sexta-feira, 11 de julho de 2014

Jorge Lage - NOTAS DE RODAPÉ (110) - I -Poda de árvores em espaços urbanos (em Mirandela)



Jorge Lage
1- Poda de árvores em espaços urbanos (em Mirandela) – A maioria dos municípios não sabem podar as árvores dos espaços urbanos. Podam as árvores como se fossem roseiras ou videiras. E não são. São árvores. A maioria dos nossos homens do campo poda melhor as árvores que os técnicos camarários. Acho que o pior começa logo por alguns ignorantes arquitectos (no tratamento das árvores) ou alguns engenheiros das soluções fáceis. O mundo mudou e o gosto pela beleza das árvores, pela sua generosidade e pela responsabilidade da qualidade do ar urbano e frescura no Verão é reclamado por muitos munícipes e visitantes. Quando, há uns anos, critiquei as podas das árvores em Mirandela, o que fez o então Presidente, José Silvano, foi mandar tirar um curso aos podadores. Depois, elogiei as podas mais humanas e que davam melhor qualidade de ar na cidade, melhor sensação de bem-estar e mais frescura no Verão. Hoje, os responsáveis pelas árvores nos espaços urbanos em Mirandela já plantam árvores de pequeno porte em algumas ruas mais acanhadas, para não assustar os empertigados donos de alguns quintais. Donos? Não! Usufrutuários por alguns anos, até o S. Pedro lhes enviar a carta de chamada. Mas, parece-me, com alguma pena minha, que há necessidade de se tirar outro curso ou pelo menos de terem uma explicação prática, porque podar uma árvore tem de ser um acto de amor e de respeito. Este cortelho de letras veio a propósito de ter visto na rua Manuel Maria Pires uma poda à «foge que te agarro». Não havia necessidade daquilo! Bastava cortar um ramo ou outro no meio para abrir a pequeníssima copa. A pouca sombra era ouro no Verão para quem ali estacionava as viaturas. Mas a refrescante sombra é, apenas, mais um aspecto das muitas vantagens. Se não quiserem sujeitar-se ao contributo de quem sabe por Mirandela, indico o Município de Guimarães como modelo na poda das árvores nos espaços urbanos. Como um bem nunca vem só, Guimarães é Património Mundial da Humanidade.















2- Onde se come bem? – A panela ao lume era o distintivo de uma boa refeição, na primeira metade do século XX, pelo menos para uma alimentação saudável. Hoje, continuo a pensar que se come bem onde entram as refeições tradicionais, desde os produtos escolhidos até ao modo de cozinhar. Quem sabe melhor se a comida é boa ou fraca é o meu (e o seu) estômago, o meu olfacto e o meu paladar. O estômago não se engana. Há dias convidei dois amigos para jantarem num restaurante afamado. Não gostei do tom laudatório do dono e mestre-de-cerimónias. Comecei logo por achar os cardápios um pretensiosismo ao terem o nome de gente das letras. Porque me pareceu que pouco perceberia dessa lavoura. Apenas lhe disse que era amigo do maior coleccionador de livros (com cerca de 500) sobre Soror Mariana Alcoforado e não esboçou o mínimo interesse. O objectivo do jantar era um meu amigo e dos mais cultos gastrónomos do país conhecer os vinhos produzidos pelo outro convidado. Mas, o patrão da casa já queria trazer a carta de vinhos que eu eliminei duma estucada. Nas entradas apresentou um presunto de porco bísaro criado em Porto d’Ave – Póvoa de Lanhoso e o meu olfacto e o paladar ficaram cegos e mudos. Só para verem a discrepância entre o que se come e o que se paga, quando vou almoçar, por exemplo, ao restaurante Loureiro, em Mirandela, a entrada de excelente salpicão, com que mima os clientes, e toda a refeição é mais barata que a entrada de presunto neste em questão. Na mesma refeição, atirou o dono, ainda, com uma alheira de entrada para a mesa sem que lhe fosse pedida. Como ninguém lhe tocava e as fatias de presunto estavam lá quase todas, insistiu para provarmos (leia-se, para facturar) a melhor alheira, dizia ele. Foi a alheira mais picante que eu já comi e até gosto muito de picante. Contudo, o picante não conseguiu disfarçar o azedo da alheira. Ficaríamos por aqui se não fossem os vulgares filetes de boa pescada. Esta requeria algum tempo a marinar. Uns bons filetes serão parecidos com os que a minha mulher me apresenta. Como se não bastasse, traz ao meu convidado vindo de Lisboa (de Bragança) umas cerejas inchadas mais próprias para usar de arma de arremesso na guerrilha urbana. Por mais que me gabem um local, se o prato é fraco, nunca direi que é bom, como aconteceu na «meia perdiz à Cartuxa», mas desenxabida, que me serviram no afamado restaurante Fialho, em Évora. Prefiro aspirar só o aroma das perdizes que a minha mulher estufa, segundo a boa tradição. Por isso, amigo leitor, se tiver em casa uma boa cozinheira, como eu, valorize esse privilégio único e raro.

Actualizado em 12 de Julho, 2014

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