Vasco Pulido alente in: jornal Público |
Nas
tabernas, nos cafés, nas lojas, em cada casa e em cada emprego não se discutirá
outra coisa senão a culpa ou a inocência de Sócrates. Ninguém lerá uma linha ou
pensará um segundo nos programas dos partidos (para uma década ou para um
século) ou pensará um segundo no que eles disserem sobre a salvação da Pátria.
A Pátria empobrecida e sem muita esperança de enriquecer tão cedo substituiu a
ideia de “enriquecer” pelo rancor aos políticos que a levaram a esta situação,
venham eles de onde vierem e tragam o que trouxerem. O que o eleitorado quer é
meia dúzia de bodes expiatórios – capítulo em que Sócrates, para mal dele,
tirou o principal lugar a Pedro Passos Coelho. Quando se passa miséria e fome,
ninguém se lembra de discutir o défice ou a maravilhosa “diminuição” do
desemprego, em 2,1%.
Não
existe maneira de insultar o défice ou de exaltar uma teórica descida do
desemprego. Mas sem dúvida que existe maneira de aliviar a raiva insultando ou
louvando uma pessoa. E a raiva irá por uns tempos mandar em Portugal. Não
tardará muito que a Internet se encha de centenas de abaixo-assinados, de
protestos, de cartas e até de subscrições para acudir às dificuldades da
família do motorista Perna. Mais tarde ou mais cedo, os notáveis de Lisboa ou
de Alvaiázere (e quem nesta terra não é notável?) não resistirão a opinar sobre
o caso; e outros notáveis responderão aos primeiros com diatribes sangrentas.
Acredito que Passos Coelho e António Costa se esforcem os dois para discutir
problemas sérios. Resta saber quem se ralará com essa retórica petrificada e,
no fundo, inútil.
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