Numa das minhas visitas a Espanha retive uma
palavra que, doravante, irá fazer parte do meu acervo lexical. Trata-se de populicultura.
Tal palavra identifica a actividade ligada ao cultivo dos choupos, cuja
designação latina é populus.
A populicultura
tem, no país vizinho, uma importância económica notável, o que não acontece em
Portugal, onde o choupo pouco mais é do que mera árvore ornamental. Em Espanha,
sobretudo em “Castilla y León”, a madeira de choupo é das mais apreciadas para
o fabrico de móveis e a produção é metodicamente organizada, quer para o
consumo interno, quer para a exportação.
Quando falamos de choupos, importa referir
que existem três espécies principais espontâneas na Europa: choupo negro,
choupo branco e choupo tremedor, cujas designações científicas são, respetivamente,
Populus nigra, Populus alba e Populus
tremula.
Os choupos são árvores caducifólias, da
família das Salicáceas, de
crescimento rápido, muito esguias e elegantes, podendo atingir 35 metros de altura.
Preferem solos soltos e húmidos e clima soalheiro temperado. As raízes são
tremendamente invasoras, pelo que não devem ser plantados junto de edifícios,
dado o risco de danificarem canalizações e mesmo alicerces de prédios. O tronco
é retilíneo, de casca rugosa acinzentada, ou branca (choupo branco) e vai
ganhando fissuras com a idade. A floração surge antes das folhas, formando
amentilhos (espigas simples de flores minúsculas) masculinos ou femininos, em
árvores separadas, uma vez que a espécie é dióica. Os frutos são cápsulas
bivalves ovais com muitas sementes providas de pêlos em tufo, o que favorece a
disseminação pela acção propulsora do vento. As folhas apresentam-se
alternadas, pecioladas, cordiformes e irregularmente lobadas. No choupo negro
as folhas são verde-escuras. No Populus
alba há uma espécie de feltro esbranquiçado na face inferior de cada folha.
A madeira do choupo é leve, branca, macia e
de pouca durabilidade, sobretudo se mantida ao ar livre. É com ela que se
fabricam os paus de fósforo e as colheres de pau. Serve também para fazer pasta
de papel e outros produtos celulósicos, entrando obrigatoriamente na confecção
dos contraplacados.
Os choupos surgem habitualmente nas margens
dos rios e lagos, formando vistosas manchas arbóreas que, no Verão, proporcionam
sombras muito agradáveis. Alguns choupais ficaram famosos, como os do Mondego
que, em Coimbra, serviram de mote a conhecidos fados e canções românticas.
No choupo encontram-se taninos, cera, óleo
essencial, flavonóides, zinco, salicina e outros glúcidos. Importa mencionar
que a salicina dá origem ao ácido salicílico, à semelhança do que
acontece com o salgueiro.
Aproveita-se o carvão feito das respetivas
cascas para curar diarreias, meteorismos e intoxicações. Comprovadamente, actua
como antídoto neutralizante de certas intoxicações, pelo seu efeito adsorvente
e absorvente.
Os rebentos, ou gemas, têm propriedades
diuréticas, sudoríficas, anti-sépticas, analgésicas, cicatrizantes, febrífugas
e expectorantes. São, por isso, recomendados para preparar numerosas mezinhas
destinadas a aliviar cistites, gota, hipertensão, edemas, faringites,
bronquites, enfisema, asma, hemorróidas, queimaduras e males da próstata.
Eis uma receita incluída em “Medicina pelas
Plantas”, do Dr. Oliveira Feijão, destinada especialmente a doentes débeis e
tuberculosos:
Macerar durante oito dias e coar espremendo.
Tomar um cálice a cada refeição.
Ainda uma nota para uma curiosa indicação
micológica. O Agrocybe aergerita, é um cogumelo que surge junto dos troncos
envelhecidos e carcomidos dos choupos e é comestível.
E pronto, creio que após este simples e
despretensioso texto, os leitores irão ver os choupais com outros olhos.
Miguel Boieiro
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