*Artigo
de opinião de Duarte Correia – Presidente da Associação Portuguesa para o
Estudo da Dor
As experiências repetidas
de dor na infância e na adolescência repercutem-se, de forma física e
psicológica para toda a vida. Quando as queixas de dor são frequentes, pode
tratar-se de dor crónica, pelo que é importante investigar as suas causas,
avaliar corretamente a dor e iniciar precocemente o tratamento mais adequado.
Também na dor aguda, é dever dos profissionais de saúde intervir atempadamente
prevenindo o sofrimento desnecessário das crianças, e evitando que aquela se
transforme em dor crónica. O controlo da dor é um indicador da qualidade dos
serviços de saúde.
Nas crianças e
adolescentes, as principais causas de dor aguda são os acidentes, os
procedimentos invasivos e as intervenções cirúrgicas. Também pode haver dor
persistente ou prolongada decorrente da doença ou de tratamentos médicos. Mas a
dor crónica nas crianças e adolescentes é mais frequente do que se pensa, seja
associada a doenças crónicas que causam inflamação e dor, seja sem causa
aparente como as dores de costas, as dores nos membros ou as dores de barriga.
A dor nas crianças a
partir dos 3 ou 4 anos pode ser avaliada através do que as crianças dizem
(auto-relato), pois já conseguem dialogar e expressar-se verbalmente. Antes
dessa idade, ou nas crianças com dificuldades de comunicação, a avaliação da
dor é feita por observação do seu comportamento (hetero-relato). Em qualquer
dos casos, existem escalas de dor apropriadas para diferentes idades e
situações que permitem conhecer a intensidade da dor, bem como a sua
localização e características.
A prevenção e o
tratamento da dor, na maioria das situações, podem ser feitos com recurso a
medicamentos pouco dispendiosos, associados a técnicas não farmacológicas que
ajudam a controlar o medo e a ansiedade, e a melhorar a condição física.
Para as crianças e
adolescentes, não existem ainda em Portugal, ao contrário do que acontece
noutros países, unidades de dor crónica multidisciplinares que sejam centros de
referência para o tratamento da dor crónica.
Os pais devem partilhar
com os profissionais de saúde o seu conhecimento das experiências anteriores
traumatizantes e medos do seu filho, assim como os efeitos da dor na vida
diária e o comportamento da criança em ambiente familiar.
Os profissionais dispõem
de um conjunto de orientações técnicas dirigidas aos profissionais de saúde
sobre o controlo da dor em recém-nascidos, nas crianças com doença oncológica e
na realização de procedimentos invasivos, publicadas pela Direção-geral da
Saúde nos últimos dois anos.
A dor na criança é um dos
temas em debate no 4.º Congresso Interdisciplinar de Dor, promovido pela
Associação Portuguesa para o Estudo da Dor, entre os dias 17 e 19 de Outubro,
o, no Hotel Ipanema Porto, na cidade do Porto. Mais informações em www.aped-dor.com
De Jornal do Norte para Tempo Caminhado
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