sábado, 31 de março de 2012

Panchito Barría, o menino da Patagónia que morreu de tristeza



Antes de fazer três anos, Panchito Barría teve uma poliomielite que o deixou inválido. Os pais, pescadores de San Gregório, na Patagónia, todos os verões atravessavam o estreito de Magalhães para se instalarem em Angostura, uma pequena calheta de pescadores, constituída por uma dúzia de casas, apenas habitadas durante o curto verão austral, situada a norte de Manantiales, povoado petrolífero da Terra de Fogo.
O menino acompanhava-os, sem falar, sempre triste até aos cinco anos. Um dia, porém, o milagre aconteceu. Daqueles que acontecem no “sul do mundo”, como nos diz Luís Sepúlveda em Patagónia Express (Asa, 2008), a quem fomos buscar esta história milagrosa, comovente e trágica, descrita em duas páginas.
Duas dezenas de golfinhos apareceram ao largo de Angostura, deslocando-se do Atlântico para o Pacífico.
Panchito soltou um grito dilacerante assim que os viu. E á medida que os golfinhos se afastavam os seus gritos eram mais volumosos. Quando desapareceram soltou um grito agudo, assustando os pescadores e espantando os cormorões, mas fazendo regressar um dos golfinhos.
O golfinho aproximou-se da costa aos saltos. E entre ele e o menino estabeleceu-se uma ponte de comunicação. “Acontecera porque a vida é assim”, diz-nos o escritor.
Durante todo aquele Verão, o golfinho permaneceu diante de Angostura, até que o Inverno o obrigou a outras paragens. O menino, porém, diria aos pescadores e aos seus pais que o cetáceo teve de partir para não ser apanhado pelo gelo, e disse-o sem manifestar pena alguma, porque, afirmava, no ano seguinte regressaria. E regressou. Panchito tornou-se um menino igual aos outros, alegre, participativo, aprendeu a ler e a escrever, a desenhar o seu amigo golfinho. Esta amizade durou seis verões.
Certa manhã, no verão de 1990, o golfinho faltou ao encontro, os pescadores alarmados correram o fim do mundo para o encontrar. Não o encontraram, mas depararam com um barco-fábrica russo, um dos "muitos assassinos do mar", navegando muito perto de Angostura.
Panchito Barría morria dois meses depois, de tristeza. “Extinguiu-se sem chorar, sem balbuciar uma queixa”.
Sepúlveda visitou o seu túmulo, uma pequena sepultura isolada, pintada de branco, virada para o mar. O mar onde tantas vezes o pequeno Panchito brincara com o seu Amigo!

Armando Palavras

1 comentário:

  1. Mais um deslumbrante livro do qual fiquei agora com água na boca e espero ler. Muito obrigado pela breve e maravilhosa crónica.

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