quarta-feira, 12 de março de 2014

Academia de Letras de Trás-os Montes em maré de boas notícias - Barroso da Fonte



Barroso da Fonte
Barroso da Fonte
Se a agricultura tivesse boas notícias como aquelas que nos chegam através da Academia de Letras de Trás-os-Montes, com sede em Bragança,  as populações que por ali resistem ao inverno dos tempos e ao inferno que os políticos desencadeiam e que atingem, sempre mais, os de longe e os mais submissos, por certo viveriam mais risonhos. Para aqueles que antes e depois da revolução que ocorreu há 40 anos, vivem hoje pior do que viviam nessa altura, deixo aqui a minha incondicional solidariedade. Trás-os-Montes e Alto Douro era, nessa altura e continua a ser hoje, a mais distante «Província» do Terreiro do Paço. Partindo de Lisboa que tudo encrava e nada resolve, ou resolve mal, quem ali vai ou de lá vem, chega mais depressa aos Açores ou à Madeira do que a Montalegre, a Chaves, a Bragança ou a Miranda do Douro. Há 40 anos só havia menos liberdade. Havia  mais fartura (embora menos variedade), mais trabalho, mais gosto em singrar na vida, mais esperança no futuro, muito mais respeito pelos valores sociais, mais solidariedade, muito menos corrupção e mais vontade de viver.
Escrevo esta crónica desalentado pelo charco em que nos querem afogar. A política aceita-se  em teoria. Mas  na prática apenas serve para criar inimigos, para engrossar os vadios, para fomentar a rebelião, para empobrecer os sérios, os simples, os que aceitam o mal que lhes fazem, batendo-lhes palmas, em vez de os apupar. Falando em políticos quero englobar quantos detiveram o poder central, regional e local nestes quarenta anos. Todos falam muito bem para nos adoçarem a boca. Mas, uma vez chegados ao poder, dão o dito por não dito, não hesitam em decidir o contrário do que prometeram e cuidam, em primeiro lugar, em quem andou com eles ao ombro para chegarem ao poleiro. Esta linguagem pode parecer grosseira. Mas muito mais grosseira é a lata com que esses senhores em quem acreditamos nas hora do voto, nos retiram aquilo que é nosso, de facto e de direito, porque trabalhámos para isso. Eles, ao contrário de nós, ainda não merecem esse vínculo pelo qual cobram o que recebem e o que distribuem pelos amigos. Ora os reformados, os inválidos, os velhos são, criminosamente, espoliados, por gente sem vergonha, que mente, que vigariza, que encobre quem rouba, quem maltrata, quem usa e abusa da paciência daqueles que se deixaram seduzir.
Pretendo com este intróito homenagear os poucos resistentes das aldeias do interior que foram proibidos de trabalhar as terras que herdaram ou pelas quais pagam rendas. Homenagear os desempregados à força, os estudantes que se deixaram iludir com cursos que dão estatuto, mas não enchem barriga; os emigrantes que gastaram a vida longe das terras de origem e perderam a esperança de voltar ao berço que tinha: escola, tinha farmácia, comércios, agências bancárias, finanças, correios e nada encontram hoje para sossego na velhice. Como o intróito já vai mais longe do que pretendia, vou contrapor a cultura a esse drama em que a actividade agrícola mergulhou sem remissão.
Trás-os-Montes  sempre viveu da agricultura. Mas hoje faz-se uso da cultura para demonstrar que esta boa gente, seja no que for, é sempre diferente dos pretensos donos do país que (des) governam, em nome de princípios que agradam a poucos e enganam a muitos.
Hirondino Fernandes
É evidente que essas soluções advieram de políticos locais que – felizmente - souberam ser excepção à regra. Foi o caso do Presidente da Câmara de Bragança que inspirou e investiu na obtenção de estruturas para que alguns dos seus filhos, possam desenvolver as suas apetências culturais. Graças a ele foi criada a Academia de Letras de Trás-os-Montes e Alto Douro. A ela aderiram figuras de proa, como Adriano Moreira. Nela se ocupam outros filhos do verdadeiro povo que honrando os seus progenitores, tudo fazem para contrariar desonestidades, fraudes, incompetências. São esses que demonstram, através da sua criatividade, da sua persistência, do seu saber que, longe dos holofotes, dos palcos da fama, dos oportunismos saloios, fazem das tripas coração. Fruto desse triunfalismo de que os Transmontanos dão exemplos claros, está o IX volume da Bibliografia do Distrito de Bragança que acaba de chegar, através de um desses talentos raros como Hirondino Fernandes. Deste volume direi algo proximamente. Outra boa notícia chega através da Academia de Letras de Trás-os-Montes. Quem não tiver a obra completa do Abade de Baçal que a Câmara de Bragança, há meia dúzia de anos reeditou, pode recolhe-la, online, através do endereço da  Academia: academiadeletrasosmontes@gmail.com. Um bom serviço presta esta jovem mas frutuosa instituição cultural, com sede em Bragança que fica a dever-se à grande sensibilidade do ex-Presidente da Câmara e também ao actual que já afirmou publicamente estar disponível para prosseguir essa política de apoio aos criativos. Não se esqueça, por outro lado, o Grémio Literário, com sede em Vila Real. Nesta área do saber Trás-os-Montes, mostra aos citadinos de Lisboa e Porto que, mesmo sem as televisões ao seu dispor, tem vultos da cultura e tem obras para competir.
Barroso da Fonte       



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