Barroso da Fonte |
Os primeiros dez dias de Maio deram para
perceber que a democracia cada vez mais se distancia da normalidade. Quarenta
anos depois de tolerância em excesso, temos monstros de todos os tamanhos, de todos os feitios e de todos os instintos.
Meia dúzia de burgueses profissionais, vestidos a rigor, com galões dourados e
crachás ao peito, imitam um exército de parada que se mostra nas grandes
passarelles, no dia das Forças Armadas. São homens comuns, chamados pilotos, que conduzem no ar, máquinas sofisticadas , que
manejam nos céus, à imagem dos condutores que não levantam voo. Que são
humanos, frágeis e sujeitos a idiotices, provam-no exemplos recentes como
aquele que se atirou contra os Alpes Suíços. Possivelmente por ser uma
profissão pomposa, mediática e bem remunerada, é das mais sedutoras da
sociedade Portuguesa. Chamam-lhes comandantes. E esse título deslumbra-os. Mas
essa importância extravasa a condição social quando não conseguem impor-se num
ambiente de crise, como é o nosso.
Em 1999, o ministro da época, tentando evitar
uma crise do género daquela que atravessamos hoje, aceitou que satisfaria as
suas reivindicações: até 20% do capital social, diuturnidades a tempo e horas
etc. Para serem super-homens ou únicos, à imagem de Nietzsche ou Marx Stirner, apenas lhes
restava serem proprietários dos aviões que tripulam. Quinze anos depois da
promessa não cumprida, por inconstitucional,
meia dúzia desses profissionais, encabeçados por um tal «Santinho» que
ingressou na Empresa em 2001, apresentou-se como o «diabo» dessa
bandalheira. Meia dúzia de pilotos,
colocaram os aeroportos e a vida de
muitos milhares de passageiros, no ambiente social que perturbou a opinião pública. Denegriram a
imagem de uma empresa como a TAP, provocaram um prejuízo da ordem das centenas
de milhões de euros e geraram um caos no sector do Turismo e na economia do país. Foram dez longos dias de
agressividade palavrosa, de opressão à dignidade e ao sacrifício da esmagadora
maioria dos Portugueses. Esse «comandante» que em apenas 15 anos de ligação à
TAP, foi porta-voz de meia dúzia de profissionais da burguesia portuguesa; teve
o desplante de manifestar-se orgulhoso
por ter conseguido um dano de 30 milhões na TAP que o promoveu a figura
pública. Ninguém conhecia este sindicalista burguês. Não se lhe conhecem
virtudes públicas, sinais de progresso científico, artístico ou cultural. Eis
como um qualquer «zé ninguém», com a sua leviandade ideológica, saída da casca
do ovo, em nome de um direito constitucional vago, tem o efeito de uma bomba
atómico! Numa democracia adulta, séria e coerente, quem publicamente, se
regozije pelos prejuízos causados ao
erário público, deveria ser responsabilizado, judicialmente, na proporção
desses prejuízos, materiais e morais. No Prós e contras da RTP que se seguiu a
essa greve, Santinhos fez piruetas e cambalhotas tais que já não parecia o
mesmo que reclamava 20% no capital da empresa e diuturnidades e aumentos
salariais. Tinha semeado na opinião pública, a peçonha política que acumulou
desde o ano em que a TAP lhe garantiu emprego dos mais cobiçados da vida
nacional. Com cidadãos deste estilo o país mergulhará no abismo, mais depressa
do que se julga. Se esta charlatanice,
esta afronta à soberania nacional, esta provocação aos portugueses que apertam
o cinto, não for reprimida em toda a sua
dimensão profissional, vamos ter muitos «santinhos» sindicalistas, a reclamar
20% do capital do país. Barroso da Fonte
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