Barroso da Fonte |
As
televisões, as rádios e os jornais mostraram duas realidades distintas: a
norte, no país real, em Trás-os-Montes, no Minho rural e nas Beiras campesinas,
aqueles que sempre mereceram o pão que
comem, trabalharam no duro, desde
manhã à noite. As televisões não os mostraram nos trabalhos do campo, não
falaram das suas dificuldades de sobrevivência, silenciaram os seus protestos.
Ao contrário: nas principais cidades, onde neste dia se viram e ouviram
reportagens comicieiras, discursos demagógicos, enfadonhos e, alguns
insultuosos, gastou-se um dia que era de festa, a impingir mentiras, a repetir
falsas promessas, a enganar quem está de boa fé.
E numa
golpaça quixotesca, «meia dúzia de privilegiados» pilotos da TAP e da
Portugália, marimbando-se para a crise do país, para o estado da Nação, para o
tal povo trabalhador que não tem tempo de ver televisão, nem conhece o
significado do dia que a (esse próprio povo) se refere, resolve iniciar dez
dias de greve, sabendo que nestes dez dias a economia nacional perde cerca de 300 milhões de euros. É muito
dinheiro. Sabe-se que a TAP está falida. Foi sempre, como a televisão do
Estado, um sorvedouro de dinheiros públicos. Sendo uma profissão de risco, mas
sempre voluntária e com estatuto aburguesado, «muitos para ela foram chamados,
mas poucos escolhidos». Não lhe retirando os méritos, a inteligência e até a
coragem, essa classe entrou no reino dos privilegiados, a ponto de ser a
pilotagem das profissões mais bem pagas do País: a média mensal é de 8.600
euros. Comparando com um técnico superior da função pública que exige
licenciatura e concurso público por cada grau a que ascenda; o mesmo se diga de
um médico de Serviço Nacional de Saúde, de um prof. do ensino secundário, ou
qualquer profissão que exija concurso. Nem o Juiz conselheiro, nem o Prof.
Catedrático que são topos de carreira das mais distintas, recebem semelhantes
verbas. Ora
os pilotos da TAP reivindicam diuturnidades e até 20% do capital social da
Empresa, o que em vez de aproximar as regalias entre cidadãos, muito mais os
afasta, voltando-se ao paraíso das classe aburguesadas.
Em 1999
João Cravinho, ministro com a tutela da TAP, enfrentou uma greve semelhante. E,
nessa altura, para a evitar, terá cedido à chantagem que a Procuradoria-Geral
da República não sancionou. Aproveitando a crise política e o descontentamento
generalizado dos eleitores, o SPAC que é um dos vários sindicatos de Pilotos,
contra a vontade dos restantes e do universo dos trabalhadores da empresa,
apesar dos apelos de todos os sectores, incluindo de alguns partidos da
esquerda, teimou e ainda veio acusar o poder político e a administração da TAP,
por não lhes fazerem a vontade. Horas antes do início da greve, o representante
desse sindicato, Hélder Santinhos, veio culpabilizar o governo e a TAP por não
lhes fazerem a vontade. No programa da RTP
de Sandra Felgueiras, viria a denunciar o mercantilismo que envolve as greves, com milhões de euros a
gerir o caos que medra nalguns poderosos
sindicatos poderosos, como é o SPAC. Esse
porta-voz, com cara de poucos amigos, irritou quem o ouviu. Em pouco tempo
proferiu infâmias de todo género, sujeitando-se
a ser vaiado se fosse na via pública. Nunca ouvi falar deste cidadão por
rasgos de cultura, de feitos e efeitos científicos que acrescentem algo ao que
o País é. Felizmente ainda não atirou nenhum avião contra uma serra qualquer.
Mas teve coragem para resistir aos gestores da empresa que lhe deu guarida em
2001, lhe paga (bem) e da qual pretende,
com os seus pares, 20% de capital.
Eu
e milhares de jovens fomos à guerra que não era nossa. Não fomos pilotos porque
havia poucos aviões. Fomos funcionários ativos e nunca exigimos lucros nem sequer uma cadeira, uma máquina de
escrever ou uma tampa de sanita. Se cada agente do estado reclamasse uma nesga
de património, já nem tínhamos aviões, nem TAP para dar emprego a esta geração
de «gente especial».
Este
porta-voz nada sabe de democracia, porque se a maioria dos sindicatos votou
contra a greve, porque há-de ser ele a fazer valer a sua vontade, em nome dessa
«meia dúzia» que impôs a greve?
Enquanto
esta rapaziada provocou um prejuízo colossal, a gente da minha Terra, trabalhou
e continua a trabalhar para atenuar aqueles prejuízos. É em nome desta camada
de cidadãos anónimos, silenciados pelo desemprego e pela dureza da vida
campestre que venho dizer a essa privilegiada classe que, se não está contente
com o emprego, que o abandone porque há muitos pilotos desempregados à espera de vaga.
Barroso da Fonte
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