sábado, 11 de janeiro de 2014

A Agricultura na obra de Cícero

Imagens de Fernando Guimarães na sua horta em Vila Real


Na sua obra Da Velhice, escrita em 44, dedicada ao seu grande Amigo, Tito Pompónio Ático, Cícero aborda o tema da velhice que, em seu entender,  não é para o sábio um mal, e que os homens devem  seguir o curso natural da vida. A dado passo acrescenta: “ Chego agora aos prazeres daqueles que se dedicam à agricultura, nos quais encontro deleite maravilhoso” (15.51). Estes, segundo o genial tribuno romano,  tinham, “uma conta a ajustar com a terra, a qual nunca recusa o seu poder e nunca retorna desinteressadamente o que recebeu: umas vezes menos, mas, na maior parte, muito e com juros”.
Começa por nos elucidar sobre o “mecanismo” da semente. Retida pela terra, que a abriga da luz (gradagem), aquece-a fazendo-a depois brotar “pela pressão”, transformando-a em “erva verdejante”. Cresce a pouco e pouco e ergue-se até chegar a fruto.
Desta, passa à cultura da videira (15.12). Antes, porém, reflecte sobre o poder da terra (e a beleza da criação) que transforma as sementes minúsculas em troncos e ramos grossos. A videira desenvolve-se com a ajuda do homem e, chegada a Primavera, surgem os ramos cobertos de gomos (15.53). E segue por aí fora demonstrando o espanto que a natureza lhe causa.
Da irrigação, da cava e lavra dos campos, que tornam a terra fértil demite-se. Porque já deles havia escrito em livro acerca dos trabalhos do campo. Aos quais, lembra, o sábio Hesíodo “não fez qualquer referência na sua obra sobre a agricultura” (15.54). De seguida lembra Homero e o episódio de Laertes ao suavizar o desgosto da ausência do filho, “a cultivar e a fertilizar a terra”. E remata com as riquezas dos campos: as searas, os prados, os vinhedos, as árvores, os pomares, as hortas, os pastos para o gado, as colmeias das abelhas, as flores de todas as variedades. Para Cícero, a mais bela invenção da agricultura é a técnica de enxertar.
Evoca então nomes ilustres que se dedicaram à prática da agricultura. Mânio Cúrio, depois de ter triunfado sobre os Samnitas e os Sabinos e ter vencido Pirro, passou o resto da vida a dedicar-se ao campo; os senadores viviam nos campos – Lúcio Quínico Cincinato encontrava-se a arar quando os “viatores” o notificaram para a nomeação de ditador (16.56).
Recorda então a obra de Xenofonte: Económico (17.59). Nele, a agricultura é “intensamente louvada!”. E dele consta um diálogo entre Sócrates e Critóbulo, acerca de Ciro-o-Moço, Rei dos Persas. Para se mostrar agradecido a Lisandro, o Lacedemónio, quando este o visitou em Sardes trazendo-lhe presentes dos aliados, levou-o a um parque cuidadosamente plantado. Lisandro, maravilhado, elogiou o arquitecto que planeara tal maravilha. Ciro respondeu: “mas, fui eu, eu próprio, que tudo isto plantei – são minha obra os seus alinhamentos, a sua disposição, além disso por mim foram muitas destas árvores plantadas”.

Armando Palavras

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