quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Sobre as feiras do fumeiro - quem mente mais?




Barroso da Fonte
De repente as televisões, (a começar pela RTP),  passaram a ocupar alguns sábados de inverno com directos que, desde as 14 às 20 horas, enchem e preenchem, os  ecrãs com  todo o tipo de  espaços que, em televisão, são pequenas fortunas em termos publicitários. No tempo das vacas gordas, o mais mediático órgão de informação gastava todo esse  tempo de emissão a falar de artes e artistas de Lisboa, Porto e arredores. Desde que a televisão pública passou a ter a concorrência dos outros dois canais generalistas, a dita televisão de interesse público, descobriu em Trás-os-Montes uma forma de desforrar os prejuízos. Os políticos precisam, cada vez mais de mediatismo. Via televisão esse mediatismo chega aos quatro cantos do mundo. Nunca se saberá quanto custam essas seis horas de emissão. Mas o que fica para o futuro é aquilo que passa por essa janela que temos em casa e que, sendo apenas do interesse de poucos, permanece na retina de muitos milhares. As Câmaras fariam obras sempre adiadas que transitam de uns mandatos para outros. Se não se fizerem é fácil arranjar desculpas, culpando o governo central. Os eleitores engolem tudo como sendo verdade. Em cima da hora do voto deixam-se iludir com promessas e palmadinhas nas costas. Durante os quatro anos de gestão convidam-se para umas «tainadas» pagas pelo mesmo orçamento municipal que liquida os tempos de antena e os anúncios da imprensa do partido que está no poder. Nessas merendas oficiosas aparecem sempre os correlegionários locais e regionais.  Para que haja argumentos de que os convites são plurais, em meio milhar de convivas há sempre meia dúzia que vota na oposição. Uns pela simpatia pessoal, outros para que possam servir de contrapes se houver  remoques. O canal televisivo nessas seis horas de emissão, faz uma chusma de intervalos publicitários. E para somar proventos em cima de proventos, permanece no ecrã o telefone:  760 200 100, com o montante do prémio ao lado para um apostador. Mas a insistência com que os apresentadores repetem essa ladainha pregoeira, é irritante e abusiva. Não sei se o provedor do tele-ouvinte já alguma vez providenciou para que seja menos intensiva essa forma de insistir com os reformados, os deficientes mentais, os viciados, menores etc.
As romarias das festas do fumeiro são louváveis. Que se incentivem os produtores e lhes sejam dadas oportunidades, é salutar. Mas não sejam as televisões a explorar a fraqueza, o oportunismo e a tendência de responsáveis desejosos de fama, à custa dos lucros dos produtores. São já muitas as feiras em torno do fumeiro, a saber: Feira Gastronómica do Porco- Boticas; “Vinhais Capital do Fumeiro” – Vinhais; “Sabores de Chaves”-Chaves; Feira da Alheira de Mirandela; “Feira do Fumeiro” Montalegre. Mais adiante há a festa do Folar, em Valpaços.
Há outro aspecto que não ilustra os políticos, nem credibiliza a organização. Fica um exemplo. Orlando Alves, Presidente da Câmara de Montalegre, deu várias entrevistas sobre a 24ª edição.
Questionado sobre estatísticas, preços e receita, fez saber que a receita desta edição foi da ordem dos três milhões de euros. No dia 7 de Fevereiro, Américo Pereira, autarca de Vinhais, entrevistado pelo  mesmo Jorge Gabriel, disse que a 35ª edição rendia seis milhões. Nos anos anteriores o número de visitantes, de quantidades e de especialidades foi, substancialmente, mais volumoso em Montalegre. Que disparidade pode haver entre as duas  mais antigas Feiras do Fumeiro de Trás-os-Montes? É certo que na Feira de Vinhais, onze anos mais antiga do que a de Montalegre, os preços dos mesmos produtos são mais elevados. Não pela qualidade do produto, nem pela antiguidade da feira, mas por critérios organizativos. Em Vinhais prevalece a raça do porco Bísaro. As técnicas da cura são, em tudo, semelhantes: frio, sal e fumo. Conhecendo-se os preços por antecipação é fácil concluir que cada cliente já vem preparado para comprar o que deseja ao preço tabelado. Que em ambas as feiras há certificação garantida na maioria dos produtos é verdade. Que, aqui ou ali, haja situações anómalas, no recinto das feiras, será uma questão difícil de acontecer. Que no exterior do recinto, na restauração que nesses dias se pratica, possa haver fraudes, é factor que não poderá afirmar-se, garantidamente. Há um aspecto anti-democrático que o poder judicial receia reprimir. A imprensa regional tem assistido, impotente a esta deliberada arbitrariedade. Num concelho onde há três jornais regionais, a publicidade institucional da feira foi sempre  para o órgão oficioso da autarquia. Nos últimos dois anos, um segundo jornal já teve uma página de publicidade. O terceiro nunca teve qualquer linha publicitária. Por sinal, nesta última edição é, dos três, o que mais fala da Feira. Enquanto autarca numa Câmara de 125 eleitores, com onze membros eleitos, tive o pelouro da administrativo e da imprensa. Quando lá cheguei havia seis jornais e só dois afectos ao partido do poder recebiam esse tipo de apoio. Um mês depois de lá chegar, com um simples despacho acabei com essa tremenda arbitrariedade. Mesmo aqueles que nunca me  pouparam, passaram a receber desse tipo de publicidade, igual importância. A democracia pratica-se exercendo-a com equidade.
              Barroso da Fonte
                                                                                                                                                                   

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