A informática ao serviço da
Química vale Nobel
Margarida Vaz
O prémio Nobel da Química foi
hoje atribuído ao austríaco Martin Karplus, ao britânico Michael Levitt e ao
israelita Arieh Warshel pelo desenvolvimento de modelos informáticos que
permitem compreender e prever processos químicos.
Nos anos 70, os três
investigadores, todos com nacionalidade norte-americana além da sua
nacionalidade de origem, "lançaram as fundações dos poderosos programas
que hoje são usados para prever processos químicos", escreve a Real
Academia Sueca no comunicado em que anuncia os premiados.
Antes destes desenvolvimentos,
recorda a academia, os químicos criavam modelos de moléculas com bolas de
plástico e paus. Hoje, usam computadores.
"Modelos computacionais que
espelham a vida real tornaram-se cruciais para a maioria doa avanços feitos na
química atualmente", acrescenta a instituição.
Contactado em direto durante a apresentação
do prémio, o galardoado
Arieh Warshel, de 72 anos e a
trabalhar na Universidade da Califórnia do
Sul, explicou que o trabalho dos
cientistas premiados foi "desenvolver métodos que permitem ver como as
proteínas funcionam de facto".
"O que desenvolvemos foi uma
forma computacional de olhar para a proteína e perceber como faz o que
faz", acrescentou, exemplificando que esta informação pode ser utilizada
para criar medicamentos, por exemplo.
Como explica a academia, as
reações químicas ocorrem a uma enorme velocidade e numa fração de uma milésima
de segundo os eletrões saltam de um núcleo atómico para outro, pelo que é
virtualmente impossível mapear todo o processo químico recorrendo apenas ao
método experimental.
Com a ajuda dos métodos
desenvolvidos por Karplus, Levitt e Warshel, os cientistas deixam os
computadores revelarem os processos químicos, como a purificação dos fumos de
escape através dos catalisadores ou a fotossíntese numa folha verde.
O trabalho dos investigadores
agora premiados, adianta a academia, é também inovador porque permitiu unir a
física clássica de Newton à física quântica, que é fundamentalmente diferente.
Antes, os químicos tinham de
escolher usar uma ou outra. Karplus, Levitt e Warshel aproveitaram o melhor dos
dois mundos e desenvolveram métodos que usam a física clássica e a física
quântica.
"Hoje, o computador é uma
ferramenta tão importante para os químicos como o tubo de ensaio. As simulações
são tão realistas que preveem o resultado das experiências tradicionais",
escrevem os membros do júri no comunicado
O prémio tem o valor pecuniário
de oito milhões de coroas suecas (918 mil euros), a dividir pelos três
laureados.
Martin Karplus nasceu em 1930 em
Viena e é hoje investigador da Universidade de Estrasburgo, França, e da
Universidade de Harvard, nos EUA.
Michael Levitt nasceu em 1947 em
Pretória, na África do Sul e trabalha na Escola de Medicina da Universidade de
Stanford, nos EUA.
(Lusa)
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