar este sangue novo que está a chegar às explorações
agrícolas e que contribui já, de forma significativa, para o crescimento das
exportações do sector e para a redução do nosso défice alimentar.
Noutro domínio, o do ensino superior e da investigação
científica, temos assistido a um aumento significativo da quantidade e da
qualidade da nossa produção académica. Ainda recentemente, há poucos dias, cem
mil engenheiros químicos de toda a Europa elegeram um jovem português como o
melhor investigador europeu na sua área de especialização. Não se trata de um
caso isolado; exemplos como este ocorrem frequentemente, sendo os cientistas
nacionais distinguidos pela excelência do seu trabalho e das suas pesquisas.
Na economia global, onde impera uma forte
concorrência, o futuro passa muito pela boa articulação entre a educação, a
investigação e a inovação, por um lado, e a atividade das empresas, por outro.
A esta prioridade nacional dediquei várias jornadas dos meus “Roteiros” pelo
País.
A ação das nossas universidades e institutos
politécnicos, a par dos laboratórios e dos centros de investigação, e a
qualificação e o talento das novas gerações, dão-nos motivos de confiança no
nosso futuro coletivo.
Sinais de confiança resultam também da ação desenvolvida
pelos nossos autarcas, a quem é devida uma palavra de reconhecimento pelo
trabalho feito.
Pelos meus frequentes contactos com Presidentes de
Câmara de todo o País, posso afirmar que o poder local, uma das grandes
conquistas do Portugal democrático, dispõe hoje de uma nova geração de autarcas
que conhecem os problemas das suas terras e das suas gentes, mas possuem uma
perspetiva mais abrangente e integrada dos desafios que emergem no quadro da
União Europeia. O País possui atualmente um poder autárquico dinâmico,
informado e motivado.
Sou testemunha de que os autarcas são hoje agentes
ativos do desenvolvimento económico e social do País. Empenhados no
fortalecimento da base produtiva dos seus municípios e na criação de emprego,
promovem a captação de investimento, o apoio à competitividade das empresas, a
difusão da cultura do empreendedorismo e da inovação, o aproveitamento dos
recursos das suas regiões, a preservação do ambiente e a recuperação do património
histórico e cultural.
Cabe agora às autarquias desempenhar o papel
catalisador indispensável ao bom aproveitamento dos recursos disponibilizados
pelo programa “Portugal 2020”, contribuindo para a redução das assimetrias territoriais
de desenvolvimento.
Vale a pena lembrar, igualmente, o papel essencial que
as autarquias tiveram no apoio aos mais atingidos pela crise. O esforço do
poder local juntou-se a uma rede imensa de instituições e voluntários que, pela
sua ação em prol dos mais vulneráveis da sociedade, conquistaram a admiração
dos Portugueses. Posso testemunhar o trabalho verdadeiramente excecional que
foi feito pelas instituições de solidariedade e por milhares de cidadãos, com
dedicação e generosidade exemplares.
Destaco ainda, a este propósito, os agentes económicos
que, em resposta a um apelo que lhes dirigi, se congregaram em torno da
associação “Empresários para a Inclusão Social” no combate ao abandono e ao
insucesso escolar.
As nossas comunidades dispersas pelo Mundo, que saúdo
com especial afeto, um dos ativos estratégicos do País, são uma razão acrescida
para termos confiança no futuro.
Nos encontros que tenho realizado com os Portugueses e
Luso-descendentes da diáspora, tenho constatado a sua firme vontade de
contribuir para o desenvolvimento do País e para vencermos os desafios que
temos à nossa frente.
O Conselho da Diáspora Portuguesa, constituído sob o
meu patrocínio e que reúne Portugueses que, nos países onde vivem, se destacam
pelo seu mérito nas áreas da ciência, da cultura, da economia e da cidadania,
tem vindo a contribuir para a difusão da imagem positiva de Portugal, dando a
conhecer ao Mundo as realizações e as potencialidades do nosso País.
Das minhas visitas ao exterior e dos contactos que
mantenho com governantes, representantes de instituições internacionais e investidores
estrangeiros, posso assegurar como se alterou, em sentido positivo, a atitude
em relação a Portugal. Somos vistos como um destino atrativo e, acima de tudo,
como um destino em que se pode confiar.
Somos elogiados pela correção dos graves desequilíbrios
económicos e financeiros que quase levaram o País a uma situação de rutura,
pelas reformas levadas a cabo para a melhoria da competitividade das empresas,
pelo caminho de crescimento económico e criação de emprego que temos vindo a
trilhar, pelo cumprimento das regras de disciplina orçamental que aprovámos no
âmbito da União Europeia.
As taxas de juro dos títulos da dívida pública
portuguesa desceram muito significativamente. Portugal é reconhecido como um
destino competitivo para o investimento estrangeiro e os nossos recursos
humanos são procurados e valorizados. A qualidade dos produtos portugueses é
apreciada em mercados particularmente exigentes.
Por outro lado, no âmbito da União Europeia, reforçada
que foi a capacidade para enfrentar crises financeiras e de supervisão dos
Estados-membros, existe agora um claro empenho numa agenda de crescimento económico
e de criação de emprego.
São sinais positivos que nos chegam do exterior e que
contribuem para reforçar a nossa confiança no futuro de Portugal.
Portugueses,
Num tempo marcado por tantas incertezas, em que de
quase todos os pontos do globo afluem notícias de dramas humanitários, alguns
dos quais bem perto de nós, Portugal atravessou, sem sobressaltos profundos, um
dos mais exigentes períodos da sua História recente.
É certo que, no passado, na primeira década da nossa
democracia, o Estado português se vira já, por duas vezes, obrigado a recorrer
ao auxílio externo de emergência. Na memória de muitos ainda existe a
recordação da pesada fatura que tivemos de suportar, quando à crise económica
se associou uma crise social com fortes tensões e uma elevada conflitualidade,
por vezes muito violenta.
Agora, diferentemente do que ocorreu nas intervenções
externas do passado, a crise económica e social surgiu num tempo em que as
expectativas de bem-estar são muito mais elevadas do que há trinta ou quarenta
anos. A qualidade de vida dos portugueses aumentou de uma forma significativa,
os padrões e os hábitos de consumo alteraram-se, as legítimas ambições dos cidadãos
tornaram-se mais vastas.
Foi neste contexto que, após uma década de reduzido
crescimento económico, Portugal chegou a uma situação que qualifiquei como
«explosiva». Em maio de 2011, fomos obrigados a recorrer ao auxílio do exterior
para satisfazer as necessidades de financiamento do Estado e da economia. Sem o
apoio externo, o País teria entrado numa situação de rutura, com consequências
sociais catastróficas. Aliás, não é por acaso que outros países da zona euro
também seguiram o caminho de solicitar o auxílio do exterior. E nem todos
conseguiram, como Portugal, Irlanda e Espanha, ultrapassar as dificuldades.
Na aplicação do programa de assistência financeira,
fomos obrigados a fazer grandes sacrifícios. A dado passo, foi necessário
alertar para a existência de limites aos sacrifícios impostos aos Portugueses.
Por outro lado, chegou a existir o risco de o País entrar numa espiral
recessiva. Felizmente, conseguimos pôr-lhe cobro.
Nesse tempo, foi necessário dar voz aos que não tinham
voz – aos desempregados, aos excluídos, aos reformados e pensionistas.
É certo que ainda temos um longo caminho a percorrer.
Mas existem hoje razões fundadas para encararmos o futuro com mais otimismo e
mais confiança.
Da mesma forma que nunca vendi ilusões ou promessas
falsas aos Portugueses, digo claramente: não contem comigo para semear o
desânimo e o pessimismo quanto ao futuro do nosso País. Deixo isso aos
profissionais da descrença e aos profetas do miserabilismo.
Se fizermos o que nos compete – e ninguém o fará por
nós –, se assegurarmos a estabilidade política e a governabilidade, se
definirmos, num horizonte de médio prazo, uma linha de ação favorável ao
crescimento económico, à criação de emprego, à sustentabilidade das finanças
públicas e à promoção da justiça social, poderemos festejar este dia que é o
nosso, o Dia de Portugal e dos Portugueses, com confiança no futuro.
Muito obrigado.
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