Imagens de Fernando Guimarães na sua horta em Vila Real |
Na sua obra Da
Velhice, escrita em 44, dedicada ao seu grande Amigo, Tito Pompónio Ático,
Cícero aborda o tema da velhice que, em seu entender, não é para o sábio um mal, e que os homens
devem seguir o curso natural da vida. A
dado passo acrescenta: “ Chego agora aos prazeres daqueles que se dedicam à
agricultura, nos quais encontro deleite maravilhoso” (15.51). Estes, segundo o
genial tribuno romano, tinham, “uma
conta a ajustar com a terra, a qual nunca recusa o seu poder e nunca retorna
desinteressadamente o que recebeu: umas vezes menos, mas, na maior parte, muito
e com juros”.
Começa por nos
elucidar sobre o “mecanismo” da semente. Retida pela terra, que a abriga da luz
(gradagem), aquece-a fazendo-a depois brotar “pela pressão”, transformando-a em
“erva verdejante”. Cresce a pouco e pouco e ergue-se até chegar a fruto.
Desta, passa à
cultura da videira (15.12). Antes, porém, reflecte sobre o poder da terra (e a
beleza da criação) que transforma as sementes minúsculas em troncos e ramos
grossos. A videira desenvolve-se com a ajuda do homem e, chegada a Primavera,
surgem os ramos cobertos de gomos (15.53). E segue por aí fora demonstrando o
espanto que a natureza lhe causa.
Da irrigação,
da cava e lavra dos campos, que tornam a terra fértil demite-se. Porque já
deles havia escrito em livro acerca dos trabalhos do campo. Aos quais, lembra,
o sábio Hesíodo “não fez qualquer referência na sua obra sobre a agricultura”
(15.54). De seguida lembra Homero e o episódio de Laertes ao suavizar o
desgosto da ausência do filho, “a cultivar e a fertilizar a terra”. E remata
com as riquezas dos campos: as searas, os prados, os vinhedos, as árvores, os
pomares, as hortas, os pastos para o gado, as colmeias das abelhas, as flores
de todas as variedades. Para Cícero, a mais bela invenção da agricultura é a
técnica de enxertar.
Evoca então
nomes ilustres que se dedicaram à prática da agricultura. Mânio Cúrio, depois de
ter triunfado sobre os Samnitas e os Sabinos e ter vencido Pirro, passou o
resto da vida a dedicar-se ao campo; os senadores viviam nos campos – Lúcio
Quínico Cincinato encontrava-se a arar quando os “viatores” o notificaram para
a nomeação de ditador (16.56).
Recorda então
a obra de Xenofonte: Económico (17.59). Nele, a agricultura é
“intensamente louvada!”. E dele consta um diálogo entre Sócrates e Critóbulo,
acerca de Ciro-o-Moço, Rei dos Persas. Para se mostrar agradecido a Lisandro, o
Lacedemónio, quando este o visitou em Sardes trazendo-lhe presentes dos
aliados, levou-o a um parque cuidadosamente plantado. Lisandro, maravilhado,
elogiou o arquitecto que planeara tal maravilha. Ciro respondeu: “mas, fui eu,
eu próprio, que tudo isto plantei – são minha obra os seus alinhamentos, a sua
disposição, além disso por mim foram muitas destas árvores plantadas”.
Armando
Palavras
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