terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Crimes: quem os faz que os pague - BARROSO da FONTE

Barroso da Fonte
O mês de Novembro de 2014 ficará na história de Portugal por três  abalos sísmicos, em três semanas consecutivas: vistos gold, detenção de José Sócrates e prisão de Duarte Lima. Foram tais e tão escabrosos  estes «casos democráticos» que nem deixaram espaço às televisões, rádios e jornais, nem tempo de antena para  celebrar duas datas históricas: o 25 de Novembro de 1975 e o 1º de Dezembro de 1640.
 O primeiro caso alegrou meio mundo: começou no Parlamento com a pirueta de mau gosto sobre a reposição das  subvenções aos políticos e agudizou-se com a prisão de onze «tubarões» de serviços de alto prestígio interno. Houve detenções inusitadas e, em condições tais que levaram os maiores cépticos a interrogar-se: - será verdade?  Foi uma semana em que a esquerda delirou, atingindo o clímax coloquial, quando o Ministro Miguel Macedo se demitiu.
    Eis senão quando, no dia em que completava uma semana, José Sócrates é detido no aeroporto de Lisboa, vindo de Paris. Por duas vezes adiara a viagem de regresso, pois tinha sido prevenido pelo filho de que seria preso ao chegar. Na terça-feira, anterior, Sócrates almoçara com Pinto Monteiro, antigo Procurador Geral da República, no Hotel Aviz, em Lisboa e certamente não foi para irem à missa. Dia 22 juntaram-se em Paris: Sócrates, o seu fiel Amigo Carlos Santos Silva, o Advogado Trindade Ferreira e, ainda, Joaquim Lalanda de Castro da empresa Octapharma, para quem o ex-primeiro ministro trabalhava desde que deixara o governo. Nessa altura já os três estavam presos e já tinham sido apreendidos 17 milhões de euros. Para que não fosse a casa esconder as provas do crime,  a ordem de prisão era óbvia.  Em vez de ir sozinho, foi acompanhado pelas autoridades que o investigavam. Assim havia sido no casos dos vistos Gold e assim acontece aos presos comuns.
 Com o congresso do Partido Socialista marcado para dias 29 e 30, essa decisão foi prontamente contestada pela turbamulta de comentadores televisivos que na semana anterior, esfregaram as mãos de contentamento pelo que se passara.
  Ainda o alvoroço nacional, com a prisão de Sócrates ondulava na opinião pública, já o terceiro terramoto desabara à saída da Prisão de Évora. Os impropérios de Mário Soares, contra «os malandros da Justiça», alegando que fora manchada «a dignidade do ex-primeiro ministro» que carreou milhões para a sua Fundação vieram à tona. Pudera! 
Duarte Lima era condenado a dez anos de cadeia pela fraude gigantesca que praticara ao comprar por cinco milhões um terreno que lhe permitiu contrair um empréstimo de 42 milhões no BPN que nunca liquidou, antes contribuiu para agravar a situação desse Banco. O Expresso chamou-lhe «o arguido mais importante num caso de burla, branqueamento e abuso de confiança».
Três episódios políticos que mostram as gangrenas da democracia que pela primeira vez faz furor.
  Sempre fui solidário com os meus comprovincianos. É a minha marca distintiva. Tenho procurado nas minhas crónicas ocasionais, não os beliscar. Mas aprendi que, nisto como em tudo, «quem as faz que as pague». Nos últimos tempos Trás-os-Montes tem dado muitos políticos de proa à vida nacional: José Sócrates, Durão Barroso, Passos Coelho, Duarte Lima e Armando Vara são os mais sonantes. Estes dois últimos desiludiram-me pelas piores razões. Durão Barroso foi aquele que mais longe chegou. Foi polémica a sua aceitação para a Comissão Europeia. Provocou uma crise interna. Mas prestigiou a Europa, revelou o domínio de várias línguas, dignificou Portugal, foi o único reeleito para um segundo mandato. E só alguns adversários compatriotas o depreciam. Passos Coelho tem vindo a ser o Salazar dos século XXI: sério, corajoso, escravo da palavra (embora violando as promessas eleitorais) e, sobretudo, honesto e coerente ao amortizar as dívidas do país, reabilitando a credibilidade internacional. Nada me deu que tenha de agradecer-lhe, tal como qualquer funcionário público. Antes nos tirou  e vai continuar a tirar parte daquilo que era intocável: a reforma. José Sócrates teve boa presença na vida pública, uma primeira votação honrosa no primeiro mandato, aguentando-se bem até à queda. Como a mãe dos seus filhos disse quando o visitou na cadeia de  Évora, ele tem um bom «aspecto filosófico». Mas não basta parecê-lo...
 Agora que o Partido socialista já  arrumou a casa e António Costa deixará de estar à janela na Câmara de Lisboa, como José Seguro lhe deitou à cara, que mostre o que vale porque é preciso mostrar em obras o que é fácil de prometer em conversa fiada. Aconselhe Mário Soares a  ser mais justo com aqueles que na justiça estão a responsabilizar os políticos que metem o pé na poça.
 Já fui pastor da vezeira. Nessa altura aprendi que «quem cabritos vende e cabras não tem... de algum lado lhe vem».  Duarte Lima já tem para dez anos. E ainda faltam outros processos. Os prevaricadores dos vistos gold estão muito bem onde os «malandros da Justiça...» os mandou estar. Eu bato-lhes palmas. E já agora: pessoalmente gostaria muito que Pinto Monteiro explicasse como é que se faz para almoçar com um autor de livros num hotel de cinco estrelas, com um ex-primeiro ministro que em seis anos teve tantos casos bicudos em tribunal, saindo sempre ileso. Ele e Noronha do Nascimento deverão explicar a decisão que anulou as escutas que tramaram os onze dos Gold.
Só assim poderemos dizer que a justiça é igual para com todos...
                                                                                                         Barroso da Fonte



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