A. M. Pires Cabral continua a fazer o inventário de um mundo em retirada, desmantelado pelos homens: Trás-os-Montes.
Os cães que tive - livros - Ípsilon
António M. Pires Cabral foi sempre um activista cultural. Cultor de
vários géneros (poesia, teatro, ficção, ensaio...), é porém antes do
mais poeta. Como escreve Pedro Mexia na badana de A Gaveta do Fundo,
neste livro faz-se “o seu requiem transmontano. E se a morte ou a
finitude, sempre se abateu sobre ele — pairando, cercando-o, sendo o
solo humedecido, fértil, fantasmático onde as suas palavras germinam,
nascem e tornam a nascer, firmando um mundo muito próprio —, aqui ela
está mais viva, e adquire com maior frequência um nome próprio.
Retrata-se naquele caso singular e no seu quase, no seu fim, ou já mesmo
depois. Seja a tia Micas, uma mulher de 90 anos exorcizando
denegadamente a velhice para os trapos e que se imagina um dia no céu de
esfregona na mão, seja a Miss, cadela a quem deram esse nome por
antífrase, pois era gorda. Ou o Dick. Ou o Nalguinhas. A sorte de cada
um, chamado pelo nome, ausência concretizada, emociona mais. Não se
trata então apenas do transitório e banal curso de tudo e todos — halo
contrário, por exemplo, ao rodopio diurno e atrevido das garças rio
afora, seguindo os bagos apetecíveis de uva madura (Douro: pizzicato e chula).
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