I


Nem de propósito, o juiz jubilado do Tribunal de Contas, Carlos
Moreno, que recentemente lançou um livro onde demonstra onde o Estado nos
leva o dinheiro (que pouca gente leu), Sexta-feira (25), foi ouvido na Comissão
de Inquérito Parlamentar às Parcerias Público – Privadas. Fez a mesma denúncia.
Disse: “Ninguém pode pôr as mãos no fogo pelo verdadeiro valor dos encargos com
as PPP”. E, segundo os valores oficiais que existiam quando abandonou o seu
cargo em 2010, os encargos brutos situavam-se nos 48 mil milhões (pasme-se!) para o período de 2014 a 2024, equivalendo a
um custo de 1,6 mil milhões de euros ao
ano (continue-se a pasmar). Denuncia os parlamentares (deputados) por nunca
ter sido chamado para explicar o facto. As razões do descalabro são muitas:
“Sobrestimativa dos benefícios”, “ausência de comparação” com a realização da
obra feita pelo Estado, “falta de transparência e responsabilização”, “défice
na capacidade de gestão e de fiscalização”, entre outras. Demonstrou o juiz, a
existência, em alguns contratos, de “benefícios-sombra” para os parceiros
privados. E deu como exemplo os casos da Lusoponte e das antigas Scut.
Vantagens que potenciavam a “rentabilidade do concessionário sem que o Estado nada aproveitasse”.
Mesmo “os pagamentos dos parceiros privados aos consultores que os apoiavam recaíam sobre o parceiro público [Estado] - Isto já é assombro, ultrapassa o pasmo! - .


Fizeram-se várias perguntas ao
juiz Carlos Moreno e todas terminavam com a pergunta sobre se os governos de José
Sócrates eram responsáveis por esses desvios.
Comentário:
Para um país que está na bancarrota, em grande parte provocada
por este tipo de coisas, a imprensa seria mais útil ao País que deixasse as
guerras de “Alecrim e Manjerona”, e investigasse a fundo as questões que
levantou Domingos Ferreira, o juiz Carlos Moreno e o fiscalista Tiago Caiado Guerreiro. Investigá-las a
fundo, e contribuir para o julgamento justo dos prevaricadores, como se fez na Islândia.
II

Dizia: “Temos normas que tornam
totalmente impossível apanhar um corrupto em Portugal. As normas
são feitas exactamente para não ser possível apanhar as pessoas em situação de
corrupção e não se conseguir provar em tribunal. Estes
casos todos, que estão em tribunal, não vão dar em nada, mesmo que eles fossem
filmados no acto de corrupção, seria difícil provar em tribunal com as normas
que temos, quanto mais com advogados competentes (do lado dos corruptos).
Por outro lado, temos o
Ministério Público que está organizado, (e que sem culpa disso), para não
conseguir investigar a corrupção. Também a polícia judiciária não tem meios
para investigar a corrupção.
Se juntarmos a isto, tribunais
pouco treinados e normas que não funcionam, então isto é o paraíso dos
corruptos.
Aliás, todos nós conhecemos
casos, ao longo do país todo, de fortunas inexplicáveis que continuam
inexplicáveis e que apareceram de repente, após o exercício de cargos políticos
ou em ligação com o Poder.
… Agora, um conjunto enorme de
medidas em vez de normas claras e transparentes sobre o que é que é a
corrupção, e isto não é difícil de fazer, bastando para tal copiar o que
existe, por exemplo, nos cinco países menos corruptos do mundo, são normas que
são muito transparentes, são normas que, ao contrário do que aqui está
previsto, não se aplicam a toda a população portuguesa. Aplicam-se só a
detentores de cargos políticos, por isso são muito mais focadas naqueles que
têm o risco de praticar a corrupção e permite, por isso, um enfoque muito mais
fácil da polícia judiciária, do ministério público, dos tribunais e dos outros
órgãos de fiscalização.
… Todos nós sabemos que muita
gente sai dos cargos públicos, políticos, e depois vai para a frente de grandes
empresas e alguns deles criam grandes fortunas, quer dizer, tudo coisas que são
inexplicáveis e inaceitáveis em sociedades civilizadas, excepto neste país,
onde se pode bater sempre no contribuinte mas tratamos maravilhosamente bem os
corruptos…
Eu espero que isto não seja mais
uma vez o que tem sido feito, que sempre que eles alteram as normas de
corrupção, tornam-nas mais incompreensíveis e mais impossíveis de aplicar pelos
tribunais e pela investigação.
… Nós não temos um combate à
corrupção. Temos normas de branqueamento, que é uma coisa diferente. Temos
normas que permitem aos corruptos saírem de um julgamento todos praticamente
ilibados...
Há casos que eu acho terríveis:
as parcerias público-privadas e o BPN[1] são
de certeza casos de polícia, são dois casos paradigmáticos em Portugal”.

http://www.youtube.com/watch_popup?v=RNr1eOhA4qE
III
IV


Marx, considera Mandeville um
“homem honesto e dotado de uma inteligência clara”, mas entende que este não
compreende o processo de acumulação. Este aumenta ao mesmo tempo que o capital
e “a massa dos pobres laboriosos”.
Nestes momentos, Marx é astuto.
Cita agora Adam Smith (Riqueza das Nações):
“ O espírito da maior parte dos homens desenvolve-se necessariamente a partir
das e pelas suas ocupações de cada dia. Um homem que passa toda a vida a
desempenhar algumas operações simples … não tem oportunidade de exercer a
inteligência…” (p. 330), tornando-se um ser estúpido.
Não podemos, contudo, deixar de
mencionar uma autêntica pérola. Proferida por Bertrand de Mandeville, citada
pelo velho Marx: “ Se de vez em quando um indivíduo, à força de trabalho e de
privações, se eleva acima da sua situação em que foi criado, ninguém o deve
impedir” (p. 422)[2].
E poderíamos ir por aí fora, ora
citando os que Marx cita, ora citando Eça, Junqueiro, Fialho, … e porque não
outro marxista, Berolt Brechet e a sua peça teatral, A Ópera dos Três Vinténs!
V


Não tivessem relações e meios de
manter o nível de vida, teriam sido completamente trucidados. Apesar de tudo,
danificou-lhes brutalmente parte da alma!
Não tiveram a mesma sorte outro
tipo de profissionais. Foram brutalmente trucidados. Destrui-lhes o talento. E
a vida, roubando-lhes a dignidade pessoal e profissional. Mantiveram resquícios
da alma intacta. E estes é que os mantêm atentos às alarvarias (ou alarvices)
que persistem do consulado desse ignaro “político”.
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