segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Os Anjos de Mons

                                                                     
Dedicado a todos os que tombaram em batalha na Primeira Guerra Mundial


A 23 de Agosto de 1914, nas cercanias de Mons (Bélgica), as tropas da Força Expedicionária Britânica, comandada pelo marechal John French, confrontaram-se inesperadamente com o magnifico 1º Exército alemão, sob as ordens de Alexander von Kluck, cuja força era superiormente esmagadora.
Os ingleses foram forçados a retirar, e o desfecho não foi fatal porque a aviação, na sua tarefa de reconhecimento, conseguiu avisar os britânicos sobre os movimentos do Exército alemão e sobre o alcance da sua artilharia.
A operação de retirada desenvolveu-se com tal sorte que poucas semanas depois do acontecimento, se generalizou o rumor de que a salvação do Exército britânico fora milagrosa. Durante a jornada fora observada  uma legião de anjos que viera em seu auxilio.
Havia necessidade de literatura heróica para motivar os soldados nas trincheiras. E nesse sentido, o escritor galês Arthur Machen[1], conhecido pelos seus contos fantásticos[2], foi solicitado pelo The Evening. E Arthur, ao correr da pena, mas dentro do seu estilo, escreveu um texto que intitulou The Bowmen (Os Arqueiros). O jornal publicou-o a 29 de Setembro desse ano. Um mês e seis dias depois do acontecimento. Nesse escrito,  Machen imaginara um episódio dessa batalha: São Jorge à frente de uma legião de anjos, os antigos archeiros de Azincourt[3], viera em auxilio do exército britânico.
Várias dezenas de soldados escreveram para o jornal dizendo que o senhor Machen nada inventara. Eles próprios poderiam testemunhar sob a sua honra. Com os seus próprios olhos tinham observado, diante de Mons, os anjos de São Jorge deslizarem para o meio das fileiras.
Não adiantou nada que  Arthur Machen tivesse repetido mais de uma dúzia de vezes, em vários jornais,  que a sua narrativa era pura ficção.
“Essa lenda faz agora parte da mitologia popular e anda na boca de gente humilde que nada sabe dele”, diz-nos Jorge Luís Borges, na sua Biblioteca Pessoal.

                                                                                     Armando Palavras


[1]Nasceu em 1863, nas serranias de Gales, a antiga Bretanha de antigos sonhos e lendas secretas, e morreu em 1947 na miséria. Em 1943, Bernard Shaw, Max Becerbohn e T.S. Eliot organizaram uma comissão, procurando adquirir fundos para que não acabasse num asilo de  indigentes.
[2]   Arthur Machen foi muito mais do que um escritor de contos fantásticos. Poucos conhecem o seu percurso. Será que certas forças, no episódio de Mons, responderam ao apelo da sua imaginação?
[3]  A batalha de Azincourt desenrolou-se em 1415, na Guerra dos Cem Anos. Nela os arqueiros ingleses tiveram um papel determinante na vitória brilhante dos ingleses.


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