terça-feira, 13 de maio de 2014

Um Pedaço de Portugal, suspenso no alto mar - II



COSTA PEREIRA
  Portugal, minha terra.
Na sequência do que sob o tema em epígrafe anteriormente foi expresso e prometido, voltamos de novo ao assunto, agora para maravilhados descer dos despovoados picos e caldeiras do interior da ilha do flamengo Jácome de Bruges até à orla costeira que povoada ao longo de quase todo o perímetro toma a urbana configuração de um "rosário" ou aba de "capote". Para trás, no ermo, deixamos o saliente e irregular relevo que o enérgico labor vulcânico desenhou na geografia da ilha, e uma exuberante vegetação reveste de variada cor e serve ao mesmo tempo de  abrigo edénico a uma fauna abundante e diversificada. Mas descer do "sertão" sem realçar o labor humano, evidenciado no zelo e aproveitamento do solo arável, seria menosprezar o génio empreendedor do homem português que descobrindo no meio do Oceano Atlântico um pedaço de terra selvagem e pedregosa de pronto iniciou o ordenamento da paisagem e exploração do fértil terreno, arroteando veredas e limpando um solo então apinhado de pedra negra que a seguir utilizou na construção de muros limitadores da propriedade rural, os típicos "cerrados" açorianos hoje destinados, na maior parte, a pastagem e dormitório de gado leiteiro.

Uma vez na povoada orla vamos ao contrário dos ponteiros do relógio percorre-la toda, e nessa circunstância começando, na medida do possível, por fazer alusão ao que no trajecto se nos afigure de interesse realçar. E assim sendo, partimos sem mais delongas em direcção à baía da Salga, onde a 25 de Julho de 1581 aportaram 10 navios de Filipe II de Espanha, com cerca de dois mil homens, para invadirem a ilha, que entretanto os populares liderados por Brianda Pereira, Ciprião de Figueiredo e Frei Pedro de Santo Agostinho, espantando touros e vacas, obrigaram os soldados espanhóis, apanhados de surpresa, a terem de fugir mar dentro. Evento que ficou conhecido pela Batalha da Salga e ganho em favor da causa do Prior do Crato. O feito está localmente assinalado e na "tasca do Sr. Agostinho" ainda hoje é ali muito comentado. Mais adiante fica São Sebastião, das primeiras localidades da ilha a serem povoadas e a receber foral de vila. A seguir temos Porto Martins, zona de piscinas naturais e único sítio da ilha onde se dá bem a oliveira. Depois surge a velha Praia que por decreto de 7 de Janeiro de 1837 passou a designar-se por Vila da Praia da Vitória, em sinal de reconhecimento pelo êxito da batalha que ali se travou a 11 de Agosto de 1829 em defesa da causa liberal. E continuando pelo forte do Espirito Santo, no sentido da ponta da Serra das Lages, Vila Nova e Ribeira de Agualva vamos dar connosco na ponta dos Biscoitos. Se durante o percurso reparemos com atenção para o interior da fértil planície, demos conta dos muitos vestígios que ainda restam e reflectem a causa e reputação local do termo Ramo Grande, vocábulo que foi usado para qualificar e realçar a produtividade e abundância agrícola de certa zona ou sub-região da ilha. Abundância que veio mais tarde a "transparecer numa arquitectura caracterizada pelo uso de cantaria trabalhada a picão e cinzel, nos cunhais, nas escadas e na vergas das janelas e portas. Nos grandes pátios podiam ver-se - e ainda se vêem - "os piões ou burras de milho", em pirâmides feitas com quatro varas e travessas onde é pendurado o milho em " cambadas" ou "cambulhões". Era uma forma de arrumar o milho e ao mesmo tempo a alegria e orgulho dos lavradores".

Nas Lages, que foi outrora o "celeiro" da Terceira, além do aeroporto está hoje implantada uma moderna cidade que contrasta com todo o urbano rosto da ilha e se destina apenas às famílias dos militares americanos em serviço na famosa base militar e onde só se pode entrar com autorização da segurança. Mas em contrapartida onde nos encontramos agora a visita ao "Museu do Vinho", na Canada do Caldeira - Biscoitos, da Casa Agrícola Brum Lda. pode fazer-se livre e graciosamente dentro das horas normais de expediente. E vale bem a pena demorar aqui algum tempo na apreciação dos instrumentos museológicos expostos ou a ver, dentro da quinta, a tradicional vinha das ilhas ("verdelho" e "vinho de cheiro", o americano),frutificar à sombra de pequenos espaços murados a que se dá o nome de "curraletos". Daqui, deixando os Biscoitos, com uma "prova" na adega da Casa Brum, e partimos para a ultima etapa desta viagem de circunvalação, passando pelos Altares, Raminho, Serreta - com sua Reserva Florestal e de Recreio,de cujo miradouro se vêem, ao largo, as vizinhas ilhas de São Jorge e Graciosa -, Cruzinhas, Doze Ribeiras e Porto Negrito para finalmente dobrando o Alto das Covas descer pela Rua da Sé ao ponto de partida: o centro da cidade de Angra, de que falaremos noutra oportunidade.

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