Corpo de
mulher
A norte das
almas, sorria,
Pombinha
riscada, bonita.
Trajava
vestido de chita,
Com fitas
douradas.
Um dia voou, e
sem ninguém ver
Cortou do
jardim todas as flores,
P’ra ninguém
colher,
Dizias adeus,
com encantos teus,
Levavas no
vento, teu sabor a mel.
Ao ver-te
partir, ias a sorrir,
Escrevias no ar, o teu nome Esperança,
Deixavas
ficar, um lindo tesouro,
Teu cabelo
louro, cortado em trança.
Num adeus que
enganava,
Mais tarde
voltava,
Corpo de
mulher.
Abílio Bastos
Poema inédito
de Abílio Bastos, 1957/58
Nota: A
Esperança, ainda menina, partiu para o Brasil e como recordação deixou ficar à
mãe a bela trança, que ela de coração apertado retirava do saco e ia
humedecendo e afogando as saudades. Abílio era um rapaz de 12 ou 13 anos que
trabalhava na plantação de árvores na floresta, próximo de Abadim, Cabeceiras
de Basto. Nesse tempo sonhava encostado a uma parede pobre e num campo rapado
imaginava um restolho, depois de segado, o pão. O restolho era sinal de que o
grão tinha ido para a tulha e não iria haver fome, em tempo de míngua ou «do
castanho ao cerejo», como diz o povo. Mas, diz o poeta, que «o tempo tudo mata
e tudo cura» e seguiram caminhos divergentes que não mais se encontraram.
Porque, muitos dos sonhos de criança são apenas isso, que fazem girar
quixotescos moinhos de vento. (esta nota é do imaginário de Jorge Lage).
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