Armando Palavras |
Quando
a Paleontologia começou os seus primeiros passos, no século XIX, deu origem a
numerosas contendas científicas. E foram bastantes aqueles que se distinguiram
na descoberta de fósseis.
O
primeiro osso de dinossáurio foi encontrado nos E.U.A., em 1787, num local
chamado Woodbury Creek, em Nova Jérsia.
Despertou pouco interesse, sobretudo devido às observações de
Buffon. Na sua História Natural
descrevia que os seres vivos do Novo Mundo eram inferiores aos do Velho Mundo.
E Corneille de Pauw (holandês) em Recherches Philosophiques sur les Américains apoia as teses do francês. O que originou uma
contenda, onde o próprio presidente americano, Thomas Jefferson, nas suas Notas sobre o Estado da Virgínia,
publicou um violento ataque a tais despropositadas observações.
Mary Anning |
Georges
Cuvier, agarra na controvérsia e, em 1796, escreve um estudo fundamental onde
defende a extinção das espécies: Note on
the Species of Living and Fóssil Elephants.
Nesse
mesmo ano, um jovem inglês, William Smith, iria fornecer conclusões sobre os
fósseis que seriam as bases de descobertas futuras.
Já
nos primeiros anos do século XIX, os americanos tiveram mais oportunidades de
reclamar para si a descoberta dos dinossáurios, mas desperdiçaram-nas todas.
Por
essa altura (1812) surgiu em
Lyne Regis uma menina extraordinária (de 11, 12 ou 13 anos,
conforme o autor da narrativa). Chamava-se Mary Anning e a ela se lhe atribui
esta lengalenga: She sells seashells on
the seashore[1].
A sua breve história, fomos buscá-la a Bill Bryson em Breve história de Quase Tudo (Bertrand, 2010). Mas as fotografias
que acompanham o texto retirámo-las da internet.
Reconstituição |
Esta
descoberta foi o início de uma carreira brilhante de 35 anos a recolher fósseis
que vendia aos turistas. Também foi ela a encontrar o primeiro plesiossauro, e um dos primeiros pterodáctilos. Mary não tinha rival para
encontrar fósseis, pois não tinha apenas um jeito especial, mas, sobretudo,
porque a sua técnica de os extrair da rocha era tão delicada, que saíam sempre
perfeitos. A beleza do trabalho desta miúda, com instrumentos básicos e em
condições dificílimas, pode, hoje, ser apreciada no Museu de História Natural
de Londres. O plesiossauro,
demorou-lhe dez anos de escavação. Além da sua técnica, era ainda capaz de
elaborar desenhos e descrições perfeitas para eventuais investigadores.
Todavia, com estas capacidades, passou a maior parte da vida na pobreza. E por
essa razão, ninguém, mais que Anning, foi tão desprezado na história da Paleontoplogia. Hoje, felizmente, é lembrada
em alguns círculos.
Depois
da sua morte, a história da sua vida incomum atraiu um interesse crescente.
Charles Dickens escreveu sobre ela em 1865. Dizia: "a filha do carpinteiro
conquistou um nome por ela mesma, e mereceu conquistá-lo." Em 2010 a Royal Society incluiu
Anning numa lista das dez mulheres britânicas que mais influenciaram a história
da ciência.
Armando Palavras
National Geographic - Maio |
[1] Ela vende conchas na
praia.
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