VASCO PULIDO VALENTEFonte: PÚBLICO |
António
Costa ganhou as “primárias” por inteiro mérito de Seguro. Não vale a pena
repetir que Seguro foi um péssimo secretário-geral e um desastroso candidato.
Esse, esperemos, passou à história. Mas Costa não passou. Pelo contrário, agora
tem de se explicar em público em vez de ouvir olimpicamente, na Quadratura do
Círculo, a oposição que Pacheco Pereira fazia por ele.
E,
passada a vociferação, não é hoje difícil de constatar que não sabemos nada do
presuntivo primeiro-ministro que o PS nos resolveu apresentar. Parece que andou
pelo Governo, que inventou o “Simplex” e que acabou por ser um razoável
presidente da Câmara de Lisboa. Este currículo, embora regular, não deslumbra
ninguém, nem o qualifica a ele para pastorear os portugueses. Costa saiu com
habilidade e uma certa limpeza do demi-monde do PS. Parabéns.
Mas,
no fim dessa aventura, o país continua sem saber o que ele quer. Pior ainda, e
a começar por mim, o país não o conhece. Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, era
um brilhantíssimo aluno na Faculdade de Direito. Depois trabalhou no escritório
de advogados de Jorge Sampaio, Vera Jardim e Júlio Castro Caldas. E a seguir
(suponho) na Assembleia da República. O que não o distingue dos milhares de
indivíduos da classe média e da idade dele que tentaram a mesma carreira. Esta
bagagem típica e ligeira mostra só a superfície do homem. Para falar
francamente, e tirando o seu desatinado amor pelo PS, não há maneira de apurar
o que ele pensa: sobre a situação da Europa e do mundo, sobre a farsa da
reforma do Estado, sobre a dívida e o défice, sobre a educação e a saúde, sobre
a Segurança Social e por aí fora. Por mim, e sem maldade, desconfio que muito bom
português votou num buraco.
Seja
como for, António Costa talvez se pudesse revelar (e é de uma revelação que no
fundo se trata) através da gente que goza da reputação (neste momento
invejável) de o ajudar e aconselhar. Acontece que os jornais trazem umas
dezenas de nomes, mas nem um único tem uma reputação nacional e, com meia dúzia
de excepções, quase todos seguiram a via-sacra, que o próprio Costa no seu
tempo seguiu: partido, adjunto (ou assessor), uma freguesia qualquer, uma
ignota secretaria de Estado e expedientes do estilo, perfeitos para provar a
“fidelidade” ao “chefe” e para o servir. As “primárias” substituíram o deserto
que rodeava Seguro por outro deserto, que não animará o país daqui a três
meses.
Sem comentários:
Enviar um comentário