Barroso da Fonte |
O primeiro caso alegrou meio mundo: começou no
Parlamento com a pirueta de mau gosto sobre a reposição das subvenções aos políticos e agudizou-se com a
prisão de onze «tubarões» de serviços de alto prestígio interno. Houve
detenções inusitadas e, em condições tais que levaram os maiores cépticos a
interrogar-se: - será verdade? Foi
uma semana em que a esquerda delirou, atingindo o clímax coloquial, quando o
Ministro Miguel Macedo se demitiu.
Eis senão
quando, no dia em que completava uma semana, José Sócrates é detido no
aeroporto de Lisboa, vindo de Paris. Por duas vezes adiara a viagem de
regresso, pois tinha sido prevenido pelo filho de que seria preso ao chegar. Na
terça-feira, anterior, Sócrates almoçara com Pinto Monteiro, antigo Procurador
Geral da República, no Hotel Aviz, em Lisboa e certamente não foi para irem à missa.
Dia 22 juntaram-se em Paris: Sócrates, o seu fiel Amigo Carlos Santos Silva, o
Advogado Trindade Ferreira e, ainda, Joaquim Lalanda de Castro da empresa
Octapharma, para quem o ex-primeiro ministro trabalhava desde que deixara o
governo. Nessa altura já os três estavam presos e já tinham sido apreendidos 17
milhões de euros. Para que não fosse a casa esconder as provas do crime, a ordem de prisão era óbvia. Em vez de ir sozinho, foi acompanhado pelas
autoridades que o investigavam. Assim havia sido no casos dos vistos Gold e
assim acontece aos presos comuns.
Com o congresso do Partido Socialista marcado
para dias 29 e 30, essa decisão foi prontamente contestada pela turbamulta de
comentadores televisivos que na semana anterior, esfregaram as mãos de contentamento
pelo que se passara.
Ainda o alvoroço nacional, com a prisão de
Sócrates ondulava na opinião pública, já o terceiro terramoto desabara à saída
da Prisão de Évora. Os impropérios de Mário Soares, contra «os malandros da
Justiça», alegando que fora manchada «a dignidade do ex-primeiro ministro» que
carreou milhões para a sua Fundação vieram à tona. Pudera!
Duarte
Lima era condenado a dez anos de cadeia pela fraude gigantesca que praticara ao
comprar por cinco milhões um terreno que lhe permitiu contrair um empréstimo de
42 milhões no BPN que nunca liquidou, antes contribuiu para agravar a situação
desse Banco. O Expresso chamou-lhe «o arguido mais importante num caso de
burla, branqueamento e abuso de confiança».
Três
episódios políticos que mostram as gangrenas da democracia que pela primeira
vez faz furor.
Sempre fui solidário com os meus
comprovincianos. É a minha marca distintiva. Tenho procurado nas minhas
crónicas ocasionais, não os beliscar. Mas aprendi que, nisto como em tudo,
«quem as faz que as pague». Nos últimos tempos Trás-os-Montes tem dado muitos
políticos de proa à vida nacional: José Sócrates, Durão Barroso, Passos Coelho,
Duarte Lima e Armando Vara são os mais sonantes. Estes dois últimos
desiludiram-me pelas piores razões. Durão Barroso foi aquele que mais longe
chegou. Foi polémica a sua aceitação para a Comissão Europeia. Provocou uma
crise interna. Mas prestigiou a Europa, revelou o domínio de várias línguas,
dignificou Portugal, foi o único reeleito para um segundo mandato. E só alguns
adversários compatriotas o depreciam. Passos Coelho tem vindo a ser o Salazar
dos século XXI: sério, corajoso, escravo da palavra (embora violando as
promessas eleitorais) e, sobretudo, honesto e coerente ao amortizar as dívidas
do país, reabilitando a credibilidade internacional. Nada me deu que tenha de
agradecer-lhe, tal como qualquer funcionário público. Antes nos tirou e vai continuar a tirar parte daquilo que era
intocável: a reforma. José Sócrates teve boa presença na vida pública, uma
primeira votação honrosa no primeiro mandato, aguentando-se bem até à queda.
Como a mãe dos seus filhos disse quando o visitou na cadeia de Évora, ele tem um bom «aspecto filosófico».
Mas não basta parecê-lo...
Agora que o Partido socialista já arrumou a casa e António Costa deixará de
estar à janela na Câmara de Lisboa, como José Seguro lhe deitou à cara, que
mostre o que vale porque é preciso mostrar em obras o que é fácil de prometer
em conversa fiada. Aconselhe Mário Soares a
ser mais justo com aqueles que na justiça estão a responsabilizar os
políticos que metem o pé na poça.
Já fui pastor da vezeira. Nessa altura aprendi
que «quem cabritos vende e cabras não tem... de algum lado lhe vem». Duarte Lima já tem para dez anos. E ainda
faltam outros processos. Os prevaricadores dos vistos gold estão muito
bem onde os «malandros da Justiça...» os mandou estar. Eu bato-lhes palmas. E
já agora: pessoalmente gostaria muito que Pinto Monteiro explicasse como é que
se faz para almoçar com um autor de livros num hotel de cinco estrelas, com um
ex-primeiro ministro que em seis anos teve tantos casos bicudos em tribunal,
saindo sempre ileso. Ele e Noronha do Nascimento deverão explicar a decisão que
anulou as escutas que tramaram os onze dos Gold.
Só
assim poderemos dizer que a justiça é igual para com todos...
Barroso da Fonte
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