O
descontentamento popular da sociedade portuguesa é enorme e, encontrar solução
para acabar com ele, não será uma situação fácil de solucionar, sem que haja
muitos sacrifícios por parte da população, muitos apertos do cinto, do lado de
quem já vivia mal e, muito especialmente, de quem já passava fome.
Quando a fome aperta e os empregos não surgem
como nós pretendemos, todos falamos, todos praguejamos, todos maldizemos. E os
impropérios, as injúrias e os palavrões
mais ofensivos vão para os governantes, sejam ou não os culpados. Nalguns
tempos quando havia educação, civismo e respeito, este tipo de linguagem não se
proferia ao ar livre. Eram desabafos raivosos contra sujeitos indefinidos,
ainda que invocados em nomes concretos. A legislação considerava tais
interjeições como ofensas graves, contra a dignidade humana, de quem
representava serviços públicos, cargos dignitários ou instituições. Por outras
palavras: quem ofendesse, por exemplo,
Mário Soares (PR), Cavaco Silva (PM), ou Pinto Monteiro (PGR), correspondia
a ofender os cargos que exerciam. Por
arrastamento essas injúrias passaram a ser usadas, indiscriminadamente, contra
qualquer político ou técnico que represente os serviços que geram as polémicas.
Com o rodar dos tempos a opinião pública foi-se habituando a ver
desculpabilizadas essas calúnias, tanto mais que os próprios titulares (atrás
mencionados) deram azo a que tais impropérios fossem proferidos. Recordem-se os
palavrões de Mário Soares para o GNR que ele mandou «desaparecer» quando abria caminho
à sua comitiva; de Cavaco, ao dizer que
a sua reforma não chegava para cobrir as despesas, e de Pinto Monteiro quando,
infantilmente, disse que almoçara com Sócrates para falar de livros...
A
prática veio sobrepor-se à lei que regulava este tipo de linguagem. Injuriar o
«pai» e a «a mãe» dos nossos governantes, dos gestores bancários, dos chefes de
serviços públicos, lamentavelmente, vulgarizou-se e não deve haver juízes que
punam estes usos e abusos. Mas que é uma liberdade sinónima de libertinagem é
uma evidência democrática.
Nas últimas semanas o país assistiu a uma bandalheira, em ritmo
crescente. E, pela aragem se adivinha que esse ritmo, longe de abrandar, mais
se prevê venha a intensificar-se.
As legítimas contestações à indefinição das
vítimas do BES, a famigerada listagem VIP do fisco e tantas outras que se
desencadearam por parte de toda a esquerda ideológica que surgiu com a nítida
preocupação de ofuscar a prisão do inquilino da cela 44 da cadeia de Évora, o
não avanço nas sondagens, a favor do líder do PS e o não derrube do actual
governo, trazem os cidadãos em pânico e todos os comentadores políticos dos
vários canais televisivos aventam comentários que não desanuviam o ambiente
casmurro em que mergulhámos, irremediavelmente.
Ministra das Finanças - |
Os partidos da esquerda radical não destoam
nas lamurias do costume porque nunca tiveram responsabilidades governativas e
ninguém pode deitar-lhes à cara essa afronta. Mas o PS que gerou a situação de
falência sistémica, deveria reconhecer que não se encontra em maré de atirar
gasolina para a fogueira. Teria mais apoiantes se, em alturas como esta – e
sobretudo naquelas em que foi reincidente e causa próxima – silenciasse aquilo
que não deve mexer-se em excesso. O povo aconselha a não remexer o excremento
humano porque, quanto mais se mexe e remexe mais mal cheira. Hoje já não se
aposta muito em partidos. Aposta-se mais
em pessoas. Todos nós (e eu falo por mim)
procuramos um futuro governo que não subtraia mais à reforma ou ao salário. Também todos sabemos
que ter cofres cheios não significa existir dinheiro em excesso. Sobretudo
quando esse dinheiro pertence ao erário público e deve estar a salvo para
fatalidades como aquela que o país tinha em 2011. Os nossos pais, sem cursos de
gestão, ensinaram-nos a poupar para qualquer fatalidade que nos surja. Assim
devem ser os governantes. O ex-primeiro
ministro preferia não pagar. Alegava que era melhor dever. Ora eu não aprendi a
ser caloteiro. O exemplo chega da Grécia. Por isso António Costa, lá por ter os
cofres cheios não pense que volta a fazer o mesmo.
Barroso da Fonte
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