sexta-feira, 27 de março de 2015

Será crime ter os cofres cheios?

 Por: Barroso da Fonte

O descontentamento popular da sociedade portuguesa é enorme e, encontrar solução para acabar com ele, não será uma situação fácil de solucionar, sem que haja muitos sacrifícios por parte da população, muitos apertos do cinto, do lado de quem já vivia mal e, muito especialmente, de quem já passava fome.
 Quando a fome aperta e os empregos não surgem como nós pretendemos, todos falamos, todos praguejamos, todos maldizemos. E os impropérios,  as injúrias e os palavrões mais ofensivos vão para os governantes, sejam ou não os culpados. Nalguns tempos quando havia educação, civismo e respeito, este tipo de linguagem não se proferia ao ar livre. Eram desabafos raivosos contra sujeitos indefinidos, ainda que invocados em nomes concretos. A legislação considerava tais interjeições como ofensas graves, contra a dignidade humana, de quem representava serviços públicos, cargos dignitários ou instituições. Por outras palavras: quem ofendesse, por exemplo,  Mário Soares (PR), Cavaco Silva (PM), ou Pinto Monteiro (PGR), correspondia a ofender  os cargos que exerciam. Por arrastamento essas injúrias passaram a ser usadas, indiscriminadamente, contra qualquer político ou técnico que represente os serviços que geram as polémicas. Com o rodar dos tempos a opinião pública foi-se habituando a ver desculpabilizadas essas calúnias, tanto mais que os próprios titulares (atrás mencionados) deram azo a que tais impropérios fossem proferidos. Recordem-se os palavrões de Mário Soares para o GNR que ele mandou «desaparecer» quando abria caminho à sua comitiva; de Cavaco,  ao dizer que a sua reforma não chegava para cobrir as despesas, e de Pinto Monteiro quando, infantilmente, disse que almoçara com Sócrates para falar de livros...
A prática veio sobrepor-se à lei que regulava este tipo de linguagem. Injuriar o «pai» e a «a mãe» dos nossos governantes, dos gestores bancários, dos chefes de serviços públicos, lamentavelmente, vulgarizou-se e não deve haver juízes que punam estes usos e abusos. Mas que é uma liberdade sinónima de libertinagem é uma evidência democrática.
   Nas últimas semanas o país  assistiu a uma bandalheira, em ritmo crescente. E, pela aragem se adivinha que esse ritmo, longe de abrandar, mais se prevê venha a  intensificar-se.
   As legítimas contestações à indefinição das vítimas do BES, a famigerada listagem VIP do fisco e tantas outras que se desencadearam por parte de toda a esquerda ideológica que surgiu com a nítida preocupação de ofuscar a prisão do inquilino da cela 44 da cadeia de Évora, o não avanço nas sondagens, a favor do líder do PS e o não derrube do actual governo, trazem os cidadãos em pânico e todos os comentadores políticos dos vários canais televisivos aventam comentários que não desanuviam o ambiente casmurro em que mergulhámos, irremediavelmente.
Ministra das Finanças -
   A última bojarda nasceu de uma expressão usada pela ministra das Finanças quando respondeu a uma pergunta sobre a situação económica do país. Disse ela que Portugal tem os cofres cheios para garantir alguma estabilidade social nos próximos tempos. Tal expressão deveria ter alegrado todos os portugueses, independentemente das suas tendências partidárias. Mas a histeria colectiva logo ribombou a partir das direcções partidárias, incluindo quem deveria ter o bom senso de estar calado, como é o caso de António Costa. Sabem os portugueses que não são fanáticos que, António Costa foi um incondicional apoiante do ex-primeiro ministro. Com ele colaborou no governo que levou o país à bancarrota. Em 2011 os cofres ficaram vazios e sem crédito no estrangeiro. O país teve de sujeitar-se às regras da troika. O governo que se seguiu, legitimado pelo voto popular, teve que desenrascar-se. Partiu do zero e assumiu o propósito de pagar o que o país devia. Três anos depois, apesar dos «roubos» que teve de fazer a tantos portugueses que legitimamente barafustaram, ouvir dizer que os cofres voltam a estar cheios, deveria ser motivo de júbilo e nunca de chacota.
  Os partidos da esquerda radical não destoam nas lamurias do costume porque nunca tiveram responsabilidades governativas e ninguém pode deitar-lhes à cara essa afronta. Mas o PS que gerou a situação de falência sistémica, deveria reconhecer que não se encontra em maré de atirar gasolina para a fogueira. Teria mais apoiantes se, em alturas como esta – e sobretudo naquelas em que foi reincidente e causa próxima – silenciasse aquilo que não deve mexer-se em excesso. O povo aconselha a não remexer o excremento humano porque, quanto mais se mexe e remexe mais mal cheira. Hoje já não se aposta  muito em partidos. Aposta-se mais em pessoas. Todos nós (e eu falo por mim)  procuramos um futuro governo que não subtraia mais à  reforma ou ao salário. Também todos sabemos que ter cofres cheios não significa existir dinheiro em excesso. Sobretudo quando esse dinheiro pertence ao erário público e deve estar a salvo para fatalidades como aquela que o país tinha em 2011. Os nossos pais, sem cursos de gestão, ensinaram-nos a poupar para qualquer fatalidade que nos surja. Assim devem ser  os governantes. O ex-primeiro ministro preferia não pagar. Alegava que era melhor dever. Ora eu não aprendi a ser caloteiro. O exemplo chega da Grécia. Por isso António Costa, lá por ter os cofres cheios não pense que volta a fazer o mesmo.
  Barroso da Fonte

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