sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

História da marca ALHEIRAS DE MIRANDELA (2) - Jorge Golias


Por Jorge Golias

3. Notícias do século XX

Na Exposição Ibero-Americana de Sevilha, em 1929, são referenciadas as tabafeias, como petisco regional, mas nada se diz sobre as alheiras.
No entanto, num exercício de memória, os mais antigos de Mirandela (melhor dizer as) recordam que a avó em finais do séc. XIX-princípios do séc. XX, já fabricava alheiras para consumo caseiro.
Em 1941, Manuel António Ribeiro, mirandelense, no seu livro “Por Entre Fraguedos”,p.54, descreve os chouriços que se usavam em Mirandela e neles consta a alheira. Mas na p.53 regista“alheira ou tabafeira”, como se fossem a mesma coisa. (As duas grafias tabafeia e tabafeira, coexistem).
A lista de chouriços que Manuel Ribeiro apresenta é a seguinte: chouriços de sangue, alheiras, azedos, bocheiras, linguiças, salpicões, morcelas, palaios e botelo. Curiosamente, os que estão hoje na casa dos 70, sabem que à chouriça de sangue se chamava chouriça doce e que as morcelas e os botelosnão eram chouriços correntes em Mirandela e estes eram chamados de buchos.
Sant’Anna Dionísio, no Guia de Portugal, edição da Gulbenkian, escrito em meados do séc. XX, diz que a alheira é o prato favorito de Bragança, Macedo e Mirandela. Tal afirmação pressupõe que neste tempo, e mesmo bastante antes, já se comia a alheira nos hotéis e nos restaurantes.
E teriam sido os que nos visitavam e saboreavam as alheiras nos restaurantes que começaram a sua divulgação para Sul, sobretudo os caixeiros-viajantes que, dada a centralidade de Mirandela, mesmo quando se deslocavam para outras partes, era ali que jantavam e pernoitavam. E que aproveitavam para levar algumas para oferecer e também para negociar no Porto.
E se Bragança tinha mercado para os poucos e pequenos produtores que havia nos anos 30/40, já Mirandela tinha que procurar outros mercados para que os pequenos produtores pudessem atingir uma escala de sobrevivência e crescimento.

4. Primeiros Fabricantes
Anos 30 a 40

Os primeiros fabricantes de alheiras de Mirandela começaram nos finais dos anos 30 e foram os seguintes:
AlheirasVieira rico,AlheirasAdelina(Romoa),AlheirasVieira pobre, AlheirasPeixoto e AlheirasCeriz.
O Vieira rico só vendeu localmente e em talho próprio. A Adelina vendeu localmente e para fora, tal como o Vieira pobre. O Peixoto vendeu na vila e exportou para o Porto, vendo-se as suas alheiras nas Confeitarias Costa Moreira.
Em termos de qualidade os consumidores da vila de Mirandela inclinavam-se para as da Adelina, mas as do Vieira pobre também eram escolhidas.
Nestes anos havia uma fabricante que mandava vender as alheiras pelas casas a um preço de 10 tostões a unidade, o que prefigurou um interessante caso de empreendedorismo comercial.
Estes 5 pequenos fabricantes funcionaram como escolas de formação profissional e deram lugar a outros fabricantes, nos anos seguintes.
O Armindo carroceiro encarregava-se de transportar as alheiras para a estação de caminho-de-ferro em caixas de ripas de madeira, feitas no momento.
Anos 50
Alheiras ALZA, de Ana Luísa (Pia) e Inácio Teixeira Neves, AlheirasIsaura (despachante), Alheiras Américo Dias(D. Branca), com comércio aberto na Rua da República, Alheiras OGER, de Ana Isaura Rego eAlheirasdeLuísaPires(fólhinha-rôta).
Anos 60
Alheiras Delícia, de Lucília Coelho e Alfredo Coelho, Alheiras deCristiano dos Santos (Cristo), Alheiras de Maria Vinhas e Alheiras PROBOM, de Adelaide Sales e Alexandre Sales. Estas últimas foram vendidas em Viseu (José Rego), em Coimbra e na Charcutaria Caviar em Campolide, Lisboa (José Garcia)[1].
E são estes os primeiros fabricantes de alheiras que, colocando-as nos mercados das grandes cidades (Porto, Viseu, Coimbra e Lisboa), em antecipação às de outras terras (Bragança e Macedo), marcaram o terreno e fundaram a marca Alheiras de Mirandela.


Nota – Este texto deve ser considerado como uma contribuição para a História das Alheiras de Mirandela, estando o autor aberto a outras contribuições fundamentadas para um conhecimento o mais completo possível das raízes desta emblemática indústria mirandelense.
                                                                          Jorge Sales Golias


[1] Entretanto a fábrica de salsichas TOBOM obrigou judicialmente ao abandono da marca PROBOM por confusão de marcas, situação que coincidiu com a instalação da fábrica TOPITÉU, em 1980, sendo a primeira de raiz. Na escritura de constituição constam como sócios principais: Alexandre Sales, Cristiano dos Santos e Manuel Gaspar. Outros sócios, por ordem de valor, foram: Maria do Amparo, Carlos Ricardo, Adélia Rodrigues, Alfredo Coelho, Fernando Fernandes e Fátima Machado.


1 comentário:

  1. Jorge Sales Golias28 de fevereiro de 2015 às 18:45

    Venho saudar a excelência da edição destes textos sobra a marca Alheira de Mirandela, na linha aliás da grande qualidade do blogue. Fruto de anos de investigações, pertencem agora ao espaço público aguardando contraditório.
    Grato pela atenção fico ao Dr. Armando Palavras e ao Dr. Jorge Lage, meu amigo.
    Saudações transmontanas
    Jorge Sales Golias

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