sábado, 2 de junho de 2012

Mary Anning, uma paleontóloga de excepção



Armando Palavras
Quando a Paleontologia começou os seus primeiros passos, no século XIX, deu origem a numerosas contendas científicas. E foram bastantes aqueles que se distinguiram na descoberta de fósseis.
O primeiro osso de dinossáurio foi encontrado nos E.U.A., em 1787, num local chamado Woodbury Creek, em Nova Jérsia. Despertou pouco interesse, sobretudo devido às observações de Buffon. Na sua História Natural descrevia que os seres vivos do Novo Mundo eram inferiores aos do Velho Mundo. E Corneille de Pauw (holandês) em Recherches Philosophiques sur les Américains apoia as teses do francês. O que originou uma contenda, onde o próprio presidente americano, Thomas Jefferson, nas suas Notas sobre o Estado da Virgínia, publicou um violento ataque a tais despropositadas observações.
Mary Anning
Georges Cuvier, agarra na controvérsia e, em 1796, escreve um estudo fundamental onde defende a extinção das espécies: Note on the Species of Living and Fóssil Elephants.
Nesse mesmo ano, um jovem inglês, William Smith, iria fornecer conclusões sobre os fósseis que seriam as bases de descobertas futuras.
Já nos primeiros anos do século XIX, os americanos tiveram mais oportunidades de reclamar para si a descoberta dos dinossáurios, mas desperdiçaram-nas todas.
Por essa altura (1812) surgiu em Lyne Regis uma menina extraordinária (de 11, 12 ou 13 anos, conforme o autor da narrativa). Chamava-se Mary Anning e a ela se lhe atribui esta lengalenga: She sells seashells on the seashore[1]. A sua breve história, fomos buscá-la a Bill Bryson em Breve história de Quase Tudo (Bertrand, 2010). Mas as fotografias que acompanham o texto retirámo-las da internet.
Reconstituição
Anning que andava sempre acompanhada do seu cachorro, Tray, encontrou o fóssil de um monstro marinho, com cerca de 5,2 m de comprimento, incrustado nas perigosas falésias do canal da Mancha, hoje reconhecido como sendo o de um ictiossauro.
Esta descoberta foi o início de uma carreira brilhante de 35 anos a recolher fósseis que vendia aos turistas. Também foi ela a encontrar o primeiro plesiossauro, e um dos primeiros pterodáctilos. Mary não tinha rival para encontrar fósseis, pois não tinha apenas um jeito especial, mas, sobretudo, porque a sua técnica de os extrair da rocha era tão delicada, que saíam sempre perfeitos. A beleza do trabalho desta miúda, com instrumentos básicos e em condições dificílimas, pode, hoje, ser apreciada no Museu de História Natural de Londres. O plesiossauro, demorou-lhe dez anos de escavação. Além da sua técnica, era ainda capaz de elaborar desenhos e descrições perfeitas para eventuais investigadores. Todavia, com estas capacidades, passou a maior parte da vida na pobreza. E por essa razão, ninguém, mais que Anning, foi tão desprezado na história da Paleontoplogia. Hoje, felizmente, é lembrada em alguns círculos.
Depois da sua morte, a história da sua vida incomum atraiu um interesse crescente. Charles Dickens escreveu sobre ela em 1865. Dizia: "a filha do carpinteiro conquistou um nome por ela mesma, e mereceu conquistá-lo." Em 2010 a Royal Society incluiu Anning numa lista das dez mulheres britânicas que mais influenciaram a história da ciência.

Armando Palavras


National Geographic - Maio




[1] Ela vende conchas na praia.


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