quarta-feira, 5 de junho de 2013

Governador do Banco de Portugal dá nota positiva a Vítor Gaspar


 
04 Junho 2013, 18:33 por Eva Gaspar | egaspar@negocios.pt
 
Carlos Costa considera que o melhor indicador para avaliar o desempenho do ministro das Finanças é a evolução do défice primário estrutural, porque desconta parte dos impactos que não são controláveis pelo Governo. O saldo estrutural primário passou de um défice de 6% do PIB em 2010 para um excedente de 0,2% em 2012. “É um grande ajustamento”, realça o governador.
 
 
O governador do Banco de Portugal defendeu nesta terça-feira que é preciso fazer uma avaliação “neutra e justa” do ajustamento orçamental que tem sido realizado em Portugal e que a melhor medida para avaliar o desempenho do ministro das Finanças nesse processo é olhar para o comportamento do défice primário estrutural.
“Nem eu nem o Banco de Portugal temos de fazer essa avaliação, mas se tivesse de avaliar o ministro das Finanças eu estaria a olhar para o défice estrutural primário” na medida em que este desconta o efeito na despesa e na receita que decorre da variação do ciclo económico, assim como os juros da dívida acumulada. “Esta é a única forma de ser objectivo e neutro”, afirmou o governador perante a comissão parlamentar de Orçamento e Finanças.
O saldo estrutural primário passou de um défice de 6% do PIB em 2010 para um excedente de 0,2% em 2012, segundo os dados mais recentes incluidos na proposta de Orçamento Rectificativo. “Não sei se vejo sempre bem, mas a minha preocupação é ser justo e objectivo”.  “É um grande ajustamento pelos padrões dos ajustamentos conhecidos. É uma constatação de facto”, realçou o governador, ao acrescentar que se, não obstante as "condições muito adversas", este ajustamento não tivesse sido realizado Portugal teria hoje ainda mais desemprego.
Estas declarações, feitas no quadro da audição anual parlamentar do regulador, suscitaram críticas dos deputados dos partidos da oposição. Honório Novo, do PCP, acusou Carlos Costa de não ser “isento” e de querer "intervir no espaço político", acusação feita também por João Galamba, do PS, que disse ser “muito difícil não fazer uma avaliação não-partidária do documento”  de síntese apresentado pelo Banco de Portugal.
Carlos Costa refutou as críticas, frisando que o Banco de Portugal fez um levantamento objectivo do contexto que levou ao pedido de empréstimo externo e da evolução desde então. “O Governador é independente. Sou capaz de ser objectivo”, disse, assegurando que não está a intervir no debate político agora, do mesmo modo que não interveio quando acompanhou Teixeira dos Santos, o então ministro das Finanças, aquando da negociação do memorando original de entendimento com a troika.
"Quando se fizer história terei oportunidade de dizer em público o que eu escrevo em privado, que nas alturas críticas o governador esteve no sítio certo", afirmou. "Escusam de me tentar colar a qualquer posição político-partidária, que não conseguem. O que está na minha apresentação são dados factuais", acrescentou Carlos Costa.
O governador do Banco de Portugal lembrou que Portugal tem de continuar a  cumprir as metas orçamentais para impedir que a dívida pública atinja níveis insustentáveis, reiterando que isto "está para além da vontade dos decisores políticos".
“Uma dívida tão elevada como a portuguesa impõe uma trajectória muito diferente do que imporia" se o rácio da dívida sobre o Produto Interno Bruto (PIB) fosse mais baixo e isto "está para além da vontade dos decisores políticos, quaisquer que eles sejam".
"O nível que atingimos de dívida em termos de PIB é um nível que não permite grandes ilusões quanto à natureza activíssima dessa restrição em termos de política macroeconómica futura", afirmou, sublinhando que o problema "não é só o défice elevado". 
Sobre a intensidade e o ritmo do ajustamento, Carlos Costa lembrou que ambos dependem muito da “relação de poderes entre o financiador e o financiado”, frisando que, sejam eles públicos ou privados,  “os nossos credores não estão a fazer cooperação para o desenvolvimento”, pelo que a continuidade do financiamento a Portugal dependerá da avaliação que estes fizerem da capacidade de o país reembolsar a dívida.
“Temos de estar sempre atentos à nossa credibilidade. Temos de ter uma trajectória orçamental, estrutural e financeira que inspire confiança", insistiu, advertindo que Portugal "deixou de ter margem para erros na condução das finanças públicas".


 

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