Tempo das ceifas, ou das cegadas, tradição num concelho cerealífero por excelência. O CONCELHO DE MACEDO DE CAVALEIROS.
A nossa crónica contempla os Macedenses que festejam as
festas de São Pedro. O São Pedro em Macedo de Cavaleiros, cuja tradição deixou
de ser o que era, pelo menos neste campo das ceifas, em que o ruralismo se
confundia com e identidade cultural da época. A tradição sofreu a transformação
natural do tempo e adaptou-se às novas realidades da vida dos Macedenses.
Fonte dos Cavaleiros |
Em outro local falamos da Feira de São Pedro que se
realizou pela vigésima sexta vez (XXVI) mas como um certame económico da
Região, em boa verdade o melhor certame económico do Norte.
Dizíamos que “ a Feira de S. Pedro é uma referência que se
consolidou ao longo destes anos, tendo resistido a todas as mudanças económicas
e sociais do tempo”... Aqui, nesta feira até parece que nem há CRISE, porque a
Associação Comercial e Industrial de Macedo tem feito um óptimo trabalho, pois
enquanto algumas feiras da Região vão perdendo valências e vão ficando pelo
caminho, a FEIRA DE SÃO PEDRO SOMA E SEGUE!...
Portanto hoje não vamos falar dos duzentos expositores que
estiveram uma semana no certame, mas vamos recuar no tempo meio século, para
contar que nas ruas de Macedo, pelo São Pedro se passeavam centenas de “
camaradas de segadores”, tocando e dançando, canções populares, ora tocadas nas
concertinas, ora de cavaquinhos, guitarras e violas.
Estas “ camaradas” de segadores vinham com destino à PRAÇA
DOS SEGADORES, para ali fazerem o “ajuste de cavalheiros” entre o lavrador que
requisitava. Na “camarada” era o capataz que mandava. Os dois homens (lavrador
e capataz), quando apertavam as mãos, os segadores diziam uns para os outros:
“Já temos o negócio fechado”... Era sinal que tinham trabalho, que tinham jeira
garantida para uma semana ou mais. Depois disso o capataz tinha que arranjar
patrões para a sua “camarada”. Se esta tarefa fosse impossível a “camarada”
regressava à Praça dos Segadores para ser contratada de novo, pois era onde
apareciam os lavradores para as contratarem.
A ceifa - Peter Bruegel, o Velho, c. 1565 |
Os segadores vinham de todas as terras, nomeadamente de
Valpaços e Mirandela que não eram concelhos tão cerealíferos como Macedo. E também
porque traziam as ferramentas designadas foices ou ceitouras, MACEDO DE
CAVALEIROS FOI DESIGNADO O CONCELHO DA FOICE por alguns autores que, erradamente,
chamam “à camarada de segadores, bandos de segadores “. Embora “ bando” também
signifique grupo de segadores, no concelho sempre se falou de “camarada de
segadores”. Então é preciso respeitar as tradições: “ em cada terra seu uso e
cada roca seu fuso”.
Isto faz-me lembrar o mesmo baptismo do concelho de
Valpaços que por diferentes razões lhe colocaram o mesmo Chavão: VALPAÇOS CONCELHO
DA FOICE” e que esses autores nunca compararam, nunca contestaram, nem
evidenciaram!..
Com ideias e pensamentos diferenciados também penso, se
calhar todos pensamos que todos os segadores têm a mesma identidade e existiam
com os mesmos objectivos e para os mesmos fins!.. Esses autores dizem que os
Macedenses não se envergonhavam do “chamadouro!” Tanto não se envergonhavam que
até levantaram uma praça com o nome “PRAÇA DOS SEGADORES” onde estão
representados em bronze os lavradores e os segadores, ainda a dita rancheira que
levava o almoço e mata bicho à “camarada”, de cesto à cabeça até chegar ao
campo onde os segadores andavam a cegar...
Verão - Peter Bruegel, o Velho, c. 1568 |
Também sabemos que no dia 29 de Junho, os segadores
gostavam de ir à Feira de São Pedro a Macedo, para fazerem as serenatas “ por
entre cantigas e o pezinho de chula” nomeadamente se eram Minhotos; ou entre o Fado à desgarrada, ou o fado em disputa,
se eram Nordestinos, Valpacenses, ou Mirandelenses, etc…
Esta Praça dos Segadores, em Macedo de Cavaleiros, é também
para homenagear a memória destes homens que por aqui passaram, trazendo consigo
o desesperado princípio de viver, ganhar o pão de cada dia para matar a fome
aos filhos, coisas que esta juventude, estas gerações não entendem. Às vezes
até pensam que é filme... Mas foram tempos passados e vividos... Por isso não
deixaremos esquecer as nossas tradições, para mantermos vivas a nossa
identidade e as nossas raízes...
in: Trás-os-Montes e Alto Douro, Mosaico de Ciência e Cultura (2011)
O Autor
Manuel António Pires Brás, Nasceu em Murçós, em 5 de Janeiro de
1948. Cumpriu serviço militar no Porto, Lisboa e em Bragança e foi neste
período obrigatório do serviço militar (cerca de 4 anos) que realizou os seus
estudos, tendo concluído o 7º Ano dos Liceus. Em 1974 foi trabalhar e estudar
para o colégio Nossa Senhora da Saúde em Chaves. Em 1975 ingressou no quadro da
PSP (Policia de Segurança Pública) em Lisboa, e no mesmo ano, interrompeu o
curso de Sargentos para ingressar no curso do Magistério Primário em Bragança,
concluindo o curso de Professor Primário, na Escola do Magistério Primário de
Chaves, no ano de 1976. Colaborou com vários jornais: Força do Povo, O
Retornado, Jornal da Madeira, Jornal Alto Tâmega, Noticias de Chaves e
Mensageiro de Bragança. Actualmente é proprietário e Director do jornal
Negócios de Valpaços. Em 2002/2003 adquire a Licenciatura em “Animação Sócio —
Cultural” na Escola Superior de
Educação, Instituto Jean Piaget. Em 2004 publicou a sua primeira obra :
“Santuário do Castanheiro”. Foi editor de mais duas obras e co-autor do livro “
O Menino e o Rio” por o seu autor, Júlio Maltez, ter falecido e lhe ter deixado
“ O Menino nos braços”. Tem, neste momento, dois livros para publicação. Um
deles de crítica social ao Burgo Transmontano” Chama-se “Crónicas Nordestinas”,
o outro para brevemente, é um romance intitulado “ O Sonho De Laura”. Continua
a dedicar-se à Agricultura
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