quinta-feira, 7 de maio de 2015

Corre-me um Rio no Peito - Luis Jales de Oliveira

Ficava com remorsos guardar só para mim o desenho geológico, histórico toponímico e descritivo que num mero A4 o “Ginho” faz da que foi, e eu ainda conheci, solar da águia real do Marão, as Fisgas ou Cabril, daí pedir vénia para desse original dar divulgação, também é uma maravilha em prosa.
Costa Pereira

Nascente do rio Tâmega, na serra de São Mamede ( Espanha)


Património Paisagistico

         Ultimamente tem sido muito badalado na impressa que a barragem do Fridão está mesmo para arrancar como praga das águas do Tâmega, e destruição da paisagem natural da sedutora região de Basto. Do que penso acerca desse monstro aquoso que por ambição de uns tantos, se permite deixar construir, empobrecendo o património local com um charco de água estagnada que vai alterar todo o sistema ecológico já disse o suficiente. No entanto não deixo de estar atento, e interessado no acompanhar o evoluir desta situação gerada por outros valores que não são os de quem ama a terra onde nasceu. E por isso também atento a ver quem são os mondinenses que como eu amam a sua terra e admiram o que de belo ela tem para oferecer aos nascidos lá, e aos visitantes que sabem apreciar as belezas com que Deus dotou locais privilegiados como Mondim de Basto. Numa das primeiras ocasiões em que abordei este assunto foi despertado pelo blog “Serra e Sonho” de Maria Elísia Ramos, uma ribeira-penense que, ao tempo, comentava: “ O Tâmega que nasce no Maciço Central galego, perto de Albergaria (Vilar de Bárrio/ Laza), entra em Portugal pela fronteira de Chaves, e desagua no rio Douro, em Entre-os-Rios. Aqui, com a barragem do Torrão, se fez o primeiro atentado ao rio, o que levou que por ocasião da catástrofe da ponte muitos atribuíssem o desastre às descargas dessa barragem”. Logo pensei para comigo: tens razão, mas  o dinheiro tem muita força e o nosso povo é sereno.

Não me enganei, as reuniões de gabinete surgem e as decisões guisadas saem dali empacotadas  para impingir ao pagode como definitivas. Mas convém ter presente que o povo é sereno, mas não alheio ao que se passa à sua volta e com mais ou menos impulsão no momento azado responde, sem precisar de levantar a voz.  Muitos são os que ainda se revelam defensores declarados do património natural do seu torrão-natal; a esses presto a minha homenagem, como também a todos que não sendo nossos conterrâneos sabem reconhecer e louvar aqueles que se preocupam em o defender. E não carecemos de consultar arquivos empastados, na obra que Luis Jales de Oliveira consagrou ao Tâmega, sob o titulo Corre-me um Rio no Peito, e  um dos filhos adoptivos da região  descreve, em  prefácio, o que conhece e reconhece no consagrado autor mondinense. Mas nada como pegar no texto que o distinto médico e cronista de reconhecido mérito, Dr. José Alberto de Faria, plasmou no pórtico da obra:  E vós Tágides minhas, pois criado... (Luís de Camões in "Os Lusíadas"- Canto I, estrofe 4).
Que pretensão a minha a de invocar o maior poeta português para falar de Luís Jales de Oliveira, um poeta Tamecano, como o próprio se intitula.
            Este meu intento não é gratuito mas antes uma tentativa, se calhar vã, de informar o mundo de que todos os poetas têm as suas musas, (que podem até não ser as filhas dos deuses Gregos  Mnemosine e Zeus  criadas para cantarem a vitória dos deuses de Olimpo sobre os Titãs filhos de Urano ...).

             Luís Oliveira tem nas Tamegides as suas musas inspiradoras que percorrem o rio Tâmega desde a sua origem em terras Galegas, até à sua foz no rio Dourado, particularmente insinuantes nas Terras de Basto, deliciando-se a conversar com os Deuses do Monte Farinha, onde Luís Oliveira também procura o seu apoio e inspiração. A estes já o narrador poeta dedicou uma obra, à qual deu o nome de "Os Segredos da Pirâmide Verde" .
             Na presente obra "Corre-me um Rio no Peito"  , uma compilação de citações ao Rio e ao seu poder, nota-se a inspiração constante na turbulência do rio enraivecido pelas musas zangadas em dias de invernia ... dificuldades e dos remoinhos traiçoeiros ... e a suavidade de espelho de água em lira de Erato  em dias calmos de Verão ... fui suavemente embalado pelo cântico do rio...
              Talvez por saber que o Rio me "obrigou" a ficar por estas terras, ... pescadores de bogas modernizados... também o poeta e Amigo me "obrigou" a falar desta sua obra. Difícil não é, mas sim impossível, já que se trata de um grito lancinante contra a transformação de águas doces e cristalinas ... água viva, liquido amniótico, plasma espesso e visceral...numa sopa verde e quente de algas desenvolvidas pela matéria orgânica.
               Alterar o curso natural do rio Tâmega,... nas covinhas dos calhaus, na ebulição dos cachões...é para Luís Oliveira, o acabar com as origens, o fim do poeta, a destruição e morte das suas fontes de inspiração.
                O poeta, de isso me dá conta, continuará a lutar de caneta na mão contra o conformismo e protegerá as suas musas até que a mão lhe doa.
Que Tamóbrigo te ajude”.  Com este post quero prestar a minha homenagem a um insigne mondinense que ama, como os que amam de verdade, a sua terra, e aproveito para repudiar o que o de intruso venha destruir o que de mais belo tem a região de Basto: o seu Património Paisagístico!                                                   
Luís Jales de Oliveira



Eu sei duma “Maravilha”!!!


“Das Fisgas não falarei. A medonha realidade perderia nas palavras a telúrica dimensão. São quedas impressionantes de deixar cair as horas em divina contemplação.
A um passo do abismo, direi da visão dantesca das entranhas dos infernos. Nas pias, ou nas piocas, nas piscinas naturais, direi da visão edénica dos esplendores do Paraíso.
Perspectiva wagneriana, rente às nuvens de alabastro - perspectiva genesíaca, rente á vaporosa espuma das cataratas do Olo.
Um brinco da Natureza!
Quando Deus criou o mundo, era tudo muito bom. Nas Fisgas, cala-te boca, exagerou um bocadinho…
Se eu dissesse, mas não digo, diria que o azul do Cabril é céu dos falcões  peregrinos que fecundam o colo da brisa .

E no centro da epopeia, o rude pastor dos penhascos transvestido de Moisés. Trezentas cabeças aos pés e nos olhos um soneto azul celeste. Só ele sabe dos mistérios, dos trilhos e das veredas, dos segredos dos druidas, do abre-te-Sesamo dos tesouros escondidos. Só ele sabe da “Poça das Carriceiras”, da “Poça da Pena do Pombo”, da “Calda de Barnabás”, dos “Fornos” e da “Pena Amarela”, da “Fonte da Gricha” e da “Casa do Diabo”, do “Buraco dos Fontelões”, da “Fraga da Malhada”, das “Pias do Cadaval”, da “Rechouza” e do altar do “Pouso da Águia” com fossetes esculpidos de três palmos de dimensão.

Hercúleo e destemido, ladino e aventureiro maneja a racha de lódão como quem volteia a espada. Dos lobos, defende o rebanho e “quando a àguia aparece/ a rapinar o miolo/ daquele pão de sarilhos/às medonhas Fisgas desce/em cordas, por sobre o Olo/num cesto, rouba-lhe os filhos”.
Reza a crónica de D. João, chamado “O da boa memória” que Gonçalo Vaz o Moço, pastor das Fisgas de Ermelo, o salvou dos Castelhanos na Batalha de Aljubarrota. É Fernão Lopes que atesta, nos pergaminhos do Tombo, que o tal “besteiro” de Ermelo mereceu o Real Privilégio do “Ajuda-me Companhão”.
Mas há que voltar ao Rio que os celtas divinizaram. Chamaram-lhe Yolo, ou Apolo, deus da luz, da claridade, deus brilhante e luminoso, o Febo resplandecente, que a toponímia regista.
Dependentes daquela luz, daquela bênção dos deuses, subiram os homens de Ermelo para comprar a levada, a três velhas da montanha, herdeiras  universais da água do Rio Olo. Trocaram a água da rega, como quem troca maquias, pela porca ajavardada, porca russa bem cevada, de que fala a tradição.
Ainda hoje, na Primavera, escalando as bordas do Ermo, sobe o povo pelo rego, tratando da manutenção, celebrando, ao som de tiros, cantando e dando vivas às três velhas de Varziguêto.
Das Fisgas não falarei.
Evoco o Rio de Lamas, que corre o pranto nas pedras, e se atira, apaixonado, da falésia desmedida. Como Ícaro se imolou com asas incendiadas.
O Olo parece Apolo na vertigem suicida de querer beber a luz e mergulhar nos abismos.
Eu sei duma “Maravilha” !!!
Onde as águias fazem ninho e os falcões peregrinos fecundam o colo da brisa.
Onde o Criador do Mundo exagerou um bocadinho…

                                                              Luís Jales de Oliveira

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