Grémio Literário Vila-Realense
Câmara Municipal de Vila Real
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FALECEU NÉLSON VILELA
Nélson Vilela era natural de Vilarinho da Samardã, onde nasceu em 1933 de uma família muito numerosa. Apesar de ter cursado Teologia, nunca se dedicou à vida eclesiástica, tendo em vez disso exercido funções docentes em diversas escolas, acabando por se aposentar como professor da Escola Básica 2,3 André Soares, em Braga, cidade onde residia.
Homem de grande modéstia e discrição, Nélson Vilela afastava-se voluntariamente de toda e qualquer publicidade, o que de algum modo terá influenciado a circulação restrita das suas obras.
Publicou os seguintes títulos: Saudade, Asas de espuma, Inquietação, Sobre a terra e sobre o mar, Mar e sombras, Pedaços do mesmo sonho, Regresso, Sempre em caminho, O livro de Carla, Entre urgueiras e carquejas, e O sal e as lágrimas. Publicou também um ensaio, Linguagem humana, e organizou o volume Una vista de olhos pela poesia portuguesa.
Génese -Nelson Vilela
ResponderEliminarDeus fez tudo bem feito
Sentença antiga
Que não ouso pôr em questão;
Só que o Adão e a Eva,
O modelo e a moldura,
Estragaram a pintura
No próprio acto de criação.
A mim, produto desajeitado,
Dessa fatal comédia,
Nada mais resta do que ser assim
Tal como sou:
Poço de líquenes eu todo
Em extensão e altura,
Mas, se afastado o lodo,
Alguma espuma e brancura
De água fresca e pura
De fonte
Que ainda não secou.
In Murmúrios da Mesma Corrente
O relógio de tudo
ResponderEliminarPé antepé, sem saber como foi,
Esbarra-se a tarde, montanha abaixo.
A luz, palidamente arrefece
E o amarelo das urzes,
Qual pincel incerto,
Que o Outono esmorece,
Perde a fragância
E encurta a distância
Do fim, ali já tão perto.
E fica a gente a cismar
Se no princípio das flores
Alguém, alguma vez sonhou
Que o relógio das coisas,
sempre a batucar,
É de todos e para tudo
E só se desacerta e fica mudo
Quando nada houver para acordar.
Nelson Vilela - In Murmúrios da Mesma Corrente
Génese II
ResponderEliminarE disse Deus:
Faça-se o sol no infindo espaço
Poderoso e bom que sob a minha direcção,
Continue a minha obra, como se fosse meu braço,
E fecunde para sempre, nova criação.
E disse Deus:
Faça-se a terra meiga e bela
Para receber a luz a germinar-se nela
O bulir das florestas e dos mares, sem princípio nem fim.
Mas mais que tudo isto, Alguém
Que aspire e respire
O sopro de vida que sai de Mim.
Nelson Vilela -In Murmúrios da Mesma Corrente