Barroso da Fonte |
Pessoalmente respeito estes três
princípios básicos. Mas a filosofia que elegi para tema permanente da minha
formação académica e existencial, sobretudo no tocante a Deus, garante-me que
alguém superior ao homem, criou o mundo e ordenou-o para que cumpra os seus
desígnios. O homem é fruto da criação do mundo e da evolução cujo processo
evolutivo, Charles Darwin, desenvolveu e já foi aceite pela Comunidade
Científica.
Chamei este introito ao tema metafórico
do título para simbolizar o drama que envolve a sociedade portuguesa. Para uma
boa parte dos cidadãos, durante o Estado Novo Portugal vivia no «inferno». Era
tudo mau, vivia-se com fome, não havia liberdade, eram monstruosas as
diferenças sociais. Só os ricos
estudavam e ocupavam os empregos públicos. Enfim, Portugal era um «inferno».
A PIDE era o diabo e diabolizava tudo e todos.
Só um golpe armado poderia atemorizar, neutralizando, aquela polícia política.
Obviamente, só os profissionais das armas, podiam liderar esses processo. Ao
longo da história dos povos foi assim que aconteceu. A classe civil e a classe
militar. Aquela produzia riqueza, geria
a sociedade, fazia as leis e aplicava-as. Estoutra fazia cumprir essas leis,
mediante o recurso à força das armas. Eis o que aconteceu em 25 de Abril de
1974. A força das armas justificou-se mediante a passagem social do «inferno»
para o «céu».
Quarenta anos depois o que vemos?
A única coisa boa foi esta
liberdade de poder escrever este relato e ter a certeza de que, na próxima
edição do jornal, onde pretendo que saia, ele aparecer lá, tal-qual o mandei.
Mas atenção: a liberdade tem limites. E
eu também não posso dizer tudo o que sei. Porque só devo escrever aquilo que,
em meu entender, corresponde aos factos que podem ser demonstrados. Daí que se
viva numa liberdade condicionada. E também não é líquido que se diga tudo
porque a censura que existia, tolerava o
corte, mas muitas vezes, perguntava em que contexto se escrevera. E, quando
dadas explicações aceitáveis, a tesourada saía mesmo. Era uma questão de
saber dar a volta ao texto. Obviamente falo por experiência própria.
Numa altura em que se confrontam
realidades, entre o que era e o que é o país, não podemos concluir que se vive
no «céu». Ou antes: o «céu» de hoje existe apenas para quem é desonesto, para
quem não quer trabalhar, para quem faz tábua rasa da normalidade.
A normalidade social consiste em viver bem, respeitando os outros.
Em produzir riqueza e receber o prémio justo do seu trabalho. Em ser frontal e possuir idoneidade suficiente para
assumir os erros e a responsabilidade pelo que se faz.
Ora nestes quarenta anos houve de tudo e do seu contrário. A
corrupção, a mentira, a imoralidade, a
ignorância, o salve-se quem puder, o quanto pior melhor, são evidências
latentes, hora a hora, dia a dia, ano a ano.
Em todas as classes sociais há exemplos do que
de pior se pode imaginar. A começar pelos políticos de proa. Todos prometem o
céu e a terra. Quando chegam aos cargos a que se candidatam, envergonham mais
quem se deixou seduzir, do que eles próprios. Já tivemos exemplos reais em
quase todas as forças políticas. E que péssimos exemplos temos a comprovar esta
lastimável evidência! Do mesmo modo: em
todas as classes sócio-profissionais, mesmo daquelas que nunca
imaginaríamos que adviessem, esses escândalos, essas deploráveis excrescências
aparecem escarrapachadas nas televisões, nas rádios e nos jornais. Perdeu-se a
vergonha, perdeu-se o bom senso, perdeu-se a noção da responsabilidade singular
e coletiva.
Mente-se hoje com a mesma coragem
e convicção com que há meio século se diferenciavam a verdade da mentira.
Mata-se hoje um ser humano, com a mesma frieza com que se matavam moscas, ratos
ou toupeiras. Rouba-se o rico e o pobre, como se não houvesse fronteiras entre
o crime e a normalidade. Chamar gatuno, ladrão, filho deste ou daquele são
palavrões que tinham uma carga ética quase ao nível do crime de morte e que
hoje se proferem, olhos nos olhos, se escrevem nas paredes da casa, onde se
vive, nos cartazes que percorrem ruas, se gravam em filmes televisivos e em
mensagem que circulam nas redes sociais, como se não existissem regras ao bom
nome cívico do ser humano.
Barroso
da Fonte
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