VASCO PULIDO VALENTE 15/11/2014 - 03:01 - Jornal Público
António Costa passou de uma
promessa a uma dúvida.
Os tempos de facilidade e de
aclamação acabaram. António Costa passou de uma promessa a uma dúvida. A
política – sobretudo a política orçamental – da Câmara de Lisboa começa a ser
examinada a sério. Chegou tarde, mas chegou, o fim do pequeno comício semanal
na “Quadratura do Círculo”.
Para preservar um pouco da aura
de antigamente, Costa tenta não falar e, quando fala, não dizer nada. Só que um
candidato a primeiro-ministro, queira ou não queira, tem de falar. Desta vez,
foi uma entrevista à RTP para apresentar a sua moção ao congresso do partido –
a única, de resto. Infelizmente para ele, não se arranjaram mais de 800 000
portugueses para o ouvir (e a concorrência ganhou a noite). Como sinal de
entusiasmo é fraco e, além de fraco, muito lógico.
O prodígio António Costa não saiu
do calão em uso, nem das generalidades mais rasteiras. Primeiro, não se
comprometeu a diminuir a austeridade num futuro previsível. Mais prudente e
vago, acenou de longe com a possibilidade de “travar a regressão social” (o que
não significa nada) e em “estabilizar e
começar a inverter o ciclo para crescer” (o que significa menos). Quanto ao pão
e à manteiga, pretende uma “política de rendimentos” segura e previsível. Vai
repor as pensões (como eram antes dos cortes) e deixar por enquanto os salários
do funcionalismo à providência do Altíssimo. A sobretaxa, ao que parece, ainda
está para durar; e o desemprego também. Nestas coisas, todo o cuidado é pouco e
Costa não tenciona criar ilusões à sua tresloucada esquerda.
Sobre a dívida, não houve o mais
vago sinal às fantasias dos 74. Pensa num “debate a nível técnico e académico”
(que certamente nos sossegará) e em “encontrar uma solução a nível da Europa”,
que se reduzirá, suponho, a um “debate a nível técnico e académico”,
porque Portugal não pesa, nem decide.
Costa gostaria, claro, que os credores espontaneamente nos desculpassem uma
parte da dívida ou que um investimento indeterminado (mas por força grandioso)
nos “libertasse do garrote”. Ninguém o deve impedir de se consolar com a ideia,
que até o dr. Cavaco, num estilo mais presidencial, acha “positiva”. A educação
do dr. António Costa já começou. Calculo que seja dolorosa e espero que seja
profícua. Que mais se pode, no fundo, esperar dele?
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