Há
livros que, pela natureza do seu autor, ou por aquilo que encerram, marcam uma
comunidade e uma época. Foi o caso deste e do seu autor – William Hawley Smith (1845
– 1922).
William Hawley Smith |
Sobre
Hawley Smith diz-nos Elbert Hubbard (acerca da sua fisionomia) em Sobre livros e anúncios: “Há um homem
chamado William Hawley Smith que poderia representar Cyrano de Bergerac[1] sem
um apêndice artificial, mas que possui um coração tão grande e generoso que, em
comparação, o nariz parece uma coisa insignificante. Além disso, ele é capaz de
lutar e compor uma balada ao mesmo tempo”. E acrescenta:” Hawley Smith tem
analisado a questão da educação tão meticulosamente como Jean Jacques Rousseau,
aplicando as premissas muito melhor …”. Termina o seu elogio desta forma:
“…Hawley Smith escreveu um livro que vendeu mais de cem mil exemplares e deu um
contributo maior para o desenvolvimento da educação na América por linhas de bom senso[2] do que qualquer
coisa que Pestalozzi[3]
alguma vez publicou. Esse pequeno livro tem sido uma verdadeira alavanca do
mundo – não vou dizer o título, pois quem não o conhece é digno de compaixão,
mas o autor jamais ganhou um único dólar das vendas. Quando ele o escreveu,
editores desdenharam, outros escarneceram, houve até um que o aceitou como
presente e disse ao autor que podia ir contemplá-lo na montra sempre que
desejasse”.
O
livro a que Hubbard se refere foi publicado pela primeira vez em 1884. Quarenta
e nove anos depois Da Democracia na
América de Alexis de Tocqueville, e 25 anos depois Da Liberdade de John Stuart Mill.
Nenhum pedagogo moderno refere o seu nome e os seus livros.
No
último capítulo deste livro, o XXIV, por sinal o mais curto, diz-nos Hawley
Smith que “Dodd” vive numa casa confortável dos subúrbios de Nova York, com a
sua fiel e dedicada esposa, e um filho. Olha para o caminho percorrido com
gratidão e espera saber conduzir o seu filho pela estrada da vida, apontando-lhe
as armadilhas por ele ultrapassadas graças ao seu professor, Mr. Bright, que o
salvou da destruição total na caminhada da vida, ajudando-o a fortalecer o carácter.
Ao
rebanho colectivo contrapõe-se a alma individual, contrária ao igualitarismo
primário (ou básico /bacoco) que priva o Homem de carácter e de
liberdade/responsabilidade.
Este
livro foi escrito numa época diferente da nossa. E como tal, só assim deve ser
entendido. Numa época em que a América era influenciada pelo filósofo Emerson.
Armando Palavras
[1]Cyrano
de Bergerac é uma peça de teatro escrita em 1897 por Edmond Rostand, baseada na
vida de Hector Savinien de Cyrano de Bergerac, escritor francês.
[2] O sublinhado (negrito) é
nosso.
[3] Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) é um
dos muitos pedagogos da chamada escola
romântica, cujo mestre foi Rousseau. A ela pertenceram Friedrich Froebel
(1782-1852), Maria Montessori (1870-1952). E, em muitos aspectos, John Dewey.
Sem terem, julgamos, consciência do potencial de autoritarismo (ou tirania)
colectivista que as noções que defendiam encerravam, por abraçarem formas de igualitarismo que conduzem ao relativismo.
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