terça-feira, 2 de setembro de 2014

Os heróis de Amerli


Habitantes de Amerli (Iraque)

Três meses depois da pesada derrota turca de Sarikamish (no ano de 1915), frente às tropas russas, o governo de Istambul delibera contra a população arménia um conjunto de medidas e operações que considera como o “restabelecimento da ordem na zona de guerra”. O que deu origem a um homicídio colectivo praticado à escala do país, diante dos olhos dos representantes da comunidade internacional. Este genocídio, nunca reconhecido pela Turquia, foi denunciado através de inúmeros relatórios que fazem parte da antologia publicada desde 1916, por James Bryce, presidente da Associação Anglo-Arménia, que recorreu à colaboração de um jovem historiador de Oxford, Arnold Toynbee, com o titulo Livre bleu du gouvernement britannique concernant le traitement dos Arméniens dans l'empire ottoman.

Mulheres e crianças resgatadas pelo exército Iraquiano
e pelos Peshmerga Turcos, com a ajuda da 
aviação americana

Com o Relatório Secreto do pastor Johannes Lepsius, a dissertação do embaixador americano Mongenthau e o testemunho do jornalista alemão Harry Stuermer, temos o conhecimento fiel daquilo que Toynbee designou de  “o homicidio de uma nação”.
A lei provisória de deportação de 27 de Maio de 1915, promulgada pelo governo de Istambul, dá assim cobertura legal a esta gigantesca operação de deportação dos Arménios da Anatólia. Dos cerca de 1.400.000, apenas 300.000 se conseguiram refugiar na Rússia. Os restantes foram mortos (cerca de 800.000) ou reduzidos, nos campos de morte em Alep, a uma condição  semelhante à dos judeus na Alemanha Nazi.
A deportação geral atinge todas as províncias da Cilícia, sem qualquer resistência por parte da população.

Mas como toda a regra tem a sua excepção, ela surge em Mussa Dagh. Aí, a acção heroica de 4000 homens repeliu todas as investidas dos soldados turcos até serem socorridos por uma esquadra da Marinha francesa.
Esta história, contada no célebre romance de Franz Werfel, Os 40 Dias de  Mussa Dagh, lembra-nos a heroica acção dos habitantes de  Amerli, no Iraque de hoje.
Enquanto os habitantes das outras cidades se foram submetendo ao ISIS, sem resistência, os habitantes de Amerli, a partir do dia 18 de Junho, optaram por deixar as suas plantações e pegaram nas armas, resistindo como puderam durante dois meses (!), à investida dos delinquentes do ISIS,  até serem resgatados pelas tropas do seu país (Iraque), com a ajuda da aviação americana e dos soldados Curdos (os Peshmerga).

                                                                                                        Armando Palavras


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