Barroso da Fonte |
Dia 17 de
Setembro de 2014 perfaz 170 anos que foi enforcado no Carvalho da Forca, em
Montalegre, José Fernandes Begueiro, natural de Venda Nova e/ou de Codeçoso do
Arco. Nascera em 1815, filho de Senhorinha Fernandes Begueiro, viúva.
No vol.
XI da obra Portugal Antigo e Moderno,
pp. 1326/1332, na entrada sobre Vilarinho do Arco, também na altura mais
conhecida por Vilarinho dos Padrões, freguesia da Venda Nova, pode ler-se:
“acusado de haver, bárbara, aleivosa e traiçoeiramente, assassinado e roubado
em Abril de 1838, na serra das Alturas de Barroso, Inácia Joaquina, viúva de
António José da Costa e o menor Francisco, ambos da cidade de Braga, o juiz de
Montalegre, por sentença de 21 de Janeiro de 1840, condenou-o à pena de morte,
na forca erguida no campo do Toural da Vila de Montalegre. Essa sentença foi
confirmada por acórdão de 12 de Agosto de 1842. Recorrendo, foi-lhe negado o
recurso, pelo acórdão de 12 de Maio de 1843. Por portaria de 28 de Agosto de
1844 foi comunicado ao Presidente da Relação do Porto que S. M. não houve por
bem, usar da sua real clemência a favor do réu”.
Na
referida fonte, agradece-se o relato sobre este enforcamento, ao Padre José dos
Santos Moura, natural da aldeia do Cortiço e, ao tempo, pároco de Caíres. Aí se
chama a atenção para o tomo IV, p 142, da Revista
Universal Lisbonense, onde se publicou integralmente a sentença que o então
Juiz de Direito de Montalegre, dr. João Carlos de Oliveira, lavrou contra o
réu. Diz-se aí que o Begueiro “foi preso numa taberna na Venda Nova, no dia 25
de Maio de 1838, armado com um pau de choupa e uma faca de mola”. Mais se diz
aí que “desde a sua infância se tinha associado com ladrões, salteadores e
assassinos. Tinha a tendência para ladrão, salteador e assassino. O júri deu
como provado o crime com todas as circunstâncias agravantes do libelo
acusatório”.
Lê-se na
mesma fonte que foi lida nessa altura uma Carta ou Memória escrita por um
contemporâneo do réu que o assistiu no oratório, onde se podia ouvir: “O réu
foi conduzido da cadeia da Relação do Porto para Montalegre, por uma escolta de
Infantaria nº 2. Seguiu a estrada de Ruivães e, quando passou nas Alturas,
junto ao local onde cometeu os dois crimes, tirou o chapéu e orou largo tempo.
Chegou a Montalegre no dia 13 de Setembro de 1844, pelas 10 horas da manhã.
Entrou logo na prisão, comendo e
fumando, como se não pensasse na sua triste sorte. Declarou que eram inúteis as
cautelas para não se suicidar, porque queria morrer como cristão. No dia 15
chegaram a Montalegre os executores. Estava ele jantando, mas vendo-os,
entristeceu-se e não acabou o jantar. À uma hora foi intimado a entrar no
oratório. Despediu-se das pessoas que através das grades o observavam, pedindo
perdão a todos e que orassem pela sua alma. Em seguida entrou resoluto no
oratório”.
O relato
deste XI volume do dicionário de Pinho Leal descreve nas pp.1330/1331 a forma
colaborante de Begueiro, que pode ter fugido, na noite de 16 para 17 de
Setembro. A meio da noite reparou que todos dormiam sossegadamente. O Begueiro
saiu como se nada se passasse. Já no exterior, nem lhe passou pela cabeça
evadir-se, porque estava arrependido dos crimes e teria que pagar por eles.
Aconteceu
este episódio há 170 anos. Ainda existe à entrada da Câmara Municipal de
Montalegre a árvore da forca. É um carvalho com mais de dois séculos de
existência, já considerado monumento de interesse municipal.
Lê-se
ainda na mesma fonte: “nos fins do último século na estrada da ponte (do Arco
na Venda Nova) ocorreram cenas horrorosas. Passando por ali um estudante da
freguesia de Calvão, Chaves, vindo de Coimbra em o gozo e férias, foi ali
roubado e barbaramente assassinado, por ter mostrado, em Ruivães, onde comera,
um anel de ouro. Os assaltantes e assassinos eram galegos. Foram presos,
julgados e condenados à morte, em Montalegre. As suas cabeças foram colocadas
no alto de postes na mesma ponte, até serem devorados pelo tempo e pelos pássaros.
O mesmo informador escreve que, já depois do enforcamento do Begueiro, foi
condenado à morte, por fuzilamento, em Chaves, um desertor que por duas vezes
tentou assassinar o Padre João Gonçalves, pároco de Sarraquinhos. Citado como
sendo o Pintor de Vilar de Perdizes, foi preso, condenado e fuzilado. Antes da
morte pediu para ser confessado pelo padre que tentara matar. Este facto reli-o
no dicionário de Pinho Leal, nestas férias, em Codeçoso.
Barroso da Fonte
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