Barroso da Fonte |
1.António
Costa disse aquilo que qualquer cidadão deve dizer, seja diante de quem for, a
respeito do seu país. Nos Estados Unidos nenhum político diz mal da sua Pátria,
só pelo gosto de maldizer. Em Portugal,
de quatro em quatro anos, a maledicência é sistemática para quem está na
oposição ao governo. E o governo passa o tempo a elogiar-se pelo que fez e pelo
que não fez, remetendo os erros dos seus fracassos para os seus antecessores.
Diante de empresários estrangeiros que querem
investir em Portugal, ninguém deve ter pejo em
incentivar ao investimento.
António Costa colocou-se nesse plano e disse aquilo que devia dizer.
Não vem mal ao mundo por causa
disso. Mas logo uma afirmação correcta, oportuna e justa, saltou para as
primeiras páginas dos jornais, crucificando quem disse aquilo que pensava.
Alfredo Barroso quis mediatizar-se e foi infeliz, a ponto de anunciar que ia
desfiliar-se do PS.
Quando rasteirou António José Seguro, António
Costa cometeu um erro bastante mais grave. E Alfredo Barroso, apesar de tudo,
apoiou Costa. Agora estatelou-se.
2.
Não é por ser português de Moçambique que Zeinal Bava é mais esperto do que meu
irmão mais novo, que formou quatro dos
cinco filhos, vivendo de uma agricultura agonizante.
Nem a Barragem de Cabora Bassa
(em Moçambique), por ser a mais emblemática da Portugalidade, no continente
africano, exigiu mais perícia do que a de Pisões, onde eu tive o primeiro
emprego. Zeinal Bava precisa de acordar
e de reconhecer que não somos portugueses de segunda, como ele tratou dez
milhões de habitantes, durante toda a tarde da última quinta-feira, dia 26 de
Fevereiro. Teve cerca de oito horas de televisão, em canal aberto, para
certificar como ignorantes todos quantos lhe temos pago e vamos continuar a
pagar marisco e caviar, quando ele deveria ser tratado a pão e água
(para não dizer a palha e a feno), como
as vitelas do meu pátrio Barroso que esse meu irmão e tantos outros pastores
guardaram nos montes da aldeia.
Zeinal Bava nasceu em 1965, em Moçambique.
Metade dos 50 anos que tem de vida passou-os a estudar, certamente à nossa
custa. Formado em telecomunicações, no tempo dos empregos dourados, petiscou
caça grossa. Como «presidente executivo da OI recebeu 50 milhões de euros,
entre prémios e remunerações, durante a sua trajectória na Portugal Telecom e
no processo de fusão com a OI». Pelos vistos, aos 50 anos de vida, já anda a
esfregar a barriga ao sol. Chamado a esclarecer os representantes do Povo, sobre
os negócios que geria, fechou-se em copas, mudo e quedo, como se nada fosse com
ele. Habituado a mandar não soube obedecer. A Universidade da Beira Interior,
agraciou a sua ignorância empresarial, ao dar-lhe o grau de «doutor honoris causa». Cavaco Silva
condecorou-o no dia 10 de Junho de 2014. Entre 2003 e 2012 foi considerado «o
melhor CEO europeu em telecomunicações». Afinal tanta competência junta num homem só, resulta em
congestão empresarial. Em negócios foi um desastre. Aos parlamentares demonstrou
que serviu as empresas sem conhecer a sua essência.
Depois desta demonstração
quixotesca que exibiu ao mundo inteiro, Zeinal Bava, se houver coragem cívica,
honestidade moral e força social dissuasora, deverá enfrentar a chamada
«máquina da verdade» para que sejam correctamente interpretados os seus
enigmáticos silêncios, as suas respostas evasivas, os seus olhares esguios e,
porventura, maliciosos. Penso que este episódio deveria transitar para os casos
de polícia. Se retiraram a Carlos Cruz e ao embaixador Rito as medalhas
honoríficas que erradamente lhes foram atribuídas também este medalhado deve
passar pelo mesmo crivo. Fez de todos nós parvos. Gozou o Parlamento. Parodiou
a política. E deve ter regressado ao reino da burguesia, no auto-convencimento
de que vai assistir, na sua mansão de férias permanentes, ao pagode que a
sociedade Portuguesa exibe para que sua excelência se deslumbre de erotismo
kafkiano.
3
.Morreu Amadeu Ferreira, actual Presidente da Academia de Letras de
Trás-os-Montes. Foi dos autores da sua geração que mais obras produziu. Nasceu
em Miranda do Douro em 29-7-1950. Foi, talvez, o mais operoso agente cultural
que trabalhou para a oficialização do Mirandês como segunda Língua oficial
Portuguesa. O país perdeu um dos seus mais dinâmicos cidadãos. Trás-os-Montes
viu partir um dos seus mais ilustres filhos. Miranda do Douro despediu-se
daquele que ali nasceu para dar testemunho dessa Língua que estava morta e renasceu
das cinzas.
Barroso da Fonte
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