quinta-feira, 13 de março de 2014

O Sétimo Sentido de António Fortuna

Aos moralmente mortos, para que
encontrem a humildade que lhes falta.             
                                                                         PRÓLOGO
Quando se desce ao inferno da mente, é-se forçado a descobrir quão ténue é a barreira entre a vida e a morte. Devemos, então, impressionar-nos com a morte?
Parece-me que não.
Os cobardes é que se impressionam com a morte física, sem se incomodarem com a morte moral que os ceifou. Esses, apenas se movem em um  corpo com armação de vida fátua, deambulando embrulhados em capas de mentira, não saben- do, os tristes, que o diabo tem uma capa para tapar e um chocalho para tocar, que é o mesmo que dizer: tudo se descobre neste mundo, sobretudo se se está moralmente morto.
Não, a mim não me impressiona a morte! A morte, em mim, banalizou-se e parece-me que não a temo. Venha, quando vier! Venha quando quiser! Enfrentá-la-ei, sem lhe conhecer o rosto, nem a alma. Encaro-a com a banalidade com que encaro um nascimento.
Por isso, estou vivo, são e escorreito para enfrentar as maleitas de que padece a Condição Humana. Mas, por favor, não me peçam para pactuar com ferozes hipocrisias.
Deparo-me, muitas vezes, a cogitar sobre o que os humanos entendem por hipocrisia.
Na verdade, de que se trata? Como se manifesta? Como a sentimos?
Nos dicionários, por certo, encontraríamos uma resposta crua. Mas eu rejeito-a e ignoro-a. Prefiro as respostas silenciosas e intuitivas da análise dos comportamentos dos moralmente mortos.
O nosso sexto sentido é aquele dom de que todos nos arvoramos ter mais apurado que outrem. É, por isso, uma ilusão, esse sexto sentido, não sendo, para uns, mais do que um acumular de experiências vividas e uma arma maléfica, para os moralmente mortos.
Como se pode depreender, não creio que esta visão conste dos dicionários de significados e conceitos. Esses são vulgares lugares comuns, como vulgares são os moralmente mortos, tendo como alimento de sobrevivência a hipocrisia e o encanto da serpente.
Nos usuais dicionários, não está descrita a Perfeição do Silêncio, que eu considero como um sétimo sentido, aquele que nos propicia o uso da razão analítica.
Quem muito fala, pouco acerta, diz o sábio povo que também se engana, quando se limita a explorar o sexto sentido no julgamento de algo. Ou de alguém !
Estão de tal modo deformados e atrofiados os moralmente mortos que entontecem quem está vulneravelmente próximo deles, submetendo-os ao seu pérfido sexto sentido.
Ainda que ajam silenciosos, deixam sempre o rabo de fora, sem o saberem, trazendo a nu a sua sublime estupidez. Fácil assim será aos portadores do precioso sétimo sentido suplantá-los mostrando-lhes, com um sorriso entristecido, pela intrínseca tacanhez enraivecida de que tais espécimes padecem, a via da Perfeição do Silêncio, da Perfeição do Vazio quase total do Universo, onde a matéria, de quando em vez, canta hinos de alegria, sem camuflar o silêncio.
Não é assim  a Condição Humana, nem assim sou eu, embora "Pare Escute e Olhe" e deambule de olhos abertos focados no meu interior. Não me afecta a morte. Não lhe tenho medo.
 Há mitos e ritos que suplantam a realidade terrena e expurgam a hipocrisia da vida. A hipocrisia do socialmente correcto, do sorriso fácil do diabo, inimigo de um qualquer deus. Caim frente a Abel. O Mal frente ao Bem que se interligam em nós.
 Remeto-me, então, ao silêncio. A um silêncio cantante, utópico e universal. Um silêncio unicamente meu que me afaga, que me apaga e, ao mesmo tempo, me acende a chama da vida que procuro pura, mas que sei imperfeita. Esta, fechada a sete chaves, deixa para outros, quiçá os mortos moralmente, as sete bocas que a fama tem. Bocas traiçoeiramente "puras e humildes" de um qualquer inferno em que pensam incinerar os humanos, mas onde humana e ironicamente se consomem em lume brando.
                                                     In O Sétimo Sentido    

Sem comentários:

Enviar um comentário

119º Aniversário - Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro - LISBOA

Ontem a Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro  de  LISBOA, comemorou o seu 119º Aniversário, com almoço no restaurante Caravela em Algés.