Barroso da Fonte |
Pesquisando
ilustres cidadãos nortenhos com vista à
reedição de uma obra que escrevi entre 1998 e 2003, delicio-me em
leituras como o Dicionário Bibliográfico Português da autoria de
Inocêncio Francisco da Silva (1810-1876), em Pinho Leal (1816 –1884) , em
António Carvalho da Costa (1650-1715, Abade de Baçal (1865-1947), etc. Estes nomes são meros exemplos num universo
de muitos milhares de autores dos últimos séculos que partiram do zero para
marcarem saltos qualitativos no rasto da cultura global. O ditado define um
«velho como poço de sabedoria». Uma feliz definição. Séculos antes do nosso e,
enquanto não houve escolas públicas, para que todos os cidadãos pudessem aprender,
eram pessoas singulares que ensinavam cultura geral, ora em casa, ora em locais
públicos. Hoje barafusta-se por tudo e por nada, exigem-se todos os tipos de formação, no pressuposto de que o
Estado corresponda em empregos qualificados para todos quantos se vão formando.
Se o Estado fosse obrigado a dar emprego a quem possui formação superior, só
os formados teriam emprego garantido. E
os outros?
Trás-os-Montes
e Alto Douro, sobretudo nas zonas periféricas, sempre padeceu do isolamento
mais agressivo e mais penoso para quem mais afastado esteve dos centros
urbanos. Valeram, pelos tempos fora, aqueles que se destacaram nas artes e nas
letras e que tiveram propensão para ensinar
às comunidades locais, parte daquilo que sabiam e que, com esses
acréscimos de saber popular, acrescentaram novos conhecimentos. Em toda a
região nortenha ficaram nomes de padres, seculares, ou religiosos, ou
ex-seminaristas que souberam adicionar saberes àquilo que fizeram da cultura
popular uma espécie de laboratório de aprendizagem permanente.
Os exemplos que acima menciono são
elucidativos. Consulta-se hoje a Corografia Portuguesa. O seu Autor, A.
Carvalho Costa, os 25 volumes do Dicionário Bibliográfico
Português de Inocêncio Francisco da Silva e os 11 tomos do Abade de Baçal e
fica-se a saber quão importantes foram estas (e outras fontes) para que
autênticos esteios da cultura popular e científica pudessem alicerçar o
conhecimento global da sociedade Portuguesa.
Sobressai desta fórmula natural e
consensual o dever cívico de elogiar
todos quantos, voluntariamente, disponibilizaram o seu saber e a sua
generosidade, para construírem um clima sóbrio, sólido e coerente de formação e
informação universal.
Impera na opinião pública o
convencimento de que a Instituição Religiosa privilegiou, ao longo dos séculos,
o altruísmo, o humanismo e a solidariedade entre os diversos segmentos das
sucessivas gerações. Esse sentimento de gratidão é transversal e é latente na
alma da esmagadora maioria dos portugueses, de sempre.
É-me grato aflorar esta manifestação,
enquanto católico, enquanto seminarista diocesano e enquanto, durante cinco
anos, aluno da Universidade Católica. Presumo que este sentimento é comum a 90%
de ex-alunos do seminário de Vila Real e de licenciando da Faculdade de
Filosofia de Braga.
Ao
compulsar, agora, na terceira idade, as fontes acima referidas e outras que ao
longo da vida consultei, apraz-me saudar, convictamente, todos quantos, ao
serviço da Igreja e do dever social que
qualquer Estado deve garantir aos seus concidadãos, vergo-me perante a
memória de alguns desses beneméritos que morrem silenciados e nunca mais deles
se fala.
Seria
fastidioso enunciar dezenas, centenas, milhares de beneméritos que nos
antecederam e que nalguns meios são perpetuados, enquanto outros, por
idealismo, por ressentimento ou por perseguição sistemática, nem sequer admitem
a sugestão do seu nome.
Citei, há meses atrás, nalguma
imprensa, o nome de D. Joaquim da Boa Morte Álvares de Moura (1814-1903).
Nasceu em Medeiros (Montalegre) e faleceu em Santo Emilião (Póvoa de Lanhoso),
onde jaz. O insuspeito escritor Raul Brandão escreveu um livro (o Padre)
e chamou-lhe «Filósofo e Santo». Na sua campa rasa nunca faltou o azeite, nem
faltaram diariamente as invocações, porque o povo sempre acreditou na sua
piedade e transcendência. Encontra-se na Santa Sé o processo da sua
beatificação. Dia 14 de Janeiro último fez 200 anos que nasceu.
O Padre José Rodrigues Liberal Sampaio
(natural de Cervos), Montalegre foi outro Barrosão que nunca se homenageou. O Abade José Adão
dos Santos Moura, o Padre João Carvalho, o Padre Caridade, o Padre Domingos
Barroso, autor do livro, o Perdigueiro Português são nomes que dizem
muito ao Povo Barrosão. Em cada concelho
do país há outros nomes, de padres e leigos, que deram a outros muito do que sabiam e podiam. De
tudo isso se fez o povo que somos. Cada geração deve ser grata para com os seus
líderes, recordando aqueles que souberam educar os vindouros. Respeitando os mortos
honram-se os vivos, porque estes aprendem
sempre com os bons exemplos.
Barroso da Fonte
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