quarta-feira, 2 de abril de 2014

Jorge Lage - NOTAS DE RODAPÉ (105)



Jorge Lage
1- O meu pai é muito rico – É sabido que muitos pais transmitem aos filhos uma ideia desajustada da modéstia em que habitualmente vivem. Vão-lhes dizendo para não acompanharem com os meninos que são pobres porque, assim, é rebaixarem-se. Depois, os meninos, quando começam a olhar para a sombra, insinuam riquezas que não ostentam porque os pais, apesar de ricos, são uns forretas. Eles até podiam comprar-lhe um bom carro desportivo. Assim, impressionam rapazes e raparigas com quem acompanham, conforme são fêmea ou macho, pressupondo que não são do clube dos de Bisalhães, salvo seja. Essa riqueza apregoada aos sete ventos da juventude nunca se vê. E há quem se arrependa de ter sido levado na cantiga. Um destes dias, estava eu a falar com um professor amigo de Fafe e referi-me a alguém da sua corrente sanguínea, que eu pensava ser muito rico em bens ao luar e ele rematou a conversa com a seguinte quadra mordaz do Cancioneiro Popular:

O meu pai é muito rico.
Por morte dele herdei eu
As asas de um penico
E a copa de um chapéu.

2- Erros na tradução dos textos do Papa Francisco… e dos Evangelhos – Não é fácil respeitar o que está escrito no original de um texto e vertê-lo com o mesmo sentido para outra língua. Os italianos são mais certeiros e empregam a expressão, «traduttore, traditore» ou seja «tradutor, traidor». Recentemente, no texto de exortação apostólica, «Evangelii Gaudium» do Papa Francisco, escrito na sua língua materna, o espanhol, a palavra «violação» da mulher, foi vertida para o italiano, francês, alemão e português como «violência» da mulher, desvirtuando-lhe completamente o sentido. Mas, este fenómeno das traduções dos textos sagrados e profanos não é novo. Não é fácil interpretar um texto de alguém, isto é, para se traduzir temos que nos colocar no lugar do autor e não vertermos só as palavras duma língua para a outra. Um bom tradutor tem que ter uma grande cultura geral sobre as línguas, original e a vertida. De outra forma vale a expressão, «tradutor, traidor». Devido aos textos dos Evangelhos mal traduzidos dos originais em judaico, aramaico e grego, têm sido feitos grandes desvios aos ensinamentos de Jesus e ao espírito teológico. Com mais força da razão porque, «naquele tempo», se usava uma linguagem hiperbólica e parabólica onde as palavras e o espírito dos textos sagrados requerem maior rigor no que se traduz. Encontrei um sábio e nonagenário franciscano em que os seus sermões são lições de profunda e bem sustentada sabedoria, desde a linguística, à geografia, história e teologia. Com a minha idade nunca tal vi em fé e sabedoria sobre os textos teológicos que nos devem orientar ao longo da vida. Que pena os seus sermões ou lições não serem passados a texto escrito! Já fui tentado a pedir ao Arcebispo Primaz, Dom Jorge Ortiga, para que ficassem registados, porque um dia, pela lei natural da vida, vai morrer e perde-se aquele imenso saber. Será preciso fazer-se a tradução dos textos mais cuidados e mais próximo dos originais dos quatro Evangelhos. A autenticidade do cristianismo tem que estar em consonância com os ensinamentos de Jesus Cristo. Assim, quando se fala em más traduções de textos era bom que se analisassem os mais importantes para os cristãos, os Evangelhos.

Jorge Lage3- Maria Castanha nos jogos na Taberna – A escrita de recolha etnográfica e da memória imaterial traz, por vezes, convites originais. Fui convidado pela Associação de jogos Tradicionais da Guarda para apresentar o meu livro no Encontro Internacional de Jogos Tradicionais, sob o título «Na Taberna – Cultura e Tradição», que vão decorrer entre os dias 7, 8 e 9 de Março, em Cheiras – Pinhel. Esta iniciativa de cultura popular é organizada pela Associação de jogos Tradicionais da Guarda, Associação Terras de Santa Bárbara – Pinhel e pela Adega Cooperativa de Pinhel. A este evento juntam-se a «Associació La Tanguilla – Aranda de Duero» de Espanha e a «Aquitaine Sport Pour Tous – Bordéus» de França. Do Programa recheado consta: dia 7 – 20H00 ceia – Lagarada Tradicional no Lagar do Bogalhal e Conhecer Pinhel à noite; dia 8 (sábado) – 10H30 Mata-bicho no Forno, passeio a locais de interesse por Terras de Sta Bárbara com animação do Grupo de Concertinas do Safurdão, e jantar,15H30 Jogos Tradicionais na animação com as experiências portuguesa, espanhola e francesa e bucha (merenda), 18H00 apresentação do livro «Memórias da Maria Castanha» – Jorge Lage, 19H00 declamação de poemas «Noutros Tempos», 20H00 ceia com animação musical tradicional, 21H00 Histórias ao Serão «De avós a netos», 22H30 baile tradicional; dia 9 (domingo) – 11H00 prova de vinhos na Adega Cooperativa de Pinhel com degustação de produtos regionais de Aranda de Duero, Bordéus e Guarda, 12H30 almoço convívio seguido de «Encontro sobre o vinho e a cultura tracional». Participar nesta iniciativa de divulgação e promoção da cultura e animação populares é para mim uma honra. Organizar eventos de cultura popular em tempo de crise revelam coragem e merecem o nosso aplauso que vai para a Associação de Jogos Tradicionais da Guarda e para o seu Director, Norberto Gonçalves e as várias entidades colaborantes (contactos: ajtguarda@sapo.pt e 969704309 – 271221729).
Jorge Lage – jorgelage@portugalmail.com
   – 25FEV201

Nota do editor: O texto sobre este livro, embora já com alguns dias, trata assunto actual, daí a sua publicação.


4 - Provérbios ou ditos:

Ø  Temporã é a castanha, que por Março arreganha.
Ø  Em Março merenda o pedaço; em Abril merenda o merendil.
Quem tem boca vaia Roma (diziam os descontentes com os desmandos do Império Romano e que nós deturpamos. Hoje, em Portugal, «os aflitos vaiam os políticos).

Nota do editor: 
(Estas notas são rematadas com outro texto: “O Cristo das trincheiras”. Será publicado de forma autónoma, ainda esta
 semana).

Sem comentários:

Enviar um comentário

A viagem para junto das 72 virgens ...

Para os komentadeiros que andavam para aí a palrar, a resposta foi esta. Depois de aniquilarem os maiores comandantes do Hezbllah (organizaç...