Em 1921 o Alto Carabaque, povoado por uma maioria de
Arménios, foi reanexado ao Azerbaijão por Estaline que queria enviar um sinal
positivo à Turquia, próxima dos Azeris. Daí para diante, até aos dias de hoje,
a história dessa região tem avançado e recuado nos conflitos entre Azeris e
arménios. Cometeram-se massacres de ambos os lados. Em 1994, as forças armadas
arménias assumem o controlo da região.
Contudo, interessa hoje, recuar a 1914. O povo arménio
dispersava-se por três impérios: a Pérsia, a Rússia e o império Turco. Tendo
como objectivo libertar a arménia turca, alguns Arménios faziam parte das fileiras
do exército russo e outros das do turco. Criaram um Estado em Van. Em 1915, a
24 de Abril, o exército turco deportou em massa os Arménios, acusados de
pactuar com o inimigo, para o deserto sírio. Nesta deportação morreram centenas
de milhares de Arménios. De acordo com os dados turcos, cerca de 300 mil,
segundo os Arménios, um milhão e meio. São os dados arménios que se aproximam
da realidade.
Mas a raiz deste problema deve ser procurado entre os anos de
1840 e 1860, quando 70% dos 2 milhões de Arménios otomanos entraram numa grave
situação de anarquia administrativa, questão que se não abordará neste escrito.
Os acontecimentos de 1915 são, porém, aquilo que interessa,
pois foram perpetrados diante dos olhos de representantes da comunidade
internacional, como observadores neutros (suíços, americanos, dinamarqueses e
suecos) ou funcionários civis e militares alemães e austríacos no activo na
Turquia. Foram estes múltiplos relatórios que deram a conhecer ao mundo as
atrocidades cometidas contra os Arménios – um homicídio colectivo praticado à
escala do país. E esses acontecimentos não podem ser desmentidos pela Turquia,
pois estão reunidos, desde 1916, numa soberba antologia publicada sob a
direcção de James Bryce, presidente da Associação Anglo-Arménia, com a
colaboração de um jovem historiador de Oxford, Arnold Toynbee. Esse documento
foi enviado para 250 publicações americanas e, no ano seguinte, foi traduzido
para francês com o título Livre bleu du
gouvernement britannique concernant le traitement dos Arméniens dans l’empire
ottoman. A este soberbo documento vieram juntar-se o Relatório Secreto do pastor Johannes Lepsius (publicado em 1916), a
dissertação do embaixador americano Morgenthau e o testemunho do jornalista
alemão Harry Stuermer, Dois Anos de
guerra em Constantinopla.
Esta gigantesca operação de extermínio dos Arménios,
testemunhada nestes documentos, teve cobertura legal na “Lei provisória de
deportação”, de 27 de Maio de 1915. E esta “lei” permitiu o aniquilamento de
cerca de 1,5 milhões de Arménios, em duas fases. A primeira, a deportação
propriamente dita com os massacres que a acompanham, ocorreu entre Maio e
Setembro de 1915, seguida da do tratamento dos sobreviventes nos campos de
concentração do Norte da Síria e da Mesopotâmia (Islahiyé, Ras ul-Ain, meskéné
– uma rede). São autênticos campos de morte que anunciam os horrores nazis.
Foi um aniquilamento metódico e executado com rapidez. Foi
impressionante! Atingiu a Cilícia em Maio, as seis províncias orientais da
Turquia (Trebizonda, Erzurum, Van, Bitlis, Kharpout e Sivas), em Junho-Julho,
as regiões ocidentais (Angora, Abadazar, Brousse) e as do Sudoeste (Djebel
Moussa, Oufa, Aïntab), em Agosto-setembro. Finalmente a Andrinopla em Outubro.
Tudo feito sem resistência, à excepção dos 4 mil homens de Mussa Dagh, na
Cilícia, que repeliram todas as investidas até serem socorridos por uma esquadra
da Marinha francesa. História relatada no célebre romance de Franz Werfel, Os 40 Dias de Musa Dagh.
O Papa Francisco identificou este extermínio arménio como um
genocídio. Utilizou a palavra correcta porque se tratou de um genocídio. Reconhecido pelo Parlamento Francês, pelo Canadá, pelo Parlamento
Europeu e por vários países ocidentais.
A Turquia, sem reticências, inaugurou o genocídio moderno.
Armando Palavras
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