Carapito - BEIRA |
Recentemente,
num amontoado de livros, deparámo-nos com um pequeno volume, com cerca de 50
páginas de autoria de Caseiro Marques[1]. É
uma edição de autor com uma tiragem de 200 exemplares (2003)[2].
Passa despercebido, mas o seu rico conteúdo traz-nos à memória coisas de mundos
passados, talvez irrecuperáveis, mas não totalmente esquecidas.
Embora
pequeno, o livro é grande no conteúdo. E merecia uma segunda edição revista e
aumentada, com qualidade gráfica digna.
O
seu autor, neste conjunto de textos escritos ao longo de duas décadas e meia,
rememora momentos extraordinários da sua aldeia beirã (Carapito), perdidos no
tempo da sua infância.
Nos
hábitos alimentares como o mata-bicho[3], o almoço, a piqueta[4],
o jantar, a merenda[5]
e a ceia[6], são descritos
costumes inacreditáveis para o citadino.
O mata-bicho, por exemplo, era uma
refeição (logo ao levantar) constituída por figos secos, chouriço, presunto,
queijo e bagaço.
Caseiro
Marques fala-nos ainda do Inverno, da
matação[7], da sementeira do centeio. Da fabricação de
estrume. Passa pelo Jogo da Pela[8]. A Primavera e o “ir aos ninhos”, são dois
momentos inesquecíveis.
Lembra
a plantação da batata, a rega, a cura da batata, a ceifa do
feno, a malha do centeio, a desfolhada, a malha do milho, a vindima,
as castanhas. Recorda os capacheiros,
os loiceiros, e termina com a Consoada.
Quem
já disto não tem memória, ou quem por isto nunca passou, leia este pequeno
livro e delicie-se com um tempo antigo e mágico.
Armando Palavras
[1] Director do jornal Noticias de Vila Real.
[2] Impresso na Minerva transmontana, Tipografia, Lda. –
Vila Real.
[3] O pequeno-almoço no espaço citadino.
[4] Era uma refeição servida apenas nos dias em que se
cortava o feno, por volta das onze horas.
[5] Era servida no Verão. E era quase um jantar, onde
apenas se não servia a sopa.
[6] Normalmente servida no Inverno, quando a noite era
longa.
[7] Matança do porco, de cuja carne consistia o sustento
principal das famílias rurais.
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