Jorge Lage - Preservar a memória e a casa do Herói Milhões
Jorge Lage
Milhões é o do meio, na primeira fila.
Promovida pela sua neta, Leonídia Milhões, e
por um grupo de amigos, está a correr na «net» uma petição para preservar a
memória e a casa do «Herói Milhões». Se fosse em países em que a gente tem uma
visão mais larga e profunda, esfregavam as mãos de contentes. Os espanhóis,
quando não têm melhor, pegam num simples pinheiro e criam uma lenda à sua volta
para promover o turismo cultural e ambiental. Nós temos as lendas construídas
de carne e osso, de sangue e lágrimas e quase tudo fazemos para as apagar em
rios de indiferença e de incultura. Somos uns invejosos! Não percebemos que o
progresso e o desenvolvimento também se constroem com pequenos passos. Esta
campanha de assinaturas e de petição é uma iniciativa louvável. Mas, não se
pode ficar só por aqui, devia criar-se a «Associação de Amigos do Herói
Milhões» e pôr alguém com dinamismo à frente do movimento que seja
empreendedor. Um segundo passo será implicar o Município de Murça e o seu
Presidente. Como homem de cultura e de acção, João Luís Fernandes não vira a
cara a desafios. Não acredito que se deixe influenciar por gente de visão
mesquinha. E a criação da «Casa-Museu Herói Milhões» (alavancada pela memória
da terra), estou em crer que deverá avançar. Pode começar-se pelo levantamento
do seu espólio documental, dos objectos de uma casa rural do seu tempo e do
material em suporte electrónico. Ao fazer-se esta recolha está também a
preservar-se a «Memória das Terras de Murça». Aparecia assim o Herói Milhões
como motivo principal, mas a Casa-Museu teria mais leituras. A casa do Aníbal
Augusto Milhais, seria restaurada e ampliada. Depois criava-se um circuito
turístco-gastronómico tradicional, que contemplaria os miradouros, a Adega da Porca,
o «Azeite de Murça» as especialidades de pastelaria de Murça e o património
cultural da vila. O Herói Milhões e Murça merecem que se atire uma pedrada para
o charco da indiferença e do esquecimento, do empobrecimento e do despovoamento
de terras tão férteis e estrategicamente situadas junto à A4. O Aníbal Milhais,
no dia 9 de Agosto de 1918, foi um homem com muita sorte a par de grande
coragem, conseguindo levar sempre a melhor sobre os alemães que se lhe
deparavam pela frente. Antes, já tinha salvo de afogamento um oficial do
exército escocês e no dia 13 terá retirado uma criança presa nos escombros duma
casa. Ficamos à espera de boas novas para bem da memória e da história de Murça
e de Portugal, escrita na batalha de La Lys pelo
único soldado raso distinguido com a mais alta condecoração do país: A Ordem da
Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito. Tive a dita de estar junto ao Herói
Milhões na manhã do 10 de Junho de 1967, em frente à igreja dos Clérigos, em
Vila Real, trazia um fato domingueiro escuro e um vistoso colar de onde pendia
a medalha da bravura e da coragem.
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