Barroso da Fonte |
Escrevo esta crónica desalentado
pelo charco em que nos querem afogar. A política aceita-se em teoria. Mas na prática apenas serve para criar inimigos,
para engrossar os vadios, para fomentar a rebelião, para empobrecer os sérios,
os simples, os que aceitam o mal que lhes fazem, batendo-lhes palmas, em vez de
os apupar. Falando em políticos quero englobar quantos detiveram o poder central,
regional e local nestes quarenta anos. Todos falam muito bem para nos adoçarem
a boca. Mas, uma vez chegados ao poder, dão o dito por não dito, não hesitam em
decidir o contrário do que prometeram e cuidam, em primeiro lugar, em quem
andou com eles ao ombro para chegarem ao poleiro. Esta linguagem pode parecer
grosseira. Mas muito mais grosseira é a lata com que esses senhores em quem
acreditamos nas hora do voto, nos retiram aquilo que é nosso, de facto e de
direito, porque trabalhámos para isso. Eles, ao contrário de nós, ainda não
merecem esse vínculo pelo qual cobram o que recebem e o que distribuem pelos
amigos. Ora os reformados, os inválidos, os velhos são, criminosamente,
espoliados, por gente sem vergonha, que mente, que vigariza, que encobre quem
rouba, quem maltrata, quem usa e abusa da paciência daqueles que se deixaram
seduzir.
Pretendo com este intróito
homenagear os poucos resistentes das aldeias do interior que foram proibidos de
trabalhar as terras que herdaram ou pelas quais pagam rendas. Homenagear os
desempregados à força, os estudantes que se deixaram iludir com cursos que dão
estatuto, mas não enchem barriga; os emigrantes que gastaram a vida longe das
terras de origem e perderam a esperança de voltar ao berço que tinha: escola,
tinha farmácia, comércios, agências bancárias, finanças, correios e nada
encontram hoje para sossego na velhice. Como o intróito já vai mais longe do
que pretendia, vou contrapor a cultura a esse drama em que a actividade
agrícola mergulhou sem remissão.
Trás-os-Montes sempre viveu da agricultura. Mas hoje faz-se
uso da cultura para demonstrar que esta boa gente, seja no que for, é sempre
diferente dos pretensos donos do país que (des) governam, em nome de princípios
que agradam a poucos e enganam a muitos.
Hirondino Fernandes |
É evidente que essas soluções
advieram de políticos locais que – felizmente - souberam ser excepção à regra.
Foi o caso do Presidente da Câmara de Bragança que inspirou e investiu na
obtenção de estruturas para que alguns dos seus filhos, possam desenvolver as
suas apetências culturais. Graças a ele foi criada a Academia de Letras de
Trás-os-Montes e Alto Douro. A ela aderiram figuras de proa, como Adriano
Moreira. Nela se ocupam outros filhos do verdadeiro povo que honrando os seus
progenitores, tudo fazem para contrariar desonestidades, fraudes,
incompetências. São esses que demonstram, através da sua criatividade, da sua
persistência, do seu saber que, longe dos holofotes, dos palcos da fama, dos
oportunismos saloios, fazem das tripas coração. Fruto desse triunfalismo de que
os Transmontanos dão exemplos claros, está o IX volume da Bibliografia do
Distrito de Bragança que acaba de chegar, através de um desses talentos
raros como Hirondino Fernandes. Deste volume direi algo proximamente. Outra boa
notícia chega através da Academia de Letras de Trás-os-Montes. Quem não tiver a
obra completa do Abade de Baçal que a Câmara de Bragança, há meia dúzia de anos
reeditou, pode recolhe-la, online, através do endereço da Academia: academiadeletrasosmontes@gmail.com.
Um bom serviço presta esta jovem mas frutuosa instituição cultural, com sede em
Bragança que fica a dever-se à grande sensibilidade do ex-Presidente da Câmara
e também ao actual que já afirmou publicamente estar disponível para prosseguir
essa política de apoio aos criativos. Não se esqueça, por outro lado, o Grémio
Literário, com sede em Vila Real. Nesta área do saber Trás-os-Montes, mostra
aos citadinos de Lisboa e Porto que, mesmo sem as televisões ao seu dispor, tem
vultos da cultura e tem obras para competir.
Barroso da Fonte
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