jornal púbico - 14 de Dezembro XII |
Comentário
Cerca de 800 anos antes, Confúcio, um humanista racional e místico pragmático, reúne n’Os Analectos, a sabedoria dos Antigos, esclarecendo o que era vago, obscuro e incerto.
A dada altura pode ler-se:
“Só há um meio de
aumentar as rendas públicas de um reino: que sejam muitos os que produzam e
poucos os que gastam, que se trabalhe muito e que se gaste com moderação. Se
todo o povo trabalhar assim, os rendimentos serão sempre suficientes”.
Aos dezassete anos, aceita um emprego em casa do barão Ki,
é nomeado inspector-geral dos Campos, dos Celeiros e dos Rebanhos do imperador,
com plenos poderes para reformar e inovar. Melhorou a agricultura e terminou
com a miséria e indolência dos camponeses.
Aos 50 anos o príncipe de Lu entrega-lhe a administração
da cidade de Chung-tu, que, sob o seu governo, atingiu a maior prosperidade
através do regime de austeridade e ordem implantado, conquistando o amor e a
admiração do povo.
O confucionismo fundamenta-se na disciplina como
fundamento do carácter. Por isso nos informa que a população aumentará onde a
riqueza circula livremente e onde todos trabalham; que o governante deve guiar
o povo pela virtude, trazendo-o à ordem pelo exemplo, regulando-o por meio da
disciplina de carácter, para que este tenha o sentimento de honra e de
respeito; que o povo se identifica com o carácter de quem governa; que o
governante terá influência sobre o povo sem dar ordens, se fizer o que é
direito; que o príncipe deve utilizar as rendas públicas para o bem do povo
para que este se mostre submisso, mantendo-se na ordem; que o príncipe e os
magistrados promulguem leis ou decretos justos para que o povo os cumpra sem se
lhes opor por meios violentos; que a boa Administração de um Estado depende dos
ministros que são nomeados (cujos sentimentos devem ser inspirados pelo bem
público); que o governante não deve tardar em cumprir uma promessa; que o
carácter de quem governa deve ser orientado pela rectidão e pela equidade; que
o governante jamais deve perder a confiança popular; que o Estado feliz limita
o fausto, busca reduzir as penas e aumentar a educação, distribui
equitativamente a riqueza pelo povo; que em épocas de grande agitação social, o
sábio deve converter-se em estadista; que o governante para atingir os
objectivos não deve precipitar as coisas; que um governo é bom quando os
próximos estão de acordo e os que estão afastados regressam; que um Estado deve
ser governado pelos princípios da razão, para que a miséria e a pobreza causem
vergonha; que os ministros evitem a petulância, a timidez e a imprudência; que
a governação evite quatro vícios: não instruir o povo e ocultar-lhe a verdade,
não exija uma conduta perfeita dos cidadãos, sem previamente os informar das
suas obrigações, não tenha pressa em dar ordens, pretendendo que se cumpram de
imediato, e que não procure sempre o que lhe traz proveitos; que um governante,
antes de exigir qualquer coisa aos outros, deve, em primeiro lugar, fazê-lo ele
mesmo.
Confúcio ia longe quando dizia que não é a riqueza que
torna um Estado próspero, mas sim a justiça. Mas ia muito mais longe quando
defendia a justiça em termos de rectidão (e não no sentido judicial): a cada um o que lhe pertence.
Lu acabou por entrar em decadência não pelas questões
económicas, mas pelos erros políticos do seu príncipe. Por isso Confúcio se
demitiu do cargo, falecendo aos 73 anos de idade em Lu, a cidade que um dia
tinha conhecido a prosperidade.
Armando Palavras
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