Egéria
A sucessão de nomes com que ficou
registada a “beatíssima” luso-galaica que um dia partiu da Hispânia rumo ao
Oriente é enorme: Echeria, Eitheria, Equérea, Etheria, Aitheria, Géria ou
Egéria.
A sua terra natal é ignorada. No
entanto, testemunhos antigos como o De
Vitae et Epistola B. Egerie de São Valério dão-na como aparentada à corte
de Teodósio. Terá nascido numa área entre o Douro e o Mar Cantábrico, uma
região extensa para dizer seja o que for sobre a terra onde nasceu. Apenas se
pode concluir que era uma lusitana pura. Pode até ter acontecido, a avaliar
pela cultura da região, como nos diz Pinharanda Gomes, que antes da conversão
tivesse sido uma sacerdotisa celta.
Viveu nos séculos IV e V. Com
efeito, simbolizou o fluxo de peregrinações galaico-lusitanas para a Terra
Santa. Virgem consagrada [Virgo sacra
sancti monialis], viajou pelo Egipto, Tebaida, Constantinopla e Jerusalém.
As suas viagens ficaram registadas em epístolas dirigidas às sorores suas
irmãs. O seu conjunto ficou conhecido por Diário
de Viagem de Etérea; Peregrinação de
Etérea, ou Itinerário de Etéria.
Descoberto em 1884 em Arezzo por Gamurrini, foi escrito entre 400 e 418 e no
seu tempo era conhecido como Itinerarium
ou Peregrinatio ad Loca Sancta.
Egéria chegou a Jerusalém em 393
e de lá saiu em 396 depois de visitar as comunidades monásticas da Tebaida e do
Oriente. O seu livro onde descreveu as celebrações cultuais que vão desde a Epifania, ou Festa da Revelação do Senhor, até à Páscoa, Festa da Ressurreição, foi multiplicado em códices nos vários
conventos europeus, inclusive em Dume, dado o seu carácter de alto momento
litúrgico. É a fonte mais antiga para o conhecimento da liturgia das Horas em
Jerusalém, ainda hoje utilizado na Igreja. É, portanto, a Egéria que se deve informação
valiosa da liturgia cristã antiga. Sabemos através dela que a Natividade era celebrada a seis de
Janeiro, tanto no Egipto como em Jerusalém. E que a Festa da Purificação de Nossa Senhora ou Festa de Nossa Senhora das Candeias se realizava a catorze (ou quinze?) de
Fevereiro. Hoje celebra-se a dois.
Armando Palavras
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